Tentando falar ao mesmo tempo em que manifestantes gritavam, Cunha respondia a indagações sobre a crise político-econômica e as chamadas pedaladas fiscais do governo. Aos gritos, algumas pessoas perguntavam sobre quando ele renunciaria e pediam que ele falasse sobre o caso das contas bancárias abertas em seu nome na Suíça. Nesse momento, o peemedebista resolveu deixar um dos repórteres sem a resposta completa.
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“Por mais que eu tente te responder, eu não consigo. Não há condições”, ponderou, deixando o local sob vaias e diante de um empurra-empurra entre seguranças e manifestantes.
O pretexto encontrado pelo deputado para recuar foi uma homenagem na liderança do PMDB, em uma sala localizada em um corredor atrás do púlpito. Organizada pelo atual líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), a solenidade servirá para a fixação de uma placa-retrato de Cunha, que liderou o partido entre 2013 e 2014, na sala da liderança.
A honraria é concedida no momento em que o deputado, denunciado pela Operação Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), é acusado de manter contar secretas na Suíça e movimentar clandestinamente milhões de dólares e francos suíços. De acordo com investigadores suíços e brasileiros, os valores são fruto de propina desviada de contratos com a Petrobras, tese confirmada por outros investigados em regime de delação premiada (que exige provas em troca de redução de pena) – um deles, o empresário Fernando Baiano, disse ter levado dinheiro vivo ao escritório do parlamentar no Rio de Janeiro, em um total de “R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão”.
Os protestos contra Cunha ganharam força em um momento de graves indícios de que o deputado mentiu aos pares, em uma audiência formal da CPI da Petrobras. Em 12 de março, o deputado foi espontaneamente ao colegiado e negou a existência de qualquer conta bancária em seu nome no exterior e disse que jamais recebeu “vantagem de qualquer natureza”. A suposta “mentira” é considerada motivo suficiente, por partidos como Psol e Rede, para que Cunha perca o mandato, nos termos da representação apresentada ao Conselho de Ética da Câmara.
“Fora, Dilma”
O episódio de protesto, durante a coletiva de imprensa interrompida, ocorreu instantes depois da formalização de novo pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por juristas como Hélio Bicudo, petista histórico, e Miguel Reale Júnior, com o apoio da oposição na Câmara e representantes do Movimento Brasil Livre. Enquanto oposicionistas, mesmo diante do desgaste que significa contar com Cunha para fazer o requerimento avançar na Casa, governistas preferem apostar na pauta de votações e no discurso de que cabe ao Conselho de Ética deliberar sobre a situação criminal do deputado.
Nesse contexto, manifestantes pró-impeachment também foram à Câmara para acompanhar o protocolo do pedido. E, tendo Cunha como instrumento institucional para que a demanda oposicionista inicie os trâmites burocráticos, manifestaram apoio ao deputado com gritos de “fica, Cunha” e “fora, Dilma”. Depois que Cunha deixou o púlpito, os grupos opostos passaram a disputar no grito a atenção da imprensa.