FOLHA DE S.PAULO
Perillo cobrou dinheiro de empreiteira, indica grampo
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), esperava receber um pagamento da empreiteira Delta poucos dias antes de acertar a venda de sua casa, que, no final, acabou sendo comprada pelo empresário Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro pela Polícia Federal. É o que indica uma ligação interceptada pela PF no dia 27 de fevereiro de 2011 entre Cachoeira e o então diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu.
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Falando sobre uma suposta cobrança que estaria sendo feita por Marconi Perillo, Cachoeira diz o seguinte ao seu interlocutor: “Cláudio, e aquele trem do Marconi? Marconi já falou com o Wladimir [Garcez, assessor de Cachoeira] de novo”. Cláudio Abreu, o diretor da Delta, diz então que Wladimir “deve ter conversado lá [sobre] esse negócio de R$ 2,5 milhões” com Perillo, mas que não tinha como pagar.
Cachoeira responde que o governador Perillo não queria R$ 2,5 milhões, mas só “a diferença”. Um dia depois dessa conversa, em 28 de fevereiro, Cláudio Abreu repete para Wladimir Garcez o discurso que havia feito a Cachoeira sobre a falta de dinheiro, mas diz que tentaria solucionar o problema.
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No dia seguinte, três cheques foram entregues a Perillo por Garcez para comprar o imóvel. Eles totalizam R$ 1,4 milhão. À CPI do Cachoeira, Wladimir Garcez disse que pegou o dinheiro emprestado com Cláudio Abreu, o diretor da Delta. Na conversa do dia 27 de fevereiro, não fica claro sobre o que se referia o pagamento que, aparentemente, estava sendo aguardado por Perillo.
‘Jamais recebi pagamento da Delta’, diz tucano
O governador Marconi Perillo (PSDB-GO) afirmou, em nota, que “jamais recebeu nem, muito menos, aguardou qualquer tipo de pagamento da Delta, do sr. Cláudio Abreu ou do sr. Cachoeira”.
Perillo afirmou não ter conhecimento sobre a que se referem essas “gravações de terceiros”. “Os que insistem em estabelecer alguma relação entre a venda da casa e o sr. Cachoeira continuarão buscando uma situação que contraria os fatos”, diz.
A defesa de Cláudio Abreu disse que ele não comentaria gravações pontuais. Os advogados de Cachoeira não ligaram de volta.
Tucano diz que relator da CPI deve ser isento e não ‘cabo de chicote’
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), cobrou isenção do relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), e disse que ele não deve ser “cabo de chicote de ninguém”. Em resposta, Cunha afirmou que isso não o “intimida”.
Na última terça-feira, Cunha disse, após depoimento do arquiteto Alexandre Milhomem na CPI, que o governador de Goiás havia mentido à comissão ao negar que tenha vendido sua casa para o empresário Carlinhos Cachoeira -preso durante a Operação Monte Carlo. Milhomem foi contratado por Cachoeira para decorar a casa dois meses antes de a escritura do imóvel ser registrada em cartório em nome de um outro empresário, Walter Paulo Santiago.
Perillo afirma que vendeu o imóvel a Santiago. No entanto, os cheques que recebeu pela casa são de empresa relacionada ao suposto esquema de Cachoeira. Ontem, após as declarações do governador tucano, o relator da comissão respondeu que “não se intimida” com as críticas de Perillo. “O que espero do governador é que ele colabore com esta CPI”, afirmou Cunha.
Investigado é aplaudido por CPI e sai emocionado
A CPI do Cachoeira voltou a aplaudir um investigado. Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz (PT-DF), foi chamado para explicar supostas relações com o grupo de Carlinhos Cachoeira, mas deixou o local sob lágrimas e aplausos até da oposição.
Monteiro foi citado em conversas como alguém que teria aberto as portas do governo do Distrito Federal para Cachoeira. Os áudios indicam que ele teria recebido um rádio Nextel de Cachoeira, como outros membros do grupo. Ele nega. Após a divulgação, ele deixou o cargo.
