Segundo diversos relatos de parlamentares da oposição, e de manifestações pela internet por parte dos próprios envolvidos, o episódio foi protagonizado por simpatizantes do governo Nicolás Maduro, em resposta à missão dos senadores na Venezuela. Os parlamentares brasileiros foram àquele país prestar apoio a líderes oposicionistas presos desde o início de 2014, depois de protestos em nível nacional contra Maduro.
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“Estamos em Caracas, sitiados em uma via pública. Nossa van foi atacada por manifestantes”, disse Aécio Neves por meio de sua conta no Twitter, antes de a comitiva conseguir retornar ao aeroporto. “Mas seguimos firmes na disposição de visitar Leopoldo López. Estamos aqui para defender a democracia e até agora o governo venezuelano tem demonstrado pouco apreço por ela.” O tucano disse ainda ter conversado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e dele ter ouvido a garantia de que a Casa protestará formalmente contra o ocorrido, bem como cobrará um posicionamento da presidenta Dilma Rousseff.
“É um clima de violência. Houve até tentativa de apedrejamento do ônibus. Os senadores estão cercados, não conseguem ir adiante, nem retornar [ao aeroporto]. Eles pretendiam retornar para aguardar, no aeroporto, alguma providência, mas estão impedidos, paralisados, cercados por pessoas gritando palavras de ordem, ameaçando”, disse ao Congresso em Foco o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), reportando conversa que teve ao telefone com Aécio Neves.
A empreitada à Venezuela atende a uma súplica feita por familiares dos presos em audiência pública realizada em maio na CRE. Na ocasião, Lilian Tintori, mulher do líder do partido de oposição Vontade Popular, Leopoldo López, relatou à comissão o drama por que passa seu marido. López está preso desde fevereiro de 2014 sob acusação de “instigação pública”, danos a propriedades, formação de quadrilha e incêndio.
Revolta no Congresso
PublicidadeO assunto movimenta os plenários do Senado e da Câmara. Presidente desta Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contatou o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e tentou acalmar deputados da oposição que, indignados, exigiam providências, moção de repúdio e convocação do próprio Mauro para dar explicações. Depois de uma rápida suspensão da sessão plenária, Cunha disse ter solicitado um posicionamento oficial do governo brasileiro e recebeu a informação de que os senadores já retornaram ao aeroporto de Caracas, onde aguardam provimento de segurança por parte das autoridades.
No Senado, de maneira mais organizada, Renan emitiu nota à imprensa (leia abaixo) e garantiu que providências institucionais serão tomadas, por meio do diálogo com Dilma e o ministro Mauro Vieira. Afinal, como lembraram alguns senadores, trata-se de uma missão oficial da Casa que foi vítima de hostilidade em um país vizinho. “Os senadores continuam apreensivos, estão no trânsito cercados há mais de três horas”, disse Renan em plenário, depois de ler a nota, e cobrando uma “solução altiva” do governo brasileiro.
Mas o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), fez uma ressalva. “A informação que eu recebi do ministro Mauro Vieira é que hoje está sendo feita a extradição de um criminoso acusado de ter matado um parlamentar venezuelano tido como chavista. Ele foi preso pela Interpol e, exatamente hoje, está sendo devolvido para a Venezuela. Então, desde o aeroporto até o centro da cidade tem-se uma grande confusão em Caracas, que, obviamente, coincide com a chegada dos nossos senadores”, discursou o petista.
Presidente da representação brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul), Roberto Requião (PMDB-PR) foi além. Ele condenou a hostilização à comitiva, mas fez críticas a setores da oposição no Brasil. Para Requião, o mesmo tratamento dado aos senadores brasileiros vitimou, principalmente depois das manifestações de março, a presidenta Dilma Rousseff. “Que isso sirva de exemplo para que não se repita aqui no Brasil”, fustigou o peemedebista.
Confira a íntegra da nota:
“O presidente do Congresso Nacional recebeu relatos apreensivos da delegação de senadores brasileiros em viagem à Venezuela através dos senadores Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes Ferreira, Ronaldo Caiado e Aécio Neves.
Há relatos de cerco à delegação brasileira, hostilidades, intimidações, ofensas e apedrejamento do veículo onde [sic] estão os senadores brasileiros.
O presidente do Congresso Nacional [Renan Calheiros] repudia e abomina os acontecimentos narrados e vai cobrar uma reação altiva do governo brasileiro quanto aos gestos de intolerância narrados.
As democracias verdadeiras não admitem conviver com manifestações incivilizadas e medievais. Elas precisam ser combatidas energicamente para que não se reproduzam.”
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