Fábio Góis
O Senado elegeu há pouco, para a quarta gestão não consecutiva, o peemedebista José Sarney (AP) para a Presidência da Casa. Com o apoio das maiores bancadas, como PMDB (20 senadores) e PT (15), Sarney foi reconduzido ao posto para o próximo biênio com 70 votos, contra 8 recebidos por Randolfe Rodrigues (AP), alternativa de protesto lançada pelo Psol. Todos os 81 senadores estavam presentes à votação nominal (quórum máximo), sem identificação dos votos. Dois votos em branco e um nulo foram registrados.
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Antes da proclamação do resultado, Sarney e Randolfe se encontraram e trocaram rápido abraço no púlpito do plenário, onde uma urna de madeira abrigava as cédulas de votação. O resultado foi proclamado pelo 2º secretário do Senado, João Vicente Claudino (PTB-PI), que deve permanecer no posto.
Poucos antes de ser iniciada a votação, a líder do Psol no Senado, Marinor Britto (PA), solicitou à Mesa que seu candidato apresentasse o programa do partido para a instituição, incluindo-se a reformulação dos quadros e dos procedimentos administrativos da Casa. Sem a objeção dos líderes partidários, Randolfe subiu à tribuna e propugnou uma “profunda reforma ética” e disse que, “aqui nessa Casa, não existe ninguém mais senador que o outro”.
“Esta Casa precisa dizer não ao patrimonialismo, que Weber definiu como o domínio privado de governantes sobre o governo, local onde não existe separação entre o tesouro do Estado e de seu monarca ou de seu corpo funcional. Nos últimos anos, ficou evidente que a cultura patrimonialista lamentavelmente continua sobrevivendo na política brasileira. Esta Casa precisa dizer não aos excessos administrativos”, disse Randolfe, referindo-se ao filósofo alemão e com menção aos escândalo dos atos secretos, que abalou a Casa em 2009.
Ontem (segunda, 31), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) enviou carta a Sarney informando que não lhe daria seu voto. Mas o senador pedetista não adiantou se votaria em Randolfe. Além de Cristovam, nomes como Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), embora integrantes da base, têm postura independente da orientação partidária e já declararam discordar da permanência de Sarney no comando do Senado.
Discurso
Encerrada a votação, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu a palavra e parabenizou Sarney. O petista falou rapidamente sobre a situação de convulsão política no Egito antes de passar a palavra para o adversário de Sarney na eleição de hoje. “Foi uma honra debater com esse Senado, foi uma honra debater com vossa excelência”, declarou o parlamentar do Psol. “Muito obrigado pela elegância de vossa excelência e pelas palavras generosas”, devolveu Sarney.
Depois dos cumprimentos de Randolfe, Sarney iniciou um discurso já sentado na principal cadeira da Mesa Diretora. Disse não poder fugir do compromisso de comandar o Senado, “tendo na carne o alto preço dessas funções”. “Tenho a visão do compromisso das instituições e da independência do Poder Legislativo”, discursou o senador, acrescentando que a Casa “não pode ser submissa a nenhum outro poder”.
Com citações históricas, Sarney lembrou que tem “56 anos de mandato” exercidos no Congresso, cinco dos quais no Senado, totalizando 35 anos de dedicação à Casa. “Ultrapassando mesmo o nosso patrono Rui Barbosa”, mencionou, enfatizando sua trajetória “como assistente, participante, coadjuvante e, algumas vezes, como protagonista” na recente história política do Brasil.
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