A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta terça-feira (26), por três votos a dois, o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de suas atividades parlamentares. O colegiado também negou, por unanimidade, a prisão do parlamentar mineiro, gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, delator da Operação Lava Jato e outros esquemas de corrupção preso depois de violar os termos de seu acordo de colaboração judicial. Mesmo tendo negado a reclusão, os ministros impuseram recolhimento noturno a Aécio, que deve se recolher à sua residência no período.
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Com a decisão, Aécio fica impedido de entrar no prédio do Congresso, não pode deixar sua residência à noite, está proibido de viajar ao exterior e conversar com investigados. No entanto, hoje (terça, 26) mesmo senadores tucanos foram à casa do tucano no Lago Sul, bairro de elite em Brasília.
Tão logo soube da decisão do STF, Aécio deixou o plenário do Senado, que votava projeto criando um fundo de financiamento de campanhas. O caso já resultou em processo de quebra de decoro parlamentar contra o tucano no Conselho de Ética do Senado, mas o presidente do colegiado, João Alberto (PMDB-MA), arquivou sumariamente o processo “por falta de provas”. Devido à repercussão negativa das acusações contra o senador mineiro, ele acabou se afastando da presidência nacional do PSDB.
Líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC) disse que o Senado teria que se pronunciar sobre o afastamento, mas se equivocou. Apenas no caso de prisão, a Casa é instada a se manifestar, cabendo à instituição a última palavra sobre a execução da sentença. O próprio advogado de Aécio, Alberto Toron, já se adiantou em dizer que o Senado será apenas notificado sobre a suspensão do mandato, nos termos da Constituição.
O pedido de prisão foi feito pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. No reforço dessa demanda, Janot mencionou uma foto de Aécio, então afastado do mandato, na qual aparece em reunião de articulação política com outros tucanos, o que contrariou decisão judicial do STF.
Os cinco ministros da primeira turma negaram o pedido de prisão feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) acompanhando o voto do relator, Marco Aurélio Mello. Mas houve divergência sobre o afastamento do mandato, também solicitado por Janot. Os ministros Alexandre de Moraes e Marco Aurélio negaram o pedido, que foi avalizado por Luis Roberto Barroso, Luiz Fux e Rosa Weber.
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Os pedidos de prisão e afastamento haviam sido apresentados por Janot em junho. No mês anterior, a primeira recomendação de prisão foi negada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF. Na ocasião, Fachin ordenou o afastamento do tucano, decisão revertida no fim de junho, no último dia de trabalho antes do recesso do Judiciário, por liminar do ministro Marco Aurélio. O magistrado que recebeu a relatoria do caso, rejeitou novo pedido de prisão e devolveu a Aécio o direito de exercer o mandato.
A exemplo do presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, Aécio é alvo da delação de executivos do Grupo JBS, entre eles Joesley e seu irmão, ambos presos por violação da lei de delação premiada. Para a PGR, o senador recebeu dinheiro do conglomerado empresarial, um dos maiores do país, e agiu em parceria com Temer para embaralhar investigações da Lava Jato. Além disso, acusou Janot, Aécio atuou para modificar proposições em tramitação no Congresso com o objetivo de atrapalhar as apurações judiciais.
Em um das cenas que antecederam a acusação, um primo de Aécio foi filmado recebendo uma mochila de dinheiro depois da conversa em que Aécio e Joesley falam sobre diversos assuntos, inclusive o pedido de dinheiro, em meio a xingamentos e linguagem chula. Depois dos registros, a irmã de Aécio, Andrea Neves – que participava de negociatas em nome do senador, segundo a acusação – e um de seus primos chegaram a ser presos em maio, mas conseguiram habeas corpus dias depois.
Com o pedido de prisão, Janot alegou a pretensão de evitar justamente que o tucano atentasse contra as investigações. Acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça, o senador tucano nega as acusações e diz que o pedido de prisão viola a Constituição, que só autoriza a providência extrema nos casos de flagrante de crime inafiançável, e mesmo assim após autorização por parte do Senado, com a devida votação em plenário – como ocorreu no caso de Delcídio do Amaral, ex-senador petista pelo Mato Grosso do Sul. Delcídio chegou a ser preso na Lava Jato depois de flagrado em áudio cogitando a hipótese de fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, silenciando-o sobre investigações do petrolão.