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“Não vejo qualquer situação para impeachment, objetivamente. A oposição sempre vai fazer esse discurso, sempre vai colocar isso como uma possibilidade. Mas [impeachment] é uma situação muito séria e, objetivamente, tem que haver uma causa isso. E eu não vejo causa alguma”, disse ao Congresso em Foco a senadora Gleisi Hoffmann, ex-ministra-chefe da Casa Civil.
Como este site mostrou ontem (domingo, 28), diversos líderes oposicionistas passaram o fim de semana defendendo a abertura de um processo de impeachment contra Dilma – que, por imposições constitucionais, teria tramitação iniciada na Câmara, com julgamento no Plenário do Senado conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal. Parlamentares do DEM e do PPS, partidos que apoiaram as manifestações de rua contra a presidente, defendem a possibilidade abertamente. “Não tem condição nenhuma de a presidente continuar à frente [do cargo]. Na segunda-feira, temos que cobrar no Senado que seja levado para a Câmara a abertura do processo de impeachment. É simplesmente o cumprimento da lei. É crime eleitoral; a resposta é o afastamento”, disse o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).
Questionado pela reportagem sobre o assunto, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), foi na mesma linha da colega de bancada. “Não vejo, até o momento, nada que justifique o impeachment da presidenta da República. Mesmo no caso dessa delação, se fossem verdadeiras essas relações, não implicariam ali questionamento quanto à legitimidade do mandato da presidenta. A oposição continua querendo se antecipar aos fatos – muito mais, parece-me, querendo aprofundar o desgaste do governo do que levar, mesmo, essa decisão até às últimas conseqüências”, ponderou o parlamentar.
Dilma está em viagem oficial aos Estados Unidos e, ao falar para jornalistas em Nova Iorque, reagiu à repercussão do depoimento de Ricardo Pessoa. Dizendo que não respeita delatores, a petista avisou que tomará providências se o empreiteiro incluí-la em suas acusações. Ricardo Pessoa contou aos investigadores que repassou R$ 7,5 milhões do esquema para a campanha da reeleição. Entregou, ainda, uma planilha intitulada “pagamentos ao PT por caixa dois”, por meio da qual relacionaria repasses de R$ 3,6 milhões aos tesoureiros de Dilma nas eleições de 2010 e 2014.
Animar a base
Senadores e deputados têm reunião prevista para as 20h desta segunda-feira (29), em Brasília, com o ex-presidente Lula. Na pauta, extra-oficialmente comentada, será discutido o cenário político atual e traçada a redefinição da estratégia partidária, depois dos seguidos episódios de desgaste para a sigla. Também devem ser debatidos no encontro os desdobramentos referentes às novas denúncias do petrolão. O périplo de Lula prosseguirá nesta terça-feira (30), em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Segundo Humberto Costa, o compromisso com Lula já havia sido pré-definido antes da ida de Dilma à visita oficial nos Estados Unidos, e só não havia sido realizada ainda por questão de coincidência de agendas. O senador riu ao ser perguntado sobre o fato de Lula se reunir em Brasília na ausência de Dilma. “Naturalmente, vamos discutir conjuntura política, sobre a situação do governo, do Legislativo e, muito especialmente, a situação do PT, de que maneira vamos enfrentar essa conjuntura adversa”, disse o senador.Já Gleisi diz acreditar que o assunto não constará, necessariamente, da pauta do encontro com Lula. “Não acredito que a reunião com o presidente Lula seja para tratar de impeachment, ou desse posicionamento da oposição. Acho que é muito mais para dar uma fortalecida, uma animada nas nossas bancadas. Cabe a nós fazermos um contraponto no debate sobre a política brasileira. Parece-me que a pretensão do presidente Lula é fazer uma boa avaliação de conjuntura e animar nossas bancadas”, acrescentou Gleisi.