Nesta entrevista ao Congresso em Foco, concedida minutos após o ato de filiação de Marina Silva ao PSB, em Brasília, Ricardo Young defendeu a aliança com o governador Eduardo Campos, mas fez ressalvas. Criticou o “namoro” de seu atual partido com o ex-governador José Serra (PSDB) – o que, segundo ele, deixou Marina insegura – e acusou o PT e o PMDB de estarem por trás do “boicote” dos cartórios que resultou no indeferimento do registro da Rede.
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Empresário bem-sucedido, Young foi presidente do Instituto Ethos e da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Sua família é proprietária da Escola de Idiomas Yazigi Internexus. Em 2010, concorreu pela primeira vez a um cargo eletivo. Com mais de 4 milhões de votos, foi o quarto mais votado na disputa ao Senado. Elegeu-se vereador em 2012, com 42 mil votos.
Congresso em Foco – O senhor participou das reuniões que decidiram pela aliança da Rede com o PSB. Em que momento vocês decidiram que este era o melhor caminho?
Ricardo Young – Essa decisão é de rebeldia em relação ao que ocorreu. Tentou-se calar a Rede e a Marina. As forças que ela representa estão na sociedade e são uma ameaça ao status-quo. A oportunidade de trazer essa agenda da Rede para dentro do PSB, e o PSB criar estruturas e condições para que esse projeto se viabilize, é sem dúvida alguma o melhor passo a ser dado nas atuais circunstâncias. Uma candidatura avulsa de Marina em outro partido corria o risco de cair no casuísmo e expor ainda mais ela e a Rede. Dessa forma, amplia-se o campo político, reforça-se tanto a liderança da Marina quanto a do Eduardo na construção de um caminho novo. Mas não vamos ser ingênuos. Tem muitas questões para resolver. O próprio PSB tem estruturas nos estados que nem sempre estão dispostas a colocar essa visão que foi posta aqui. Essa é uma responsabilidade que o PSB tem.
Quem tentou calar a Rede, como o senhor disse?
Isso ficou muito evidente. Quando você pega o mapa das assinaturas e os partidos que estão nas prefeituras, há correlação de rejeição com os partidos que se sentiam ameaçados pela Rede, PT e PMDB, sobretudo. Recebemos várias denúncias. Há realmente por parte do governo um aparelhamento extraordinário da sociedade. Temos obrigação, como uma das forças políticas que estão emergindo, de fazer o maior esforço para convergir com outras forças para mudar esse quadro. Estamos também aguardando que o PPS avalie essa proposta e nos apoie.
O senhor é do PPS. Por que não vingou essa aliança?
Também participei do encontro com o PPS. O Roberto Freire gostaria que a Marina se filiasse ao PPS e fizesse essa mesma coalizão programática em torno dos dois partidos. Se alguma coisa desse errado, haveria independência. Mas, ao mesmo tempo, Marina teve experiência semelhante com o PV. O PPS acabou demorando muito para se posicionar. Só na reta final o partido se abriu. Namorou muito o Serra, apostou muito na fusão com o PMN. A Marina ficou insegura. Eu espero ver o PPS e Marina ainda juntos. Eu sou da Rede dentro do PPS. Sou a primeira experiência de candidatura avulsa. Trabalho para que as teses da Rede se disseminem dentro do PPS. Não vou sair do PPS. Só vou sair do PPS para a Rede.
O senhor falou há pouco que será difícil a convivência com setores conservadores do PSB. O que fazer para que isso não contamine essa aliança?
A Rede representa, talvez, a melhor expressão do que a gente chama de nova política. No PSB, tem muitos redutos da política patrimonialista. Essa é uma ótima oportunidade de limpar isso. Vamos ver a união dessas forças, agindo sempre com muito cuidado.
Vai chegar um momento em que o PSB terá de decidir se Marina ou Eduardo será candidato a presidente e vice? Ou isso já está definido?
Vai, sim. Mas no momento certo, no ano que vem. Esses dois nomes ampliam muito o potencial de que prospere essa coalizão para o segundo turno. Ganha todo mundo com isso.
Numa autocrítica, que erros a Rede cometeu ao longo do processo de criação do partido?
Cometemos o equívoco de subestimarmos os cartórios. Nós superestimamos o Ministério Público, achando que teríamos problema com o MP, mas não tivemos. O problema foram os cartórios. Conseguimos cumprir os prazos mesmo tendo começado tarde a coleta das assinaturas. Conseguimos uma qualidade de coleta de assinaturas muito boa. Nós mesmos organizamos as listas para facilitar o trabalho dos cartórios. Houve um boicote. Deveríamos ter começado em outubro do ano passado, logo após as eleições, e não este ano. Acreditamos que de três a quatro meses sairá o registro do partido.
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