Sylvio Costa
Diretores de agências de modelos esperam que o Congresso Nacional comece a discutir mudanças na legislação para prevenir casos de transtornos alimentares em meninas obcecadas em ser magras.
Na semana que passou, as principais agências brasileiras decidiram instituir a exigência de atestado médico e exame de sangue a cada seis meses com o objetivo de evitar que as modelos se submetam a dietas danosas à sua saúde para controlar ou perder peso. "Vou batalhar para que isso vire lei", disse o diretor da Mega Model, Eli Hadid, a Afra Balazina, do jornal Folha de S. Paulo.
O movimento das agências é uma resposta à morte da modelo paulista Ana Carolina Reston Macan, 21 anos, 1,72 m e apenas 40 kg, na última terça-feira, dia 14. A anorexia desencadeou em Carol, como ela era conhecida, um processo de infecção generalizada, pondo fim a uma carreira que chegou a incluir trabalhos no exterior para grifes famosas, como Armani, Fendi e Dior.
Sexta, 17, a doença fez outra vítima, em Araraquara (SP): a universitária Carla Sobrado Cassalle, também de 21 anos. A família dela suspeita que a morte da estudante, que estava fazendo tratamento contra a anorexia, foi causada pela ingestão excessiva de medicamentos para emagrecer, que ela consumia às escondidas.
Um problema de saúde pública
Estima-se que 1,7 milhão de brasileiros sofram de anorexia. Mais de 90% deles são mulheres. Quase sempre, jovens – às vezes, crianças – que têm obsessão pela magreza e sérios problemas de auto-estima. Para atingirem o ideal de beleza que procuram, elas tomam remédios controlados, param de comer e, sobretudo, tentam manter ou alcançar um peso corporal inferior aos níveis necessários para sua estatura.
Quem tem anorexia costuma se achar gordo, ou gorda, mesmo quando sua aparência está quase cadavérica. A anoréxica mais famosa talvez seja a modelo inglesa Kate Moss, exposta ao mundo como padrão de estética quando pesava 43 kg (11 quilos abaixo do mínimo exigido por sua altura, 1,70 m). Entre outras celebridades que enfrentaram o problema, estão as princesas Diana e Caroline de Mônaco e a cantora canadense Alanis Morissette.
Perto da metade dos anoréxicos apresentam sintomas de outro transtorno alimentar, a bulimia. A pessoa tem "ataques" de fome, nos quais consome com rapidez uma grande quantidade de alimentos, que ela depois rejeita e faz de tudo para vomitar ou evacuar. Medicações inadequadas e outros artifícios são utilizados com essa finalidade (para saber mais, clique aqui).
A anorexia foi descrita pela primeira vez no final do século XVII pelo médico inglês Richard Morton. Somente nas últimas décadas, no entanto, o culto desmedido à magreza emprestou à doença características de grave problema de saúde pública. Redução da atividade da tireóide, alterações cardiovasculares, suspensão da menstruação, enfraquecimento dos cabelos e unhas e ressecamento da pele estão entre os sintomas da anorexia.
Várias agências, empresários e profissionais do mundo da moda saem mal na foto, nessa história. Freqüentemente, eles contribuem para agravar a saúde de modelos com tendência à anorexia. Prova disso está na própria trajetória de Carol. Em turnê pela China, ela foi dispensada do trabalho por ter sido considerada obesa. Tinha 51 kg, dois a menos do que o patamar mínimo recomendado para sua estatura.
Conforme a psicóloga Silvana Martani, da clínica de endocrinologia do Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo, a desnutrição provocada pela anorexia nervosa é tão avassaladora que resulta em taxas de mortalidade superiores a 21%. A psicóloga também avalia negativamente o papel da mídia. "Os meios de comunicação passaram a divulgar um padrão de beleza que servia muito mais para mostrar roupas e não vestir roupas", afirma ela (leia artigo de Silvana Martani sobre o assunto).
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