Logo nas primeiras linhas, quero deixar claro que meu objetivo não é de repercutir o deputado federal Romário (PSB-RJ). Mas aproveitar uma de suas recentes decisões para fortalecer um movimento que vem crescendo muito no Brasil, mas que ainda é periférico no processo político brasileiro. Quero escrever sobre a webcidadania, ou seja, sobre como a participação social pode ganhar peso e força com o uso das tecnologias, transformando a realidade e influenciando políticas públicas.
Desde 2008 inúmeras iniciativas e plataformas de participação política e social têm ganhado força no Brasil graça à internet. Ecossistema que ganhou projeção com o Cidade Democrática, com o Urbanias, com o Vote na Web e Porto Alegre.CC. Iniciativas governamentais como a consulta pública sobre o marco civil da internet também contribuíram para abrir esse espaço, que hoje é verdadeiro universo em expansão. Grandes atores globais como Avaaz e Change.org miraram o Brasil, assim como a Purpose e iniciativas mais novas, já de uma segunda geração, como o ótimo Colab. As iniciativas governamentais também se encontram em um crescimento muito qualificado, com o e-Democracia da Câmara dos Deputados, o recém-lançado Participa.BR e a experiência do Gabinete Digital do Rio Grande do Sul.
Leia também
Na semana passada, um deputado que ainda está mais para baixo clero decidiu divulgar que passará a tomar suas decisões em um processo de escuta forte dos internautas. Funcionará assim: se os internautas rejeitarem, via enquete online, os projetos de autoria desse deputado, ele irá retirá-los de tramitação. Ou seja, não há compromisso assumido sobre como esse mesmo deputado irá votar em projetos de outros deputados, apenas nos de sua própria autoria. Assim, a enquete acaba servindo também para divulgar tais projetos e receber uma espécie de feedback dos cidadãos.
Se não houve um compromisso total de o deputado votar nos projetos de outros parlamentares com base nas enquetes, por que elogiar a iniciativa? Porque Romário é uma figura carismática, também fala com um público que normalmente não acompanha ou participa de iniciativas deste tipo e pode ser um chamariz, contribuindo com a webcidadania e fez algo que centenas de deputados nem sonham em tentar. Foi um golaço não ter desenvolvido uma ferramenta própria e sim ter topado usar a Vote na Web, no ar há vários anos e com milhares de usuários, em um trabalho muito competente. Ou seja, foi a plataforma que saiu mais forte e seus usuários receberam um impulso para continuarem atuantes.
Mas precisamos ficar atentos: hoje, tão popular quanto o Romário é a “nova política” e a “política pela internet”, associada às jornadas de junho. Romário, é óbvio, também está mirando esse troféu. Mas como já disse e reforço: a própria Câmara já desenvolveu ferramenta para democracia digital, o e-Democracia, e inúmeros deputados têm participado. Como não houve um compromisso público de votar seguindo os resultados das votações online (e nem eu mesmo acho que este é o melhor formato), Romário não está no time da democracia direta, nem meteu um gol de craque. Tá mais praquela bola fácil que sobrou na pequena área, saqualé peixe?
Outros textos sobre ciência e tecnologia
Publicidade
Deixe um comentário