Antônio Augusto de Queiroz*
O resultado da eleição presidencial de 2010 dependerá, para sorte ou azar do presidente Lula e de seu (sua) condito (a), do resultado da crise econômica, que, por sua vez, depende das decisões de governo e, principalmente, da maior ou menor desaceleração produtiva do mundo. A crise é sistêmica e nenhum país, isoladamente, ficará imune a seus reflexos negativos.
Parece fora de dúvida que a situação do Brasil é menos dramática do que a de outros países, porque, apesar das taxas estratosféricas de juros, sua economia é dinâmica e possui fundamentos sólidos, acumulou grandes reservas, terá em 2008 um superávit primário gigante, próximo do déficit nominal zero, o câmbio é flutuante, a inflação está sob controle, as políticas sociais irrigam a economia com recursos, as instituições financeiras oficiais (BNDES, BB e CEF) dispõem de dinheiro para oferta de crédito, o PAC ajuda para efeito de manter a economia aquecida, entre outros aspectos positivos.
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Entretanto, o fato de o Brasil estar em melhor situação no cenário mundial, embora seja um alento, pouca altera o quadro, especialmente se houver recessão e desemprego, já que o brasileiro não irá fazer comparações com outros países, mas com a situação do país anterior à crise.
Logo, o presidente e seu governo, antes de se preocupar com a escolha do(a) candidato(a) agora, deve priorizar o enfrentamento da crise, pois a eleição ou não do(a) candidato(a) oficial dependerá da situação econômica no momento da eleição.
As sucessivas crises políticas durante os dois mandatos do presidente Lula, graças à confortável situação econômica e aos programas sociais, em nada afetaram a ação e o prestígio governamental, e a prova cabal disto são os índices de popularidade do presidente e de aprovação do governo. Num ambiente de crise econômica, entretanto, uma crise política terá efeito devastador sobre a estabilidade do governo, que fica vulnerável em dois dos três pilares de sustentação: o político e o econômico.
Neste cenário, o governo deve agir em duas frentes para evitar a deterioração do quadro a ponto de tornar inviável uma candidatura com sua chancela: priorizar o combate à crise e buscar unificar sua base para a sucessão nas presidências da Câmara e do Senado. A deflagração de uma crise política agora, e a sucessão no Congresso é uma fonte potencial forte, e terá reflexos devastadores sobre a governabilidade. Portanto, todo cuidado é pouco com essa disputa.
Estes, em nossa avaliação, são os desafios do governo no momento. As forças políticas e eleitorais, que hoje estão reduzidas a quatro no país (PT, PSDB, PMDB e Bloco de Esquerda), bem como os cenários de disputa ou composição, serão objeto de reflexão em outro texto.
*Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
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