Eduardo Militão e Edson Sardinha
Em nova nota enviada ao Congresso em Foco, a TAM admite que usou dois créditos da Câmara para cobrir uma passagem, de ida e volta, da mãe de Ciro Gomes aos Estados Unidos. A companhia aérea confirma apenas os voos feitos por Maria José Gomes em 18 de maio de 2008 (São Paulo-Nova York) e 25 de maio de 2008 (Nova York-São Paulo) e assume a responsabilidade por ter debitado aos cofres públicos o valor de R$ 12,6 mil da passagem da mãe do deputado.
“Para compor o valor total dessa viagem, foram utilizados – por erro da loja da TAM em Fortaleza – saldos de dois créditos (denominados internamente de MCO) gerados com recursos da cota parlamentar do deputado Ciro Gomes: MCOs nº 957-2705-564544 e nº 957-2705-876563”, sustenta o texto encaminhado ao site, na última sexta-feira (22), pela assessoria de comunicação da TAM.
Segundo a empresa, não houve passagem internacional emitida pela TAM em nome de Maria José Gomes em dezembro de 2007. “A data de 19.12.2007 publicada pelo site Congresso em Foco é a data da emissão da MCO nº 957-2705-564544, usada para pagar parcialmente um único voo SP-NY-SP realizado pela mãe do deputado em maio de 2008, conforme detalhado acima”, afirma a companhia, ao responder a questionamento feito há uma semana por este site.
No último dia 19, a TAM divulgou nota à imprensa em que afirmou ter errado na cobrança das passagens de Ciro Gomes e Maria José Gomes. Segundo a empresa, mãe e filho viajaram para os Estados Unidos no mesmo avião. A loja da TAM em Fortaleza (CE), de acordo com a companhia, trocou os documentos de crédito dos passageiros, “emitindo as passagens de Ciro Gomes com créditos particulares da família e os bilhetes de Maria José Gomes com documentos de crédito oriundos da cota parlamentar”.
A empresa, porém, não enviou nenhum comprovante de que a passagem de Ciro foi realmente paga com “créditos particulares da família” Gomes, o que explicaria a troca assumida pela TAM.
A companhia informou que formalizará o esclarecimento ao Ministério Público Federal. Em abril, o MPF recomendou à Câmara uma série de procedimentos para restringir o uso da cota parlamentar exclusivamente aos deputados e para o estrito exercício do mandato, conforme estabelece a norma que trata do assunto.
Desde 19 de abril o site está solicitando ao deputado Ciro Gomes, por e-mail, telefone e pessoalmente, explicações sobre o assunto. Ele não deu nenhum retorno antes da reportagem publicada no último dia 22, com a relação dos 261 deputados que usaram a cota de passagens aéreas em voos internacionais.
No início da tarde daquele dia, Ciro procurou o site para expressar sua contrariedade com a inclusão de seu nome na lista e informar que enviaria uma nota de esclarecimento, como de fato ocorreu. No texto, dizia que a mãe não tinha feito dois dos quatro voos citados e que ela mesma havia pago os outros dois.
“É mentira que paguei passagem de minha mãe a Nova York em abril de 2008 com verba da Câmara dos Deputados; ela viajou comigo e pagou sua própria passagem. Nessa mesma viagem, fui representando a Câmara dos Deputados (viagem devidamente autorizada pela Presidência da Casa) no encontro anual da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos”, escreveu Ciro. O parlamentar ainda elogiava o cuidado do site com a apuração jornalística (leia a íntegra da nota).
Naquela mesma tarde, enquanto sua assessoria enviava a nota ao site, o parlamentar elevava o tom dos ataques no plenário. Em tom de indignação, o deputado condenou a “leviana e grosseira mentira”, trocou a data dos voos citados pelo Congresso em Foco, e recebeu aplausos dos colegas após dizer que o povo brasileiro deveria aprender a respeitar o Congresso (veja a íntegra do pronunciamento dele).
Logo depois de discursar, Ciro dirigiu-se ao cafezinho do plenário. A reportagem do site o seguiu para pedir mais detalhes sobre o uso da cota parlamentar de passagens. Aos berros, o deputado disse que queria saber quem era o “filho da puta” que havia envolvido o nome dele no caso.
“Só eu viajo com a cota, e agora me vejo jogado numa lista? Quem fez essa lista?” Uma repórter disse que o levantamento era do Ministério Público Federal, e o deputado gritou: “Ministério Público é o caralho. Pode escrever aí. Ciro diz: Ministério Público é o caralho” (leia mais).
O Congresso em Foco teve acesso a registros da companhia aérea que confirmam que a Câmara pagou quatro voos internacionais da mãe do deputado. De acordo com o cartão de embarque 95723453087776, a mãe do deputado, Maria José Gomes, viajou de São Paulo a Nova York no dia 18 de maio, às 8h45, no voo JJ 8082. E voltou no dia 25 do mesmo mês, às 19h40, no voo JJ 8081. A passagem, de acordo com o bilhete (clique aqui para vê-lo ampliado), custou US$ 7,6 mil. Precisamente R$ 12.682,12, segundo o câmbio da época.
A assessoria de Ciro mantém a versão de que os dois voos de dezembro de 2007 não ocorreram. Procurada por este site na quinta-feira (14), a TAM solicitou que as perguntas fossem encaminhadas por e-mail, o que foi feito às 12h54 daquele dia. A empresa só respondeu após o Congresso em Foco divulgar o cartão de embarque usado por Maria José Gomes.
O site, então, questionou a empresa sobre os voos do dia 19 de dezembro de 2007. Na nota divulgada na última sexta, a companhia diz que esses voos não ocorreram. Em nenhum momento, o Congresso em Foco afirmou que essa viagem foi feita. Informou que a passagem foi paga pela Câmara, conforme atesta a nota enviada pela companhia.
Confira a íntegra da nota enviada ao site pela TAM:
“Ao Sr. Sylvio Costa
Diretor do site Congresso em Foco
Em complemento à nota de esclarecimento enviada em 18.05 pp., sobre passagens pagas com recursos da cota parlamentar do deputado federal Ciro Gomes, a TAM informa que:
Os registros relativos às passagens internacionais em nome de Maria José Gomes, enviados pela TAM ao Ministério Público Federal, por intimação dessa autoridade, referem-se apenas a dois trechos internacionais: trecho de ida São Paulo-Nova York (voo JJ 8082, de 18.05.2008); e trecho de volta Nova York-São Paulo (voo JJ 8081, de 25.05.2008).
Para compor o valor total dessa viagem, foram utilizados – por erro da loja da TAM em Fortaleza – saldos de dois créditos (denominados internamente de MCO) gerados com recursos da cota parlamentar do deputado Ciro Gomes: MCOs nº 957-2705-564544 e nº 957-2705-876563.
Não existe passagem internacional emitida pela TAM em nome de Maria José Gomes em dezembro de 2007. A data de 19.12.2007 publicada pelo site Congresso em Foco é a data da emissão da MCO nº 957-2705-564544, usada para pagar parcialmente um único voo SP-NY-SP realizado pela mãe do deputado em maio de 2008, conforme detalhado acima.
Reiteramos que a loja da TAM em Fortaleza quitou a passagem do deputado Ciro Gomes – que viajou nos mesmos voos – com recursos particulares (pessoa física) que deveriam pagar a passagem da sra. Maria José Gomes, conforme instruído pelo parlamentar. Com a inversão equivocada, os créditos da cota parlamentar do deputado foram usados para quitar a passagem da sra. Maria José Gomes.
Atenciosamente
TAM Linhas Aéreas”
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