Parte do dinheiro da propina paga pelas empresas envolvidas na Operação Carne Fraca era destinado à campanha eleitorais de partidos políticos, notadamente o PP e o PMDB. A informação foi divulgada pelo delegado da Polícia Federal, Maurício Grillo, em entrevista coletiva concedida em Curitiba.
“Está bem claro que uma parte do dinheiro da propina era revertido para partido político. Era destinado para campanha política”, afirmou o delegado. Questionado sobre os partidos que seriam beneficiados, respondeu: “No caso de dois partidos, PP e PMDB, era muito claro”. Grillo afirmou que não é ainda possível afirmar quanto foi repassado aos partidos nem quanto tempo durou esse esquema. “Nos dois anos da investigação era muito claro, mas não sabemos se havia antes.”
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O delegado informou que ainda não é possível apontar o volume de propina movimentada pelo grupo. Nas buscas e apreensões, foi encontrado, por exemplo, um maço de dinheiro, no valor de R$ 65 mil, no bolso do casado de um superintende do Ministério da Agricultura. Os policiais encontraram dinheiro vivo na casa de vários fiscais suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção.
A Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira (17), investiga a venda ilegal de carnes por frigoríficos de seis estados e do Distrito Federal. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, é citado nas investigações. A Polícia Federal não apontou ilegalidade na conduta do ministro, que teve interceptada uma conversa telefônica com o superintendente do Ministério da Agricultura do Paraná de 2007 a 2016, Daniel Gonçalves Filho, que seria o líder da organização criminosa.
Na prestação de contas do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) à Justiça Eleitora, em 2014, consta uma doação oficial de R$ 200 mil da JBS, por intermédio do Diretório Nacional do PMDB. A empresa BRF – Brasil Foods, dona das marcas Sadia, Perdigão e Qualy, doou R$ 1,5 milhão à campanha da candidata a presidente da República Dilma Rousseff em 2014. A empresa afirma produzir alimentos consumidos em 150 países em cinco continentes. E acrescenta que “a ética e a integridade estão lado a lado com a transparência”.
PublicidadeNa época em que exercia o mandato de deputado federal, Serraglio ligou para o superintendente em fevereiro do ano passado para obter informações sobre o frigorífico Larissa, de Iporã (PR), de Paulo Roberto Sposito, que foi candidato a deputado federal por São Paulo em 2010.
“Grande chefe, tudo bem? Viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo? O cara que está fiscalizando lá apavorou o Sposito, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico… botou a boca. Deixou o Paulo apavorado”, afirmou Serraglio ao telefone. Gonçalves entrou em contato com o fiscal da área para ser informado sobre o ocorrido. Informado de que não haveria nada de errado na empresa, o superintendente passa a informação a Serraglio.
O Ministério da Justiça divulgou nota em que destaca a conclusão do Ministério Público e da Justiça Federal de que não há indício de ilegalidade na conversa que envolve o ministro. “Se havia alguma dúvida de que o Ministro Osmar Serraglio, ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si só. O Ministro soube hoje, como um cidadão igual a todos, que teve seu nome citado em uma investigação. A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo Juiz Federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada”, diz a nota.
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