Mesmo protegido por um habeas corpus, que o permitia permanecer em silêncio, ele resolveu falar. A iniciativa desarmou integrantes da oposição. Apesar de negar envolvimento com Cachoeira, Monteiro confirmou encontro com Idalberto Matias Araújo, o Dadá, suposto araponga da grupo, e com Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta. Segundo ele, ambos se apresentaram como representantes da construtora.
Partido de Kassab vira 4ª força eleitoral após vitória no STF
O PSD de Gilberto Kassab conseguiu ontem uma vitória no STF (Supremo Tribunal Federal) que o credencia desde já como a quarta força eleitoral do país. Criado no ano passado pelo prefeito de São Paulo, o partido teve reconhecido pelo STF o direito a ter propaganda eleitoral na TV e financiamento público proporcionais à sua bancada na Câmara – a quarta maior, com 48 dos 513 deputados.
Toffoli vota a favor do tempo maior de TV ao PSD
Oito dos 11 ministros concordaram com a tese. A decisão, que ainda será proferida hoje, já que Cármen Lúcia não estava presente, também possibilitará ao PSD cargos nas comissões do Congresso. Até ontem, a regra dava tempo na propaganda eleitoral de TV e financiamento público significativos só às siglas que tivessem eleito deputados federais em 2010. Como o PSD foi criado em 2011, era tratado como “nanico”.
Ontem, a maioria dos ministros entendeu que, como todos os deputados agiram com respaldo legal ao saírem de seus partidos originais para integrarem o PSD, esses políticos carregaram consigo os votos que tiveram em 2010. A decisão beneficia todos os candidatos a prefeitos que se aliaram à nova sigla, entre eles o candidato à Prefeitura de São Paulo José Serra (PSDB), que se aliou a Kassab e agora passa a ter o maior tempo na propaganda eleitoral que começa em agosto, à frente do seu principal adversário, Fernando Haddad (PT).
PC do B apoia Haddad, mas não deixa cargos
Nova candidata a vice-prefeita de São Paulo na chapa do petista Fernando Haddad, a presidente estadual do PC do B, Nádia Campeão, disse ontem à Folha que seu partido não vai entregar os cargos que mantém na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Ela também saiu em defesa da aliança com Paulo Maluf (PP), que levou sua antecessora Luiza Erundina (PSB) a abandonar a campanha com críticas ao que julgou excesso de pragmatismo do PT.
No governo Kassab, o PC do B comanda a Secretaria de Articulação da Copa de 2014, com Gilmar Tadeu. O prefeito tem sido criticado por Haddad e apoia seu principal adversário, José Serra (PSDB).
“No que depender de nós, o PC do B permanece na secretaria. O candidato é o Serra, não o Kassab”, disse Nádia, que foi secretária de Esporte na gestão da petista Marta Suplicy (2001-2004). Ela classificou a gestão do prefeito de “mediana”: “Nota cinco, com boa vontade”.
Prefeito de SP é criticado por não cumprir suas metas
Um evento para fazer um balanço das metas cumpridas pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) se transformou em palco de críticas à atual gestão por quatros candidatos à Prefeitura de São Paulo. Segundo a Rede Nossa São Paulo, Kassab só fez 81 de 223 metas prometidas. Fernando Haddad (PT) criticou o prefeito por não aparecer: “É um desrespeito lançar um plano e depois fugir da responsabilidade de prestar contas”.
O petista também atacou José Serra (PSDB). “Não precisamos de prefeito de meio mandato e de prefeito de meio expediente.” Já Gabriel Chalita (PMDB) chamou a gestão Kassab de “tacanha”. “As metas foram criadas pelo prefeito depois de eleito. Ele não cumpriu o que se propôs a fazer.”
Neto de Sarney desiste de tentar se eleger no MA
Alegando “motivos pessoais”, o neto do senador José Sarney (PMDB-AP) desistiu de disputar a Prefeitura de Paço do Lumiar (MA). A decisão a dois dias do final do prazo para convenções partidárias deixou o PV sem candidato.
“Prejudica os planos do partido”, disse o presidente estadual do PV, Washington Rio Branco. A Folha apurou que a avaliação do grupo da governadora Roseana, tia de Adriano, foi a de que a família ficaria exposta.
