O presidente Michel Temer (MDB) já comunica a aliados que tentará a reeleição nas eleições gerais de outubro. A decisão contraria o que o próprio emedebista disse a aliados quando assumiu o governo, em 2016, na iminência do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT): em troca de apoio político e diante de uma base de sustentação instável, comprometeu-se a não disputar a corrida presidencial, abrindo espaço para postulantes de PSDB e DEM, por exemplo.
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Para o emedebista, alvo de dois inquéritos ativos e dois momentaneamente barrados pela Câmara, não há alguém melhor do que ele mesmo que possa defender o que considera como legado, além da própria honra. Nesse sentido, buscará estratégias para emplacar no eleitorado a tese de que tirou a economia do fundo do poço e, além disso, aproveitará os últimos meses de mandato para avançar em medidas consideradas positivas, na esteira da polêmica intervenção federal que decretou na segurança pública do Rio de Janeiro.
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Alvo da Operação Lava Jato, o presidente enfrentará, além das denúncias de corrupção e do crescente desgaste no Supremo Tribunal Federal (STF), o obstáculo da grande rejeição ao seu governo. Desde que assumiu, os que desaprovam sua gestão sempre somaram mais de 90% em pesquisas de opinião – no momento mais agudo dessa rejeição, chegou a ter apenas 3% de aprovação, segundo alguns institutos. Na mais recente levantamento do Ibope, o percentual adverso ainda é baixíssimo, embora tenha aumentado (6%).
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Apesar do cenário negativo na Justiça – algo compartilhado com seus aliados mais próximos e boa parte da classe política, não importa o partido –, a ideia de Temer é defender não só seu legado, mas a própria honra. Constitucionalista com obras elogiadas no circuito jurídico, o presidente se diz injustiçado de acusações graves que sofreu, principalmente aquelas relativas às gravações clandestinas de Joesley Batista, e decidiu não esperar que aliados o defendam publicamente – em ano eleitoral, iniciativa que costuma cobrar um preço caro.
“Em vez de ficar sentado no Planalto, vendo seu café ser servido cada vez mais frio e apanhando dos adversários (e de aliados), Temer vai assumir sua própria defesa pública. E se colar, colou”, diz trecho de nota veiculada pelo site BR18 e assinada por Marcelo de Moraes, que adiantou os bastidores sobre a decisão de Temer.
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Em sua versão online, o jornal O Estado de S.Paulo lembra que Temer não se submeterá à pressão do calendário eleitoral, uma vez que não precisará deixar o cargo no prazo de desincompatibilização de cargos imposto para postulantes a mandatos eletivos (até abril, a seis meses do pleito). Caso do possível adversário do presidente na corrida presidencial, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, filiado ao PSD e identificado como nome de centro direita, posição político-ideológica que agrada ao mercado.
“Este [Meirelles] precisa, obrigatoriamente, deixar a pasta nos próximos dias se quiser concorrer ao Planalto. Por isso, Temer não tem pressa – pode decidir até julho – e vai esticar ao máximo o anúncio oficial de sua candidatura. Com isso, evita também a politização de todas as futuras ações de seu governo”, diz o texto publicado por Marcelo de Moraes também no jornal paulista.
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