Edson Sardinha, Lúcio Lambranho e Eduardo Militão
A companhia aérea TAM confirmou que a Câmara pagou passagem aérea da mãe do deputado Ciro Gomes para os Estados Unidos. Em nota divulgada ontem à noite (18), a companhia disse que inverteu documentos do deputado, o que fez a Câmara pagar um voo da mãe do parlamentar para Nova York, como revelou o Congresso em Foco.
Segundo a empresa, Ciro e sua mãe viajaram para os Estados Unidos no mesmo avião. A loja da TAM em Fortaleza (CE), de acordo com a companhia, trocou os documentos de crédito dos passageiros, “emitindo as passagens de Ciro Gomes com créditos particulares da família e os bilhetes de Maria José Gomes com documentos de crédito oriundos da cota parlamentar”.
A TAM informou que formalizará o esclarecimento ao Ministério Público Federal. Em abril, o MPF recomendou à Câmara uma série de procedimentos para restringir o uso da cota parlamentar exclusivamente aos deputados e para o estrito exercício do mandato, conforme estabelece a norma que trata do assunto.
Leia a íntegra da nota da TAM:
“Esclarecimento
A TAM esclarece que houve uma inversão entre os documentos de crédito particulares (pessoa física) da família do deputado federal Ciro Gomes e aqueles emitidos com recursos da sua cota parlamentar de passagens. O deputado e sua mãe, Maria José Gomes, embarcariam no mesmo voo, na mesma data, para Nova York. No momento da emissão dos bilhetes, a loja da companhia em Fortaleza trocou, inadvertidamente, os documentos de crédito, emitindo as passagens de Ciro Gomes com créditos particulares da família e os bilhetes de Maria José Gomes com documentos de crédito oriundos da cota parlamentar.
A TAM, no intuito de esclarecer o fato e garantir a integridade das informações prestadas, informa que enviará ofício ao Ministério Público Federal – autoridade que requisitou à companhia as informações relativas às passagens emitidas com uso da cota parlamentar dos deputados federais – com as devidas explicações.
TAM Linhas Aéreas”
Desde 19 de abril o site está solicitando ao deputado Ciro Gomes, por e-mail, telefone e pessoalmente, explicações sobre o assunto. Ele não deu nenhum retorno antes da reportagem publicada no último dia 22, com a relação dos 261 deputados que usaram a cota de passagens aéreas em voos internacionais.
No início da tarde daquele dia, Ciro procurou o site para expressar sua contrariedade com a inclusão de seu nome na lista e informar que enviaria uma nota de esclarecimento, como de fato ocorreu. No texto, dizia que a mãe não tinha feito dois dos quatro voos citados e que ela mesma havia pago os outros dois.
“É mentira que paguei passagem de minha mãe a Nova York em abril de 2008 com verba da Câmara dos Deputados; ela viajou comigo e pagou sua própria passagem. Nessa mesma viagem, fui representando a Câmara dos Deputados (viagem devidamente autorizada pela Presidência da Casa) no encontro anual da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos”, escreveu Ciro. O parlamentar ainda elogiava o cuidado do site com a apuração jornalística (leia a íntegra da nota).
Naquela mesma tarde, enquanto sua assessoria enviava a nota ao site, o parlamentar elevava o tom dos ataques no plenário. Em tom de indignação, o deputado condenou a “leviana e grosseira mentira”, trocou a data dos voos citados pelo Congresso em Foco, e recebeu aplausos dos colegas após dizer que o povo brasileiro deveria aprender a respeitar o Congresso (veja a íntegra do pronunciamento dele).
Logo depois de discursar, Ciro dirigiu-se ao cafezinho do plenário. A reportagem do site o seguiu para pedir mais detalhes sobre o uso da cota parlamentar de passagens. Aos berros, o deputado disse que queria saber quem era o “filho da puta” que havia envolvido o nome dele no caso.
“Só eu viajo com a cota, e agora me vejo jogado numa lista? Quem fez essa lista?” Uma repórter disse que o levantamento era do Ministério Público Federal, e o deputado gritou: “Ministério Público é o caralho. Pode escrever aí. Ciro diz: Ministério Público é o caralho” (leia mais).
O Congresso em Foco teve acesso a registros da companhia aérea que confirmam que a Câmara pagou quatro voos internacionais da mãe do deputado. De acordo com o cartão de embarque 95723453087776, a mãe do deputado, Maria José Gomes, viajou de São Paulo a Nova York no dia 18 de maio, às 8h45, no voo JJ 8082. E voltou no dia 25 do mesmo mês, às 19h40, no voo JJ 8081. A passagem, de acordo com o bilhete (clique aqui para vê-lo ampliado), custou US$ 7,6 mil. Precisamente R$ 12.682,12, segundo o câmbio da época.
A assessoria de Ciro mantém a versão de que os dois voos de dezembro de 2007 não ocorreram, até porque, insiste o gabinete do deputado, ela à época não tinha visto de entrada para os Estados Unidos. Em nenhum momento, o Congresso em Foco afirmou que essa viagem foi feita. Informou que a passagem foi paga pela Câmara.
Procurada por este site na última quinta-feira (14), a TAM solicitou que as perguntas fossem encaminhadas por e-mail, o que foi feito às 12h54 daquele dia. A nota divulgada ontem à noite pela TAM à imprensa não responde a todos os questionamentos feitos pela reportagem à companhia aérea.
Seguem sem resposta as seguintes perguntas:
A TAM confirma que recebeu da Câmara dos Deputados pagamentos referentes às passagens emitidas em 19 de dezembro de 2007, de ida e volta, de São Paulo a Nova York, em nome de Maria José Gomes? Quais as datas das respectivas viagens? Houve cancelamento de algum dos voos acima listados?
A esses questionamentos soma-se outra dúvida: por que a companhia demorou quatro semanas para constatar que recebeu indevidamente créditos de uma cota parlamentar da Câmara?
Novamente procurada ontem à noite, a TAM informou que levantaria as informações necessárias para responder às perguntas feitas pelo site. O Congresso em Foco está no aguardo.
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