Fábio Góis

No segundo bloco do penúltimo debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), em curso na TV Record, a polêmica sobre as reservas de petróleo na camada do pré-sal, descobertas no governo Lula, veio à tona. O tucano acusou a petista de mentir sobre as pretensões dele sobre a Petrobras. “Ela tem dito mentiras a meu respeito, dizendo que eu pretendo privatizar o petróleo do pré-sal”, atacou Serra, acusando a adversária, que presidiu um cargo-chave na estatal, de entregar a riqueza ao capital estrangeiro.

Serra fazia menção à época em que Dilma era diretora do Conselho de Administração da Petrobras, colegiado responsável pelas decisões operacionais da empresa. “Ela entregou a exploração de petróleo para 108 empresas privadas. Não é coerente o que ela fez. Uma hora diz que é contra a privatização, outra hora aparece fazendo o que fez”, disse o candidato, usando a tática da campanha petista.

Dilma insistiu na versão de que os tucanos privatizariam a Petrobras caso conquistassem a Presidência. Depois de exaltar a descoberta (“o pré-sal é um bilhete premiado, e foi descoberto recentemente”), disse que o governo suspendeu “todos os leilões” para preservar da especulação internacional as reservas do minério. 

“Acho estranho que você negue que não queira privatizar o pré-sal. Luis Paulo Veloso Lucas [ex-governador tucano do Espírito Santo] disse que Petrobras e Brasil não têm competência para explorar o pré-sal”, rebateu a petista, apontando as “diferenças” entre o modelo de gestão petista e tucana. “Você está fazendo uma deliberada enrolação, confundindo os momentos em que não havia pré-sal com o momento em que havia pré-sal”, acrescentou, referindo-se à data da descoberta.

Serra acusou o PT de dizer que “quem defende a privatização é o capeta”, e disse que toma decisões seguindo “a própria cabeça”. O tucano lembrou que Collor, que foi “deposto por corrupção e é cabo eleitoral com muita força” de Dilma, comanda postos da BR Distribuidora, braço da Petrobras.

Dilma replicou dizendo que pretende manter o debate “em alto nível”, e que o Brasil foi transformado em um dos maiores fonte de petróleo do mundo. Disse também que o governo mudou o modelo de distribuição dos recursos provenientes da extração (de concessão para partilha entre os estados) para evitar privatizações. “Nós mudamos a regra porque descobrimos petróleo, e não tínhamos petróleo antes”, ponderou a candidata, para quem confundir os dois momentos é “esconder a realidade”.

Dilma lembrou ainda que o PSDB se opôs, durante as votações de projetos sobre o tema no Congresso, às alterações na distribuição das riquezas do pré-sal pelos estados brasileiros. E fez menção à hipótese, levantada no governo Fernando Henrique Cardoso, de mudança no nome da estatal. “Você ficou caladinho quando mudaram o nome Petrobrax, substituindo o BR de Brasil. O senhor não tem coragem de assumir sua posição e diz que não se influencia pelos outros. Então deve trocar de partido, porque seu parido votou contra a alteração do sistema de partilha”, fustigou a ex-ministra da Casa Civil.

Serra rebateu com veemência a versão de Dilma sobre a troca de nome, e disse que não concordou com o termo Petrobrax. “Dilma diz que eu minto, ela é uma profissional nessa arte.”