Tribunal recua e libera candidatos ‘contas sujas’
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) voltou atrás e decidiu, por 4 votos a 3, que candidatos que tiveram as contas eleitorais reprovadas, os chamados “contas-sujas”, poderão participar das eleições municipais deste ano. Em março, a corte havia editado uma resolução, dizendo que tais candidatos seriam inelegíveis.
TSE libera candidatos com contas reprovadas
Ontem, o tribunal finalizou a análise sobre um pedido de reconsideração feito pelo PT, acompanhado por 13 outros partidos, que havia sido interrompida na última terça-feira, por um pedido de vista do ministro José Antonio Dias Toffoli, quando o placar estava empatado em 3 a 3.
A mudança de orientação aconteceu pois Toffoli entrou no lugar do colega Ricardo Lewandowski, que deixou a presidência do tribunal e sua cadeira no TSE em abril. Ele havia votado pela inelegibilidade dos candidatos com contas eleitorais reprovadas.
Prefeitos da PB são presos por suspeita de desvios
A Polícia Federal da Paraíba prendeu ontem três prefeitos, três secretários municipais e dez funcionários públicos, acusados de desviar R$ 65 milhões. Também foram presas primeiras-damas de municípios do interior. Foram detidos os prefeitos de Solanea, Alhandra e Sapé, e investigadas 13 cidades.
Das prefeituras investigadas, quatro são comandadas pelo PMDB, três pelo PSDB, duas pelo DEM, uma pelo PTB, uma pelo PDT e uma pelo PSD. Batizada de Pão e Circo, a investigação teve atuação do Ministério Público Estadual. Do total desviado, R$ 15 milhões são do Ministério do Turismo. O dinheiro era destinado para festas.
As prefeituras informavam que iriam contratar bandas de renome, como Chiclete com Banana e Ivete Sangalo, mas pagavam para cantores locais, embolsando a diferença. As irregularidades se concentravam em festas de São João, Carnaval e Réveillon. Os investigados fraudavam licitações e processos de inexigibilidade de licitação através da utilização de empresas-fantasmas e documentos ideologicamente falsos.
Ricardo Teixeira ainda recebe salário
Pressionado pelo governo federal e pela Fifa, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF há mais de três meses, alegando que precisava cuidar da saúde. Longe do Brasil, o cartola deixou o comando da confederação, mas ainda recebe pagamentos da entidade que dirigiu por 23 anos.
Morando em Miami desde então, o ex-presidente ganha de José Maria Marin, seu sucessor, mais do que amealhava como dirigente. Na nova gestão, os depósitos para Teixeira continuam sendo feitos na agência do Itaú localizada no condomínio onde funciona a sede da CBF, no Rio. A primeira liberação de pagamento foi autorizada no dia 30 de março. Segundo o borderô da entidade, o dirigente foi autorizado a receber R$ 105 mil. Como presidente da confederação, ele ganhava R$ 98 mil mensais.
A operação foi repetida no final do mês seguinte. Em 30 de abril, a CBF liberou um depósito ainda maior. De acordo com o borderô daquele dia, o cartola recebeu R$ 120 mil. Em maio, a entidade fez nova liberação. A reportagem não conseguiu precisar o valor que foi concedido.
Supremo valida investigação da Procuradoria em caso Celso Daniel
A maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) validou a investigação feita pelo Ministério Público sobre a morte, em 2002, do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel. O caso – que não entra no mérito da investigação- só não foi finalizado na corte por conta de um pedido de vista de Luiz Fux anteontem, que suspendeu a discussão a ser retomada somente após o julgamento do mensalão.
No entanto, 6 dos 11 integrantes do STF já proferiram votos, nos quais entendem que não houve ilegalidade na apuração de promotores. Os ministros analisam um habeas corpus proposto por Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que foi denunciado pelo Ministério Público como o mandante do assassinato.
Um dia depois de pacote, BC reduz projeção de aumento do PIB a 2,5%
Um dia depois de o governo lançar mais um pacote para estimular a economia, o Banco Central reduziu sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2012 de 3,5% para 2,5%. Mesmo com a intensificação dos efeitos negativos da crise internacional sobre a indústria, até o fim do mês passado o ministro Guido Mantega (Fazenda) ainda dizia que a economia cresceria entre 3% e 4% este ano. Anteontem, ao lançar programa de compras governamentais, o ministro reafirmou que espera um PIB acima de 2,5%.
