Adversário declarado do presidente Michel Temer, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) voltou a desferir em plenário acusações agudas contra a gestão do peemedebista. Desta vez, o alvo, além do próprio Temer, foi o vice-líder do governo na Câmara Carlos Marun (PMDB-MS), cogitado para chefiar a Secretaria de Governo – algo que o Palácio do Planalto diz desconsiderar, ao menos por enquanto. Quase aos gritos, Renan disse que Marun, aliado do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – preso por imposição da Operação Lava Jato – foi indicação imposta pelo próprio Cunha na cúpula do governo.
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“Foi o Eduardo Cunha que havia nomeado [o deputado peemedebista] Osmar Serraglio [PR] para o Ministério da Justiça. E que queria, lá atrás, substituir o diretor da Polícia Federal. O presidente da República nomeia o Carlos Marun para o Palácio, para exercer a articulação política. Já nomeou o Gustavo Rocha, que é o substituto do ministro [da Casa Civil, Eliseu] Padilha. Essa nomeação demonstra muita cara de pau, mas também muita coragem de, em plena luz do dia, o presidente da República continuar a cometer esse tipo de erro”, reclamou Renan, para quem Cunha, “mesmo preso, continua atuante e a influir no governo”.
“Já que ele queria nomear, ele deveria ter sido mais inteligente. Chega de intermediário! Ele poderia nomear diretamente o Eduardo Cunha para ser o ministro da articulação política”, acrescentou o peemedebista.
“Inicialmente, não acreditei no que estava lendo, de que Temer cogitava nomear para a articulação política o deputado Carlos Marun. Eu tinha reclamado aqui, outro dia, de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados queria exercer a pena em Brasília e aqui se demorou por quase 30 dias. Como sabemos, foi o Eduardo Cunha que montou esse governo”, emendou o senador, partindo para cima do programa que marcou o início do rompimento do PMDB e do próprio Temer, mesmo na condição de vice, com a gestão anterior, de Dilma Rousseff.
“Mais do que isso, foi ele quem definiu os limites da estratégia da Ponte para o Futuro, que é uma ponte do futuro para trás, não é do futuro para frente. É uma ponte para o retrocesso”, criticou o ex-líder do PMDB no Senado.
A mais nova intervenção de Renan no plenário antecedeu a votação, um dia depois da aprovação pela Câmara, da Medida Provisória 786/2017, que autoriza a União a participar, com até R$ 180 milhões, de fundo criado pela proposição para o financiamento de projetos de concessão e de parcerias público-privadas (PPPs). A pressa, que incomodou senadores da oposição e autointitulados independentes, explica-se nas norma de tramitação das MPs: o texto perderia a validade amanhã (quinta, 23).
“Nós não podemos ficar aqui permitindo que o governo se faça, todos os dias, por medida provisória. Já são dez medidas provisórias editadas. Até a medida provisória da Shell está tramitando nesta Casa. Nós temos que ter, pelo menos para que nós não fiquemos mal, o cumprimento das regras de prazos de encaminhamento e de leitura das medidas. Sob pena de nós voltarmos aqui à convivência que tínhamos quando Eduardo Cunha era presidente da Câmara. Ele, em toda medida provisória, colocava jabuti”, concluiu Renan, referindo-se à prática, reiterada no Congresso, de enxerto de assuntos estranhos ao propósito central das matérias.
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