Preso desde o dia 9 de março, o ex-vice-governador do Distrito Federal Benedito Domingos alega dificuldade para pagar seus advogados de defesa. Para ajudar nas despesas jurídicas, familiares e amigos do político estão vendendo rifas para o sorteio de dois carros zero quilômetro, um Fiat Palio 2015/2016 e um Fiat Uno 2015/2016, ambos modelos com duas portas. Cada bilhete para concorrer aos prêmios custa R$ 1 mil e é oferecido via telefone e WhatsApp para empresários e políticos brasilienses. Benedito cumpre pena de nove anos e oito meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e fraude em licitação. Ele foi o primeiro político a ser preso após o Supremo Tribunal Federal (STF) firmar o entendimento de que a punição deve começar a ser cumprida após a condenação em segunda instância.
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Não se sabe quanto foi arrecadado, mas centenas de empresários e políticos do DF já compraram a rifa para ajudar Bené (como Benedito é conhecido na cidade) e participar do sorteio. Entre eles, os ex-senadores Lindberg Cury, que foi presidente da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), e Gim Argello, preso no âmbito da Operação Lava Jato desde 12 de abril, na fase batizada de “Vitória de Pirro”. Também vai concorrer ao sorteio dos carros a ex-vice-governadora do DF Maria de Lourdes Abadia. A maioria dos participantes da campanha nasceu ou costuma frequentar a cidade de Taguatinga, onde Benedito sempre militou e chegou a ser administrador regional.
A campanha começou em meados de abril e o sorteio dos carros está marcado para 23 de junho, data em que Benedito completará 82 anos. No início, apenas um automóvel seria sorteado e cem rifas vendidas. Porém, segundo mensagem enviada aos amigos, “diante da aceitação e êxito” obtido, “foi permitido ampliar esta campanha, inserindo mais um carro como premiação e ofertando a um leque maior de amigos a oportunidade de participar e concorrer aos prêmios oferecidos”.Filho de Benedito, Sérgio Domingos disse ao Congresso em Foco que a situação do ex-vice-governador é “crítica”. Sérgio conta que o pai já perdeu 20 quilos desde que foi preso e está com a saúde muito debilitada. “Se ele fosse uma pessoa que tivesse condição financeira, com certeza os amigos não estariam tentando ajudar. Nem dinheiro para pagar advogados ele tem”, disse.
Em mensagem enviada aos amigos, os organizadores da campanha justificam que “Benedito Domingos e família atravessam um momento muito delicado”. Segundo o texto, o ex-vice-governador está preso “injustamente” e “em decorrência de falhas na defesa processual”. Diz ainda que os altos custos se devem à necessidade de substituir os advogados de defesa do político “a fim de dar entrada em novos recursos, recursos estes que possam devolver ao Benedito sua justa liberdade”. A família pretende com a troca de advogados e os novos recursos, pelo menos, transferir Benedito para o regime de prisão domiciliar.
Segundo o filho, Benedito está preso “por conta de R$ 30 mil”. “Ele emprestou, do dinheiro próprio dele, R$ 30 mil para uma empresa de Santa Catarina, do neto dele. O neto devolveu, cerca de 50 dias depois, os R$ 30 mil”, conta Sérgio. “No primeiro julgamento, eles desconsideraram o empréstimo e consideraram os R$ 30 mil como propina”. Ele atribui a prisão ao “relaxamento” dos advogados que cuidavam da causa.
Corrupção
Benedito Domingos foi deputado distrital e vice-governador do Distrito Federal entre 1994 e 1998. Ele foi condenado a nove anos e oito meses de prisão, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, pelos crimes de fraude em licitação e corrupção passiva. Sua prisão foi baseada na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciada em 17 de fevereiro, sobre o cumprimento de pena de prisão antes do fim do processo, para condenados em segunda instância.
Ainda em 2014, apoiadores do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), também pediram ajuda – mas pela internet – para arrecadar o valor suficiente para pagar a multa do ex-ministro pela condenação no processo do mensalão. De acordo com os organizadores, foi arrecadado R$ 1.083.694,38, quantia necessária para pagar a pena pecuniária do crime de corrupção ativa e os impostos incidentes sobre as doações.
Correligionário de Dirceu, José Genoino também fez uma “vaquinha” para quitar a multa aplicada pela Justiça por sua condenação no processo do mensalão. O valor arrecadado superou os R$ 667,5 mil impostos pela Justiça.