Na nota desta terça-feira (5), Renan diz que não pretende “rebater” Temer, mas o faz mesmo assim. “Não pretendo rebater a nota de Vossa Excelência para não promover escalada retórica incompatível com nossa função institucional. vossa excelência tem suas razões. Eu, as minhas. Mas acima de ambos está o país”, pondera o senador, que volta a repetir o argumento de que rejeita apadrinhamento na estrutura da administração pública – ele que já indicou nomes para cargos diversos e abrigou em seu gabinete seu aliado e ex-ministro do Turismo Vinicius Lages, exonerado no dia 15 de abril para dar lugar ao ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB).
“Transmito a vossa excelência – o que já fiz à presidente da República – que qualquer indicação para cargos do Executivo, atribuídas [sic] a mim, deve ser descartada. A independência é condição indispensável para controle recíproco entre os Poderes e não deve ser embaçada por ações incompatíveis com o exercício da Presidência do Congresso Nacional”, acrescentou o senador, que mais cedo teve acusação reiterada contra si, na CPI da Petrobras, por parte de um dos principais delatores da Operação Lava Jato, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa.
Questionado por repórteres sobre a acusação de Costa, Renan desconversou: “Não merece nem resposta”.
A relação de Renan com o Planalto já não era das melhores – e piorou – quando a presidenta Dilma Rousseff revolveu indicar Henrique Eduardo Alves para o Turismo, tirando do posto Vinicius Lages. Antes disso, o vazamento da informação – depois confirmada – de que Renan seria um dos investigados na Lava Jato levou o senador, membro do principal partido da base aliada, a adotar uma verdadeira postura oposicionista ao governo. Henrique Alves, que em sua posse se ofereceu para ajudar Temer na articulação política, compõe o grupo do PMDB do qual faz parte o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – que por sua vez, tem se estranhado com Renan em relação à pauta legislativa.
Confira a íntegra da nota de Renan para Temer:
“Excelentíssimo Senhor
Michel Temer
Vice Presidente da República Federativa do Brasil,
Não pretendo rebater a nota de Vossa Excelência para não promover escalada retórica incompatível com nossa função institucional. Vossa Excelência tem suas razões. Eu, as minhas. Mas acima de ambos está o País.
Sempre busquei ser um agente facilitador de soluções afinadas com o interesse público e participar do debate de maneira construtiva. Eventuais dissonâncias fazem parte da harmonização da democracia que rege as instituições.
Transmito a Vossa Excelência – o que já fiz à Presidente da República – que qualquer indicação para cargos do Executivo, atribuídas a mim, deve ser descartada. A independência é condição indispensável para controle recíproco entre os Poderes e não deve ser embaçada por ações incompatíveis com o exercício da Presidência do Congresso Nacional.
Aproveito a oportunidade para louvar suas evocações. Os conceitos ressaltados por Vossa Excelência nos aproximam e tranquilizam a Nação.
Reitero meu desejo de que Vossa Excelência, em um momento grave do País, desempenhe suas atribuições de coordenador político com êxito e me ponho à disposição para apoiar iniciativas que engrandeçam a missão que desempenhamos.
Cordialmente,
Senador Renan Calheiros
Presidente do Congresso Nacional”