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No próximo dia 12 de junho, quando o Dia dos Namorados mobiliza corações mais sensíveis, Marconi enfrentará a gelidez de um depoimento na comissão mista de inquérito – a convocação foi definida na última quarta-feira (30), depois de o próprio governador ter ido ao Congresso se oferecer para depor, no que foi interpretado como estratégia marqueteira do PSDB para demonstrar isenção e integridade frente ao caso Cachoeira.
Na sequência, Agnelo Queiroz também foi convocado a depor, o que considerou uma “absoluta injustiça”. “Respeito a decisão da CPI. Mas a considero uma absoluta injustiça, pois esse grupo criminoso não conseguiu fazer negócios no Distrito Federal”, disse o petista, lembrando de sua condição de ex-parlamentar. O depoimento está previsto para 13 de julho, um dia após a data da convocação de Marconi. Tentou-se ainda a convocação de um terceiro governador – Sérgio Cabral, do Rio – por suas notórias relações com o antigo presidente da empreiteira Delta Construções, Fernando Cavendish (o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) publicou em seu blog uma sequência de fotos de Cabral em comemorações com Cavendish em Paris). Mas, por enquanto, Cabral escapou da CPI.
Em situações diferentes
Evidentemente, nenhum dos dois governadores estará em situação confortável ao se sentar na desconfortável cadeira de depoente em uma CPI. Mas é inegável que Marconi chegará a essa condição em posição mais delicada que Agnelo. O governador do Distrito Federal não aparece pessoalmente em qualquer diálogo das milhares de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no âmbito das operações Vegas e Monte Carlo, que desbarataram o esquema criminoso de Cachoeira. O que, porém, não o isentará de dar explicações. Isso porque assessores diretos, bem próximos, de Agnelo são mencionados. O principal exemplo é o ex-chefe de gabinete do governador Claudio Moteiro, citado em escutas telefônicas que tratam do pagamento de mesadas por parte do grupo de Cachoeira para ter benefício a contratos milionários em serviços públicos com o GDF. Claudio foi demitido em 10 de abril.
Pelo que mostram as investigações, o esquema de Cachoeira tinha interesse em entrar em algumas áreas do governo do Distrito Federal, especialmente as ligadas à coleta de lixo e transportes.
Marconi Perillo, porém, é flagrado em diálogos com o próprio Cachoeira. E, inicialmente, Marconi admitia apenas uma relação distante com o bicheiro. Que, de certa forma, contradiz-se com o tom de conversas flagradas nas investigações. Uma das conversas entre Marconi e Cachoeira aconteceu às 20h48 da terça-feira, 3 de maio de 2011. Era o aniversário de 48 anos de Cachoeira. Perillo liga para o bicheiro para parabenizá-lo, chamando-o primeiramente de “Liderança”. E ainda reclama por não ter sido convidado para a festa de aniversário: “Rapaz, faz festa e não chama os amigos?”, pergunta o governador. O conteúdo dessa interceptação telefônica, quando Perillo e Cachoeira chegam a combinar um jantar, foi publicado com exclusividade por este site (leia mais e confira a íntegra do telefonema).
Dinheiro, casa e roupa (suja) lavada
Outros flagrantes da investigação da Polícia Federal reforçam as suspeitas da relação de Perillo com o esquema do contraventor. A maior delas: a casa em que Cachoeira foi preso foi comprada por ele do próprio Perillo.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, trabalho de peritos da PF mostraram que, entre março e maio, Perillo recebeu três cheques nominais (dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil) da Excitant Confecções provenientes de uma conta da Caixa Econômica em Anápolis. A dona da empresa é uma cunhada de Cachoeira. Naquele período, a Delta depositou altas quantias nessa conta por meio de uma empresa fantasma chamada Alberto e Pantoja Construções, criada com o único propósito de receber dinheiro da Delta – em 30 de março, R$ 1 milhão foi repassado.
Perillo negou qualquer tipo de ilicitude na negociação da casa e disse que não cabia ao vendedor verificar a origem dos cheques ou dos recursos. “Quem deve explicações sobre os cheques é o emitente”, disse o governador. Resultado: a PF investiga o nível de envolvimento na negociação por parte da empreiteira Delta, que recebeu pelo menos R$ 48 milhões do governo goiano em 2011.
Leia mais: PF investiga se verba da compra da casa de governador saiu da Delta
Jornalista
Ontem (sexta, 1º), foi a vez de o jornal O Estado de S. Paulo estampar entre suas manchetes mais uma notícia nada favorável ao governador Perillo. Segundo o diário paulista, o jornalista goiano Luiz Carlos Bordoni, responsável pela propaganda eleitoral em rádio de Marconi em 2010, afirma que uma empresa do esquema de Cachoeira foi usada para pagar os serviços de publicidade que ele prestou para a campanha.
De acordo com Bordoni, o pagamento também foi feito pela Alberto e Pantoja Construções, a tal empresa fantasma que, segundo a PF, era controlada por Cachoeira. Ainda segundo Bordoni, o pagamento foi comandado por Lúcio Fiúza Gouthier, assessor especial de Perillo – R$ 90 mil ficaram pendentes de pagamento após as eleições, disse o jornalista, reproduzindo o que consta dos autos da operação Monte Carlo.
Confira: Assessor diz que recebeu de Cachoeira por serviço a Perillo
Ontem (sábado, 2), outra reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que, por meio de relatório, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda, descobriu que uma das empresas de Cachoeira recebia dinheiro do governo goiano entre o primeiro e o segundo mandatos de Perillo (entre 1999 e 2002 e entre 2003 e 2006). Suspeita de servir como empresa de fachada para evasão de divisas e lavagem de dinheiro, diz o jornal, a BET Capital recebeu R$ 1,3 milhão em depósitos da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas entre 2002 e 2005. Na CPI, parlamentares vão questionar Perillo se os recursos têm como origem serviços de fato prestados ao governo de Goiás.
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Ninho tucano
Diante dos novos indícios da ligação de Perillo com Cachoeira, correligionários do governador têm evitado defendê-lo publicamente – a ponto de, em uma reunião recente com membros da cúpula tucana, Perillo ter se queixado da falta de apoio na CPI e, em um momento de desabafo, ter ameaçado contar o que sabe. Ao Congresso em Foco, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), disse neste sábado (2) que a situação de Perillo não é fácil.
O líder tucano admite que a situação de governador, embora menos grave que a de Demóstenes Torres, é constrangedora, e a solução passa pelos argumentos que Perillo levará á CPI para tentar afastar as dúvidas que o envolvem. “Se ele não tiver competência, argumentos convincentes para enfrentar os questionamentos na CPI, que devem ser duros, o grau de dificuldade para ele será enorme”, avaliou o senador.
Observando que o envolvimento de Perillo é apenas um “detalhe” em favor dos planos de Lula em adiar – ou desqualificar – o julgamento do mensalão, previsto para agosto, Alvaro Dias diz que a relação de proximidade com o ex-presidente com o Supremo deixa evidente sua interferência no processo, em ano eleitoral. “A soma de esforços na comissão com as ligações de Lula junto aos ministros do STF – e todos sabem que não era apenas como o ministro Gilmar Mendes – demonstra que o propósito claro do presidente é desviar o foco, se possível adiando o julgamento”, disse o tucano, referindo-se à suposta pressão feita por Lula junto ao ministro do STF Gilmar Mendes, revelada na edição da semana passada da revista Veja, para que o julgamento ficasse para 2013, ano sem eleições. “A cabeça do Lula funciona, em tempo integral, eleitoralmente. Perillo é só um detalhe nessa história.”