E a linha cruzada entre BC e Fazenda se manteve ontem. Apesar da revisão do crescimento pela autoridade monetária, o secretário de Política Econômica da pasta, Márcio Holland, afirmou que o PIB de 2012 será “mais vigoroso” do que os 2,7% de alta observados em 2011. No relatório, o BC destacou a deterioração do cenário na Europa e os efeitos sobre a economia brasileira. O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, também citou o fato de o resultado do PIB ter vindo fraco no primeiro trimestre, e de a recuperação ocorrer de forma “bastante gradual”.
Bloco suspende Paraguai, mas sem sanções
Os chanceleres dos países do Mercosul, reunidos ontem em Mendoza, concordaram em manter a suspensão do Paraguai do bloco, mas descartaram sanções econômicas contra o país. O pré-acordo deve ser referendado hoje, em encontro de chefes de Estado na cidade argentina.
O Mercosul havia suspendido o Paraguai no domingo, dias após o presidente Fernando Lugo ter sido destituído do poder em um processo sumário de impeachment. O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, evitou falar de prazos para a suspensão. Fontes diplomáticas citavam ontem que ela se estenderia até as eleições no Paraguai, previstas para abril de 2013.
“O Protocolo de Ushuaia, do qual são signatários Paraguai, Uruguai e Argentina, além de Chile e Bolívia, preconiza que a plena vigência democrática é uma condição essencial para o processo de integração. Foi nesse sentido que se tomou a decisão no domingo passado e que deverá ser tomada amanhã”, afirmou. “Não existe plena vigência democrática.”
Justiça dá vitória a Obama em lei de saúde
Um juiz conservador deu ontem a Barack Obama a maior vitória política de sua Presidência, a menos de cinco meses das eleições gerais, ao desempatar uma decisão da Suprema Corte a favor da reforma que expande o sistema de saúde dos EUA. A chamada Lei do Seguro- Saúde Acessível, que inclui no sistema 30 milhões de americanos e foi aprovada sem respaldo dos deputados de oposição em março de 2010, foi parar na máxima instância judicial após ser contestada por 26 Estados.
Principal plataforma de Obama, consumiu seu capital político no primeiro ano de governo e lhe rendeu críticas por não ter priorizado a crise no sistema habitacional. O ministro-chefe do Supremo, o conservador John Roberts, surpreendeu ao desempatar a favor do presidente, e o tribunal aprovou por 5 votos a 4 o ponto central da lei. Com ele, todo mundo que vive nos EUA passa a ser obrigado a ter um seguro de saúde, sob pena de pagar uma multa (agora juridicamente transformada em “imposto”).
O GLOBO
Rumo às urnas – TSE libera contas sujas já nestas eleições
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou ontem nova regra permitindo a candidatura dos chamados contas-sujas, aqueles políticos que tiveram a contabilidade da campanha anterior reprovada pela Justiça Eleitoral. Em março, o tribunal havia proibido a participação desses políticos no pleito municipal de outubro. O recuo se deu no julgamento de um recurso apresentado pelo PT, com o apoio de 17 partidos, contra a norma adotada em março. Como a composição do TSE mudou desde então, a norma foi modificada por quatro votos a três.
Ficou restabelecido o entendimento anterior de que é necessária apenas a apresentação da conta de campanha da eleição anterior, e não a aprovação dela, para a candidatura nas eleições seguintes. – O TSE, por maioria, decidiu que a desaprovação das contas de campanha não implica impedimento para obtenção da quitação eleitoral – disse a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, após a votação.
O julgamento do recurso dos partidos começou na terça-feira, com os votos de seis dos sete ministros. O placar estava em três votos a três quando Dias Toffoli pediu vista. Ontem, ele devolveu o processo ao plenário e desempatou a disputa a favor dos contas-sujas. A decisão define o quadro político e facilita a escolha de candidatos e coligações nas convenções partidárias. Os partidos têm até amanhã (dia 30) para realizar as convenções, e até 5 de julho para o registro de candidaturas.
