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Também não foram calculadas as perdas de valor recuperável de alguns dos ativos da Petrobras, que foram depreciados em razão do escândalo. O resultado final do terceiro trimestre do ano passado, em relação ao período anterior, foi uma queda de 38% no lucro líquido, de R$ 4,959 bilhões para R$ 3,087 bilhões. O assunto é destaque de capa dos principais jornais e demais veículos de imprensa do país.
“Em face da impraticabilidade de identificar os pagamentos indevidos de forma correta, completa e definitiva, e da necessidade de corrigir esse erro, a Companhia decidiu lançar mão de duas abordagens: (i) diferença entre o valor justo (fair value) de cada ativo e seu valor contábil e (ii) quantificação do sobrepreço decorrente de atos ilícitos usando informações, números e datas revelados nos depoimentos e termos de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava Jato. Os ativos selecionados para avaliação do valor justo somam R$ 188,4 bilhões, praticamente 1/3 do ativo imobilizado total da Petrobras (R$ 600,1 bilhões) e tiveram, como referência, os contratos firmados entre a Petrobras e as empresas citadas na Operação Lava Jato entre 2004 e abril de 2012”, diz o balanço “não revisado”, assinado pela presidente da companhia, Graça Foster.
“Quanto aos resultados deste 3º trimestre de 2014, nosso lucro operacional foi de R$ 4,6 bilhões, 48% abaixo do realizado no 2º trimestre (R$ 8,8 bilhões). Essa redução é explicada, principalmente, por gastos com o Acordo Coletivo de Trabalho (R$ 1,0 bilhão), pelo pagamento do acordo com a Bolívia para importação do gás natural (R$ 0,9 bilhão) e pelas baixas no ativo referente aos Projetos Premium I e II (R$ 2,7 bilhões). Por outro lado, a maior produção de petróleo e consequente exportação agregaram R$ 2,4 bilhões ao resultado operacional deste 3º trimestre em relação ao trimestre anterior. O lucro líquido totalizou R$ 3,1 bilhões, 38% abaixo dos R$ 5,0 bilhões no 2º trimestre, refletindo o menor lucro operacional”, registra o comunicado.
No comunicado, Graça Foster garante que os efeitos da Lava Jato não serão suficientes para afetar a “posição de caixa” ou a capacidade de geração operacional da empresa. Também assegura que será mantida a política de preços de diesel e gasolina de maneira a evitar a transferência, para o consumidor, das consequências da “volatilidade do mercado internacional” – oscilação que, segundo a empresa, “favorece excepcionalmente” o fluxo de caixa.
A divulgação dos valores, mesmo a prescindir da revisão de auditores independentes – o que não é bem visto por investidores internacionais –, tem como objetivo imediato de respeitar obrigações junto a credores, além de propiciar ao seu público alvo o acesso às informações. A despeito de todo o esforço em divulgar seus resultados, fica claro o mal estar da estatal ante o mercado.
“A companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da Operação Lava Jato”, acrescenta o comunicado, com a promessa de buscar a adequação de valores e o aprimoramento de controles internos.
O Plano de Negócios 2015-2019, que define as metas da Petrobras para o período, ainda não foi divulgado. No plano estratégico apresentado em fevereiro de 2014, fatores como a meta de endividamento, estipulada em 35%, consideravam um cenário diverso do atual, que apresenta queda de preços do petróleo e dólar em patamar mais elevado, com a petrolífera já sob os efeitos da Lava Jato.