O corte vai atingir os servidores que recebem acima do teto constitucional, hoje fixado em R$ 28 mil por mês. Como mostraram o site e a Revista Congresso em Foco, em 2011, os salários no Senado chegavam a ultrapassar os R$ 55 mil mensais. Em 2009, havia rendimentos de até R$ 45 mil por mês, época em que o teto salarial era de R$ 24,5 mil.
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A auditoria do tribunal, feita em agosto de 2009, mas julgada somente hoje, identificou 464 funcionários com rendimentos acima do teto salarial. Somadas outras irregularidades na folha de pagamentos, os prejuízos apurados à época eram de R$ 157 milhões por ano ou R$ 788 milhões em cinco anos – valor que agora terá que ser todo devolvido.
Carreiro x Walton
No mês passado, o TCU determinou o corte nos supersalários da Câmara em 60 dias, seguindo o voto do ministro relator, Raimundo Carreiro. Ele não aceitou a devolução do dinheiro pago a mais, que chega a R$ 2,5 bilhões em cinco anos. Na ocasião, perdeu a disputa o revisor do processo, o ministro Walton Alencar. Hoje, a situação se inverteu.
A tese de Walton saiu vitoriosa por quatro votos a dois, graças à mudança de posição de alguns ministros e à presença de outros que não estavam no julgamento anterior, como o ministro Marcos Bemquerer Costa. Benjamin Zymler, Bemquerer e Augusto Shermman, apoiaram a proposta de exigir a devolução do dinheiro pago a mais. Carreiro e Valmir Campelo foram contra. O procurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Furtado, também é contra a devolução. José Jorge se declarou impedido e Nardes, como presidente, não votou. José Múcio e Ana Arraes não estavam presentes.
Amanhã, o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes, irá levar a decisão ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele disse acreditar que o Senado e a Câmara vão cumprir a decisão e cortar os supersalários.
A lista abaixo, revelada pelo Congresso em Foco há dois anos, mostra o nome e o salário dos donos dos 464 megacontracheques da auditoria julgada hoje. O prejuízo apurado só em relação a eles é de R$ 200 milhões em cinco anos, informou o presidente do TCU. Além deles, os funcionários que se beneficiaram de outras oito irregularidades mostradas pela auditoria também terão que devolver os valores recebidos a mais, segundo Nardes.
LISTA: os servidores e seus supersalários
Este ano, uma outra auditoria do TCU identificou 3.390 funcionários de 299 órgãos federais do Executivo, Legislativo e Judiciário com rendimentos extra-teto. Destes, 90% estavam no Senado ou na Câmara. As administrações do Congresso usam o artifício de desconsiderar o valor dos cargos comissionados na hora de cortar os salários que ultrapassam os R$ 28 mil por mês. São os únicos órgãos com essa prática, autorizada por normas criadas pelas próprias Casas Legislativas.
“Absurdo” e “carga”
Walton Alencar chegou a pedir que a devolução fosse dos últimos nove anos, entre 2004 e 2013, mas acabou convencido por Zymler a mudar a proposta. Ele disse ser “absurdo” um funcionário receber mais que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em plena democracia. “É uma questão de se opor ao patrimonialismo em todo território nacional”. Carreiro, ex-funcionário do Senado, disse que nunca se exigiu devolução de salários recebidos de “boa fé” por servidores. “Por que essa carga em cima dos servidores do Senado e da Câmara?”, questionou ele.
Nardes disse que a decisão se enquadra nos novos tempos do Brasil, e das exigências da população manifestas nos protestos de junho. “Ficou clara a questão fundamental que é acabar com os supersalários”, disse Nardes à imprensa, ao final da sessão.
Oito problemas
Além dos supersalários, o relatório de auditoria 629/09 da Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip) do TCU identificou mais oito problemas na folha de pagamentos do Senado. Dentre elas, o pagamento de horas extras até durante as férias dos funcionários. Também recebiam o benefício ainda que não tivessem cumprido a jornada além das tradicionais oito horas por dia ou durante o recesso parlamentar.
Outras irregularidades envolviam pagamentos ilegais de gratificações, incorporações, reajustes salariais, aposentadorias e pensões, além da ausência de descontos por planos de previdência, do cumprimento de jornadas inferiores à exigida e da acumulação de cargos públicos.
Atos secretos
A auditoria foi feita a pedido do então presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) e do Ministério Público Federal após a revelação dos atos secretos da Casa. Era um conjunto de normas não publicadas nos boletins internos do Senado que concediam aumentos e faziam nomeações de apadrinhados dos senadores e de altos funcionários da Casa.
Com base nela, próprio Ministério Públicou ajuizou três ações contra o Senado, a Câmara e a União, pelo pagamento de supersalários. O juiz Alaôr Piacini, da 9ª Vara Federal, determinou liminarmente o corte nos pagamentos ilegais. Apenas o Senado e a Câmara recorreram e conseguiram suspender a decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. O caso ainda está sendo julgado pela 9ª Vara.
A assessoria do Senado não prestou esclarecimentos ao Congresso em Foco até o fechamento deste texto.
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