Especialistas criticam decisão do tribunal
A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de liberar os contas-sujas este ano foi criticada por especialistas em legislação eleitoral e integrantes de movimentos pela ética na vida pública. Para o juiz Márlon Reis, um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, esperava-se que o TSE mantivesse a decisão anterior e o veto a esses candidatos.
– Regressar no entendimento é extremamente ruim e vai frontalmente contra os interesses da sociedade brasileira, que mais de uma vez tem deixado claro que não tolera esse tipo de comportamento – disse o juiz. Reis acredita que os candidatos deveriam estar submetidos a rigores maiores que os dos seus eleitores, por isso considerava natural a apresentação da devida prestação de contas em pleitos anteriores:
Promotor eleitoral em Minas Gerais e autor de livros sobre Direito Eleitoral, Edson de Resende Castro classificou a decisão como um “retrocesso lamentável”. – É um grande prejuízo termos disputando as eleições pessoas que não têm comprometimento com a lisura de uma campanha, com o cumprimento da lei em uma questão básica, que é a prestação de contas do que arrecadou e de como gastou. Quando interpretou essa norma em março, o tribunal havia dado um passo importante adiante, moralizador — lamentou o especialista.
Deputados das emendas serão investigados
O PSOL entregou ontem ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), o pedido para que o Conselho de Ética abra uma investigação contra os deputados João Carlos Bacelar (PR-BA) e Marcos Medrado (PDT-BA) pelo esquema de compra de emendas parlamentares. O partido já havia pedido que a Corregedoria da Casa fizesse uma investigação preliminar sobre a venda de emendas do deputado Geraldo Simões (PT-BA) para Bacelar, revelada pela ex-mulher deste, a empresária Isabela Suarez.
– Entramos com a representação junto à presidência para dar enfase à seriedade do caso. O presidente Marco Maia também julga o caso grave. Esse em particular tem um impacto muito grande, mancha a imagem da Câmara. O tráfico que vem sendo feito coloca em xeque o próprio uso das emendas individuais, porque comprar e vender emendas vira um grande negócio, vira financiamento de campanha – explicou o presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), que assinou a representação.
O documento seguirá agora para o Conselho de Ética da Câmara, onde Bacelar já responde a um processo por nepotismo cruzado. O balcão de negociação de emendas na Câmara foi revelado pelo GLOBO há 10 dias. Em conversa reservada com Lílian Bacelar, a irmã de João Carlos Bacelar que trava com ele uma disputa por herança, Isabela Suarez revelou que vários parlamentares vendem suas emendas para financiar suas campanhas. Bacelar, segundo a ex-mulher, as comprava com dois objetivos: enviar recursos para suas bases eleitorais e direcionar verbas para sua empreiteira e outras construtoras com as quais mantém sociedade.
Dilma intercede para evitar aprovação de mais gastos públicos pelo Congresso
Irritada com a tentativa de aprovar, no plenário da Câmara, projetos com potencial de provocar enorme impacto nas contas públicas, a presidente Dilma Rousseff telefonou anteontem à noite para o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), e marcou um jantar com ele semana que vem. A pauta-bomba foi montada pelo petista com os líderes partidários. Os deputados estão insatisfeitos com a demora na liberação de emendas parlamentares, e o governo só tem até o dia 6 para fazer esses pagamentos, por causa das restrições impostas pela Justiça Eleitoral.
O governo conseguiu impedir a votação dos projetos na Câmara esta semana, mas continuam na pauta a redução de 42 para 30 horas semanais a jornada de trabalho de enfermeiros, a criação de adicional de periculosidade para vigilantes e o fim do fator previdenciário. É sobre tudo isso que Dilma quer conversar com Marco Maia. Até porque atendeu recentemente a uma demanda antiga dele: a liberação de R$ 150 milhões para o aumento da verba de gabinete dos deputados, para que ele pudesse cumprir promessa de sua campanha para a presidência da Câmara.
Essa não é a primeira vez que Maia tira Dilma do sério. A presidente ficou furiosa em fevereiro quando, num rompante, o presidente da Câmara suspendeu a votação do projeto que criava o Fundo de Previdência Complementar do Funcionalismo (Funpresp), uma das prioridades do governo, porque perdera um cargo no Banco do Brasil. Anteontem, ministros do governo tiveram que entrar em campo para negociar com os líderes partidários e impedir as votações polêmicas. Agora, a favor do governo conta o fato de que a pauta da Câmara está trancada por medidas provisórias e deve permanecer assim até o início do recesso parlamentar, dia 18.
