Patrícia Vilar*
Interesse e transparência. Um contraste de valores nessa situação: enquanto a transparência — que mesmo em relacionamentos cotidianos parece ser algo secundário ou às vezes até mesmo inexistente — é admirável, o fato de que ela se destina à monetização de uma relação ou de aspectos dela, é algo preocupante. Relações entre sugar daddies e sugar babies se dão por interesses mútuos, ainda que nem sempre sexualmente explícitos ou, se quer, envolvendo contato físico.
Sugar babies buscam um estilo de vida proporcionado pela própria aparência, lucrando sobre o próprio corpo ou até mesmo a mera imagem. Por sua vez, sugar daddies, dado seu poder aquisitivo, as bancam em troca das mais diversas coisas, desde relações sexuais até mesmo ao mero controle financeiro da outra pessoa, derivando prazer de um jogo de poder nada saudável.
Ainda que uma relação consensual entre dois adultos que negociam de forma explícita e direta o que querem um do outro, ela é extremamente prejudicial para ambos os lados, uma vez que distorce a noção de relacionamentos para ambas as partes.
Para sugar babies, envolve o fato de que seu corpo e sua aparência são a única parte relevante de si nesse tipo de relação, o que, dependendo da pessoa, pode resultar em baixa autoestima ou justamente o oposto. Um ego inflado e uma noção distorcida de si, do próprio valor e beleza. Quanto aos sugar daddies, envolve a vulgarização de relações e sentimentos, reduzindo-os estritamente ao prazer e evitando qualquer contrariedade através de sabotadores chamados esquivos.
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Não importa o quão perfeito seu relacionamento pode ser. Eventualmente passamos por contrariedades e aborrecimentos e através desses atritos, é que crescemos tanto dentro dele, quanto como pessoas. Um passo essencial que não existe em uma relação como essa.
Ainda que controverso, a grande procura e demanda pela plataforma Universo Sugar pode ser atribuída a uma diferença entre a inteligência emocional e a intelectual, e a facilidade em se obter uma relação dessa natureza. Como mencionei, uma relação estritamente focada em prazer, perde o crescimento emocional, que vem através dos pontos negativos de uma relação comum.
Essa falta de conflito, prende a pessoa em uma infância emocional, incapaz ou indisposta a lidar com as dificuldades naturais de uma relação, querendo apenas as melhores partes dela — seja de natureza sexual ou não.
A natureza altamente descartável da atualidade está tão aflorada que chegou às relações: as pessoas não querem ter de lidar com qualquer inconveniência acerca de suas relações, a ponto de que sentimentos e investimentos emocionais em uma relação pareçam ter se tornado parte disso, resultando em relações superficiais e frívolas, pautadas apenas no que lhe interessa na outra pessoa envolvida, seja sexo ou dinheiro.
Pessoas de alto poder aquisitivo se veem à vontade para negociar abertamente aspectos de uma relação, sendo completamente transparente acerca do que quer da outra pessoa, uma vez que há dinheiro envolvido. Tudo isso, vulgariza os relacionamentos em meras transações, onde o contratante paga pelo que quer e o contratado oferece seu melhor serviço em troca de dinheiro, possivelmente buscando uma relação para se manter, ainda que estritamente ‘profissional’.
*Patrícia Vilar é psicanalista e coach especialista em relacionamentos, fundadora do Canal RelacionArte Coach. Instagram: @relacionartecoach
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