A defesa do presidente Michel Temer (PMDB) contratou uma perícia própria que diz ter constatado mais de 70 “pontos de obscuridade” na gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, um dos donos da JBS, na qual a Procuradoria-Geral da República (PGR) vê indício de cometimento, por parte do presidente, de crimes como obstrução à Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. Em coletiva de imprensa convocada pelos advogados de Temer, o perito Ricardo Molina, contratado para analisar a gravação, afirmou que quando se trata de prova material “não existe prova mais ou menos boa”.
“Ela [a gravação] deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento”, ressalta Molina, conhecido pela atuação em casos diversos envolvendo políticos – como o que envolveu o então candidato à Presidência da República José Serra, hoje senador pelo PSDB de São Paulo), atingido por uma bolinha de papel naquele pleito (relembre aqui e aqui). Naquela ocasião, Molina foi contratado para fazer uma perícia de imagens sobre a suposta agressão contra o tucano.
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“Essa gravação tem problemas. […] O gravador é vagabundo e custa R$ 26 reais. É estranho um gravador em 4 bits”, contesta o advogado, que também questiona: “Acho que Joesley poderia ter comprado coisa um pouquinho mais cara, né?”.
De acordo com o perito, a gravação é completamente “esburacada”. “[A gravação] é contaminada por inúmeros descontinuidades, mascaramentos por ruídos, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa e várias outras incertezas. Não poderia ser considerada”, ressalta. “É possível que algumas descontinuidades tenham sido geradas por este gravador de 18ª categoria. É possível que possa”, pontuou.
PGR “ingênua”
Ricardo Molina criticou ainda a postura do MPF de ter anexado a gravação ao inquérito sem tê-la submetido à perícia da Polícia Federal (PF). “Eles concluem que o diálogo ‘encontra-se audível, apresentando sequência lógica’. Na fala do presidente, mais da metade é ininteligível. Se [a fala] de um dos interlocutores que participaram da gravação é ininteligível, como dizer que tem sequência lógica?”, argumentou.
Ao ser questionado se o perito imagina que a PGR seria ingênua para usar uma prova frágil, Molina ressaltou: “A procuradoria é ingênua, sim! […] As duas pessoas que mexeram naquilo não sabem absolutamente nada de áudio”.
O perito iniciou seu discurso afirmando que a contratação da perícia foi motivada por informações publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. A defesa também afirmou que enviará ao ministro Edson Fachin, responsável pela Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), a perícia particular mostrando as mais de 70 obscuridades na gravação de Joesley.
No início da tarde desta segunda-feira (22), a defesa de Temer protocolou petição no STF desistindo do pedido de suspensão da investigação contra o presidente. Inicialmente, a defesa de Temer pedia ao Supremo a suspensão do inquérito até que fosse realizado perícia na gravação do áudio entregue por Joesley à PGR.
A defesa alegou que tem segurança de que o áudio é “imprestável”. Diante da conclusão da perícia própria, os advogados afirmaram que querem que o inquérito prossiga para provar a inocência do presidente.
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