Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) despertou revolta nos tucanos que defendem a manutenção da aliança do partido com o governo Michel Temer. Admitindo ser o principal responsável pela propaganda partidária que condena, em vídeo de dez minutos, o “presidencialismo de cooptação” em curso no país, Tasso não só diz que a autocrítica é “necessária”, como reitera seu conteúdo e não se arrepende de tê-lo levado a público. O material, veiculado ontem (quinta, 17) em cadeia nacional de rádio e TV, intensificou o racha tucano, como este site mostrou mais cedo.
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“Eu não me arrependo de nada, tenho responsabilidade total pelo programa. Eu sou presidente interino [do PSDB] e, enquanto for presidente interino, dou orientação”, afirmou o senador, que cumpriu agenda nesta sexta-feira (18) com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) – um defensores da aliança com Temer e, embora não admita publicamente, presidenciável da legenda.
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Presidente do PSDB desde meados de maio, Tasso substitui no comando da legenda outro tucano influente e presidenciável como Doria, embora alvejado por investigações e delações da Operação Lava Jato. Com pedido pendente de prisão desde que foi denunciado por executivos do Grupo JBS, Aécio Neves (MG) também defende a permanência do partido na base aliada e, nos bastidores, atua para viabilizar a pauta reformista de Temer no Congresso. Mas, com a anuência de caciques tucanos como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), ainda com forte influência entre os correligionários, Tasso classifica a crítica ao governo e a autocrítica do PSDB como necessárias, uma vez que a sociedade demanda “posições diferentes”.
No vídeo, além das críticas ao presidencialismo, o partido admite “erros” e defende o parlamentarismo, mas não faz qualquer menção às denúncias que envolvem caciques tucanos, principalmente Aécio. Com quatro ministros na gestão Temer, o PSDB também não aborda o fato de que o senador mineiro disputou o posto máximo do Executivo com Dilma Rousseff, em 2014, almejando o posto máximo do modelo presidencial que agora critica.
A propaganda foi antecipada em primeira mão pelo site Poder360, do jornalista Fernando Rodrigues. Em determinado instante do filmete (a partir do 5º minuto), em uma espécie de desenho animado, deputados são representados por bonecos recebendo dinheiro em troca de apoio ao governo. Antes, o PSDB remonta ao seu manifesto de criação, em 1988, para lembrar que sempre defendeu o parlamentarismo como sistema de governo. “Pois é. Governos em crise, presidentes sem força para governar e sem apoio popular. Tudo isso está acontecendo agora. Mas tudo isso já é muito antigo também”, diz o roteiro lido por um ator jovem.
Veja o vídeo:
“E onde está o problema? Nas pessoas, apenas? Não existe salvador da pátria. O problema está no sistema, no chamado presidencialismo de coalizão – o que, no Brasil, virou um presidencialismo de cooptação”, completa uma atriz negra, em fala entrecortada com a pergunta “O que é o presidencialismo de cooptação?”.
“Melhor traduzir, né?”, replica a atriz, dando início à animação mostrando deputados recebendo dinheiro – e, neste momento, tendo os olhos transmutados em cifrões.
Revolta de tucanos
O vídeo revoltou um grupo de tucanos influentes, aprofundando uma divisão interna que parece irreversível à medida que a eleição de 2018 se aproxima. Dos quatro ministros no governo Temer – Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos) –, apenas Luislinda ainda não se manifestou contra o vídeo autorizado por Tasso Jereissati. Aloysio Nunes foi o mais enfático e, por meio de redes sociais, afirmou que o programa é “um monumento à inépcia publicitária, e a expressão de uma confusão política”. Já Bruno Araújo postou imagem de sua nota à imprensa no Twitter. Ambos concluem suas manifestações afirmando que a peça veiculada não os representa.
Para Imbassahy, a linha adotada no vídeo ofende o próprio partido e traz colocações rasas e genéricas, sem apontar os “culpados por vícios e mazelas que o programa condenou”. “A linha adotada no programa partidário ofende fortemente o PSDB, colocando o partido numa posição extremamente ruim e desconfortável, como se fosse o culpado por todos os problemas, inclusive aqueles criados por governos do PT, dos quais foi oposição”, reclamou o deputado licenciado.
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Muro
Desde de que 21 deputados tucanos votaram a favor da denúncia por corrupção passiva contra Temer, suspensa enquanto o peemedebista estiver na Presidência da República, cresce entre aliados a pressão para o governo promova uma reforma ministerial e contemple partidos mais fiéis que o PSDB, retirando-lhe as pastas. Em 2 de agosto, quando o parecer de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) contra a denúncia foi aprovado no plenário da Câmara, 22 deputados tucanos votaram a favor de Temer, evidenciando outro viés do racha na legenda.
Depois das delações do Grupo JBS, que levantaram suspeições de Temer por corrupção passiva, obstrução de Justiça e associação criminosa – estas duas últimas hipóteses ainda sob exame da Procuradoria-Geral da República (PGR) –, o PSDB tem navegado segundo as circunstâncias e na iminência de “fatos novos”, ou seja, do aparecimento de mais denúncias com potencial explosivo contra o Planalto. A expressão tem sido recorrentemente utilizada por caciques do partido para condicionar o desembarque (ou a permanência) da base aliada.
Além daqueles 21 deputados e de Tasso, o também senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), por exemplo, têm defendido o rompimento com o governo, mas mantendo o apoio às reformas por ele patrocinadas. Nesse cenário, e na contramão desse movimento, Aécio se movimenta, mas com outra estratégia. Um dos principais fiadores da parceria com Temer, o tucano tem evitado exposições e aposta na atuação de bastidor para viabilizar a governabilidade e as pautas do Executivo. Ultimamente, depois que foi beneficiado com a permissão para retomar o exercício do mandato, tem se reunido com Temer no Palácio do Planalto e defendido em declarações à imprensa, nessas ocasiões, o programa de reformas do governo.
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