Reportagem da revista Época revela, em mais um desdobramento da delação premiada feita à Justiça pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que os contratos com a estatal tinham uma taxa de desvio de dinheiro público variando entre 18% e 20%. Segundo a matéria, o valor de apenas um dos contratos, assinado com um consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e OAS, foi de R$ 3,1 bilhões, e envolvia projetos na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
A reportagem de Época, que teve acesso a documentos classificados como “reservados” pela Petrobras, lista diversas empresas envolvidas nas negociatas. O contrato com a Odebrecht e a OAS, por exemplo, foi “uma grande vitória” não só para as empreiteiras, mas para o próprio Paulo Roberto, “indicado por PP, PMDB e PT, e Renato Duque, diretor de Serviços, indicado pelo PT”.
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“O terceiro personagem estava na Odebrecht: o engenheiro Rogério de Araújo, diretor da empreiteira. Ele assinou o contrato. Segundo Paulo Roberto confessou aos procuradores que investigam esquemas de corrupção na Petrobras, […] o contrato foi superfaturado, num percentual entre 18% e 20%, de maneira a assegurar o pagamento de propina aos envolvidos. Eram pagamentos a funcionários da Petrobras, como ele e Duque; a lobistas que atuaram no negócio; e, finalmente, a diretores das empreiteiras. O contrato, disse Paulo Roberto, só foi fechado após um acerto entre ele e Araújo, o diretor da Odebrecht. O acerto previa pagamento de propina a Paulo Roberto em paraísos fiscais – e o compromisso de ‘colaboração’ financeira às campanhas dos partidos da base aliada, que asseguravam o aparelhamento político na Petrobras”, diz trecho da reportagem.
A revista diz que checou as informações inéditas com três investigadores com acesso aos depoimentos de Costa, que chefiou a diretoria de Abastecimento entre 2004 e 2012, e entrevistou dois “operadores do esquema” sob condição de anonimato. Segundo a delação, os percentuais de superfaturamento aplicavam-se à maioria dos contratos firmados no período, e o dinheiro extra desviado era distribuído entre os envolvidos.
“Paulo Roberto contou aos procuradores que vendia às empreiteiras algo que definiu como um ‘pacote de serviços’. Em vez de cobrar propina por contrato fechado, preferia vender seus préstimos no atacado e criar uma relação comercial duradoura e profissional”, diz outro trecho da reportagem, com menção aos “sucessivos aditivos” autorizados por Costa nos contratos. “Paulo Roberto afirmou aos procuradores que o pacote da Odebrecht incluía os contratos na refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Pelo acordo, cabia a Paulo Roberto (mas não apenas a ele) assegurar que a Odebrecht ganhasse e mantivesse contratos nas duas obras, entre as mais caras da Petrobras. Em contrapartida, Paulo Roberto disse que recebeu US$ 23 milhões, por intermédio da Odebrecht, em suas contas secretas na Suíça.”
Devolução de fortuna
PublicidadeCosta, cuja delação premiada foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal, está em prisão domiciliar e usa tornozeleira eletrônica. Comprometeu-se a devolver o dinheiro desviado no esquema – US$ 28 milhões em contas secretas, além de bens como mansões e lanchas. Como lembra a revista, ele é obrigado a continuar colaborando, nos termos da delação, com as investigações e seus desdobramentos. Ele perde o benefício e volta para a cadeia se o que diz não for verdade.
“Paulo Roberto entregou, além da Odebrecht, maior empreiteira do país, os demais gigantes do setor: Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, entre tantas outras. Entregou, também, multinacionais poderosas da indústria do petróleo, como Trafigura e Glencore, as grandes vendedoras de derivados de combustível no mercado internacional. E entregou uma extensa lista de deputados, senadores, ministros e governadores que, segundo ele, se beneficiaram, direta ou indiretamente, da corrupção orgânica na maior empresa do Brasil”, acrescenta a reportagem.
Ainda segundo a revista, as consequências da delação serão “severas”. “Os desdobramentos da Operação Lava Jato, caso não sejam barrados por algum tribunal, terão consequências profundas, política, econômica ou juridicamente. […] As consequências políticas do caso serão imediatas e severas. Com tantos parlamentares e políticos poderosos sob investigação, o próximo presidente, seja ele quem for, terá de controlar o risco de uma crise institucional no Congresso. Num primeiro momento, qualquer reforma que precise passar pela Câmara e pelo Senado está descartada. Os parlamentares começarão 2015 sob intensa pressão para também investigar e punir os políticos suspeitos de participar no esquema. É altamente improvável que os nomes dos envolvidos permaneçam muito mais tempo em segredo”, diz o texto, que detalha mecanismos, personagens e valores do esquema de corrupção.
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