Thomaz Pires*
Aclamado nos braços do povo, José Sarney tomou posse como governador recém-eleito pelo estado do Maranhão em 1966. Nascia naquele instante um oligarca brasileiro, ligado na ocasião à antiga União Democrática Nacional (UDN). Era o primeiro passo de muitos outros na vida pública. O momento é documentado com preciosismo no curta-metragem Maranhão 66, dirigido pelo cineasta Glauber Rocha, que retrata a posse e o surgimento do cacique maranhense na política.
Passados mais de 40 anos, o nome Sarney ainda inspira os amantes do vídeo. Uma produção amadora humorística e crítica ao presidente do Senado tenta imaginar como seria uma eventual renúncia do político. O vídeo foi publicado no site Youtube na última quarta-feira (1º). Trata-se de uma nova paródia sobre o filme A queda, as últimas horas de Hitler, em que as legendas foram colocadas na intenção de comparar Sarney com o ditador alemão da Segunda Guerra Mundial. Assista abaixo Fora, Sarney – queda do bigodão:
Soluções
Em Maranhão 66, em tom solene, o jovem Sarney garantia soluções para as mazelas do estado. Os compromissos com a justiça social e ética na política ganharam força no palanque diante de uma multidão, embalada pelo ritmo dos trombones e as promessas inflamadas. “O Maranhão não quer a desonestidade no governo e a corrupção nas repartições … nem a coletoria como uma caixa privada para angariar dízimos”, disparava.
O documentário não é apenas um retrato da posse de Sarney no primeiro mandato como governador. Ele marca, sobretudo, o pontapé inicial da hegemonia da família Sarney no Maranhão e no cenário político. A tradição seria comprometida apenas em 1º de janeiro de 2007, quando o pedetista Jackson Lago assumiu o Palácio dos Leões, em São Luís.
Passados 43 anos da posse de Sarney, o político ainda sobrevive no cenário, embora com a imagem desgastada. Pressionado para afastar-se da presidência do Senado, o político passou a despertar hostilidade entre os pares no plenário. As denúncias de benefícios concedidos, por meio de atos secretos, a parentes e afilhados políticos para a criação de cargos, nomeações e aumentos salariais na Casa causaram abalo considerável no currículo do peemedebista.
Mesmo pressionado, Sarney continua no tabuleiro político. Confirmam a tese o respaldo do presidente Lula e da pré-candidata ao Planalto, a ministra Dilma Rousseff, diante das denúncias. Até os últimos dias, o afastamento da presidência do Senado era encarado para muitos como uma questão de tempo. No entanto, a blindagem da Presidência da República surtiu efeito. O cacique peemedebista mostrou que continua influente e, ao que tudo indica, longe de se ausentar, mesmo que temporariamente, da cadeira de presidente.
O curta foi Maranhão 66 encomendado pelo próprio Sarney a Glauber Rocha. O jovem governador teve o cuidado de ajudar na elaboração do roteiro. No entanto, o resultado final não agradou. Por pouco não foi censurado. A idéia inicial era fazer um documentário longa-metragem. Mas a ousadia de Glauber Rocha, que sincronizou imagens misturadas ao discurso, acabou reduzida a onze minutos.
Paródia revisitada
O vídeo Fora, Sarney – a queda do bigodão foi publicado às 16h de quarta-feira (1º) no site Youtube por um usuário chamado Beni Muniz, que afirma ser um brasileiro de 40 anos. Ele parodiou o filme A queda, as últimas horas de Hitler, de 2004, do diretor Oliver Hirschbiegel, no qual ditador alemão Adolf Hitler é interpretado pelo ator Bruno Ganz.
Além de comparar Sarney com o próprio ditador, as imagens não poupam o ex-diretor-geral Agaciel Maia. Ele foi indicado por Sarney em 1995 para um dos maiores cargos do Senado. O vídeo ainda se recorda de Mônica Veloso, pivô do escândalo que derrubou Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência da Casa em 2007.
Apesar de engraçado, o que Beni Muniz fez não é nenhuma novidade. A queda já foi usado para fazer humor com escândalos políticos. No início de 2008, quando foi criada a CPI dos Cartões Corporativos, foi ao ar uma versão de quatro minutos. Naquele vídeo, Hitler era o presidente Lula, encrencado em como fazer para abafar a descoberta de gastos supostamente irregulares. Confira abaixo o vídeo humorísico Lula e os cartões corporativos federais:
*Colaborou Eduardo Militão
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