Quando os manifestantes desceram para a sede do Legislativo brasileiro, a tensão estava no ar. Pelo menos 200 policiais militares fizeram um cordão de isolamento para deixar os integrantes do protesto limitados ao gramado, na área próxima aos espelhos d’água. Na maior parte do tempo, a manifestação foi pacífica. Mesmo assim, houve momentos críticos. Dois manifestantes foram detidos pela Polícia Militar quando tentaram invadir a rampa do Congresso. Houve empurra-empurra e uso de gás de pimenta pela polícia.
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Apesar do cerco da Polícia Militar, os manifestantes conseguiram subir no teto do Congresso com facilidade. Ficaram lá por aproximadamente meia hora, gritando palavras de ordem e mostrando cartazes. Durante a ocupação, uma janela da vice-presidência da Câmara foi quebrada. Este é o único relato até o momento de dano ao patrimônio público. “Essa invasão do Congresso é simbólica porque é uma manifestação em cima das autoridades”, afirmou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer ao Congresso em Foco.
Apesar das intensas mobilizações, o cientista político acredita que as manifestações são oportunistas. “Elas acontecem por causa da Copa das Confederações, que é quando o mundo inteiro está com os olhos voltados para cá. Mas não é uma revolução. Esse movimento vai acabar assim que a Copa acabar e só será retomado no ano que vem, quando começar a Copa do Mundo”, afirmou.
Integrantes dos grupos que organizaram o protesto não negam isso. Roberto Lenox, do Comitê Popular da Copa no Distrito Federal, lembrou que a manifestação coordenada em 11 capitais tem uma série de demandas. Em Brasília, eles, ao mesmo tempo que prestam solidariedade aos colegas feridos semana passada em São Paulo no que agora é conhecido como a Revolta do Vinagre, querem mais transparência nos gastos com dinheiro público na Copa do Mundo de 2014.
Até agora, o governo local gastou aproximadamente R$ 1,2 bilhão na reforma do Estádio Nacional Mané Garrincha. A arena recebeu Brasil contra Japão na Copa das Confederações e deve sediar outras sete partidas na Copa do Mundo. No entanto, fora do período das competições, existe a preocupação sobre seu uso, se o espaço não ficará ocioso. “O povo ocupar o Congresso é sempre bonito”, resumiu Lenox.
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Durante aproximadamente uma hora, uma boa parte dos manifestantes ficou no gramado em frente à varanda do Congresso e em frente à chapelaria. A intenção era invadir o prédio. Servidores da Câmara chegaram a elaborar um plano de contingência caso isso acontecesse. Bombeiros estavam de prontidão e os hospitais mais próximos foram avisados sobre a possibilidade de feridos. Apesar de momentos de tensão, do uso de gás lacrimogêneo e spray de pimenta pela polícia – retrucado com o lançamento de um martelo e da abertura de um extintor de incêndio pelos manifestantes, a ameaça não se concretizou.
Um dos poucos deputados presentes na Câmara, Mendonça Filho (DEM-PE) temia pelo pior. Achava que se os manifestantes entrassem, haveria quebra-quebra dentro do Congresso. Conversou diversas vezes com o presidente em exercício da Câmara, André Vargas (PT-PR), para que o efetivo policial fosse aumentado. Durante a manifestação, o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, disse ter sido agredido por participantes do protesto, que teriam cuspido nele quando tentou negociar o término do protesto.
Secretário-geral da Câmara, Mozart Viana testemunhou boa parte das manifestações ocorridas no Congresso desde a década de 1980. Da chapelaria, acompanhando a movimentação dos adolescentes, ele comentava que a ocupação era inédita. Mozart só lembrava de feito parecido durante a elaboração da Constituição de 1988. Mas ressaltou que os movimentos eram diferentes. “Naquela época, havia uma convergência entre o que as pessoas queriam e o que o Congresso fazia”, disse.
Nesta linha, David Fleischer entende que as mobilizações brasileiras são diferentes das chamadas “Primavera Árabe” e “Occupy”. Ele acredita que há um negativismo latente porque a inflação chegou ao bolso das pessoas e as motivou a ir às ruas. “O momento é problemático por conta desse negativismo. Pela primeira vez o problema econômico está pegando as pessoas”, disse.
No entanto, o cientista político repudiou as ações violentas dos manifestantes. Para ele, o direito legítimo de manifestar não pode dar razão para que vandalismos e depredações do patrimônio público aconteçam. “O problema é quando a manifestação foge do controle e parte para a destruição. Daí a polícia precisa intervir para garantir a segurança e a integridade do patrimônio. Acontece que a polícia não é bem treinada para fazer isso”.
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