INSS: sem idade mínima, governo vetará mudanças
O governo só aceita acabar com o fator previdenciário, mecanismo criado há 12 anos para inibir aposentadorias precoces do INSS, se receber uma proposta que, a longo prazo, reduza o custo da Previdência Social. Se não conseguir acordo em torno da criação da idade mínima de aposentadoria – de 60 anos para mulheres e 65 para homens – para os novos trabalhadores, além de uma forma que obrigue os que entraram recentemente no mercado de trabalho a permanecer mais tempo na ativa, a presidente Dilma Rousseff deverá vetar qualquer proposta que simplesmente acabe com o fator.
Segundo projeções de técnicos do governo, o impacto da mudança nas contas da Previdência é estimado em R$ 35 bilhões em dez anos – e crescente ao longo do tempo, podendo chegar a R$ 136 bilhões em 2050. O cálculo considera o crescimento médio da economia de 2,5% ao ano e parte da premissa de que, sem o fator previdenciário, o INSS deixará de economizar por ano o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Só em 2012, o governo estimou que economizará R$ 9,1 bilhões com o fator previdenciário.
Esse aumento no custo da Previdência foi calculado em cima do projeto em tramitação na Câmara, que acaba com o fator e, no lugar, cria a chamada “fórmula 85/95”. Esta estabelece como requisito para aposentadoria a soma de idade com o tempo de contribuição, tendo que chegar a 85 anos no caso das mulheres, e 95 anos, para homens.
Centrais criticam proposta de mexer na aposentadoria
A CUT e a Força Sindical rechaçaram ontem negociação com o governo para estabelecer idade mínima para aposentadoria no INSS. O presidente em exercício da Força, Miguel Torres, classificou como traição a proposta do governo. As entidades alegam que a regra prejudica os trabalhadores mais pobres, que começam a trabalhar ainda adolescentes.
Exclusivo (coluna Esplanada): a nova reforma da previdência
– Para nós, isso é uma traição. Foram três anos de debate no governo Lula e conseguimos um acordo em torno da fórmula 85/95 e de derrubar a idade mínima – disse Torres, que promete retomar na semana que vem pressão no Congresso contra a proposta.
O secretário-geral da CUT, Quintino Severo, disse que a idade mínima criaria uma situação para o trabalhador pior do que a gerada pelo fator previdenciário. – Hoje, pelo menos, o trabalhador escolhe quando se aposentar, mesmo tendo benefício menor. Com a idade mínima, deixará de ter essa opção. Não tem negociação, porque a proposta vai prejudicar os que entram muito cedo no mercado.
Para analistas, medida impopular é a mais viável
Das medidas em discussão para acabar com o fator previdenciário no INSS, a adoção de idade mínima para a aposentadoria, embora impopular, é a mais viável para manter sob controle o déficit da Previdência. Esta é a opinião de especialistas em contas públicas ouvidos ontem pelo GLOBO. Para o professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração da USP José Roberto Ferreira Savoia, a idade mínima acabaria com as aposentadorias precoces:
– O limite etário é fundamental para que tenhamos uma Previdência sustentável a longo prazo. Hoje, um dos problemas é que as aposentadorias ocorrem precocemente. Estamos falando de homens se aposentando antes dos 55 anos e mulheres, aos 53 anos. Podemos ter pagamentos de benefícios por 26 anos para mulher e 22 anos para homens. Esse é um fator que gera desequilíbrio.
O analista de finanças Felipe Salto, da Tendências Consultoria, acha um retrocesso a proposta das centrais de adotar só a fórmula 85/95 para todos os trabalhadores, em substituição ao fator: – Com o fim do fator previdenciário, não se teria como fugir da idade mínima.
Setor privado é diferente
O debate atinge apenas os trabalhadores da iniciativa privada, vinculados ao INSS, pois os servidores públicos têm regras próprias de aposentadoria. No início de maio, a presidente Dilma sancionou nova lei que vai mudar totalmente a forma de contribuição dos servidores para a Previdência, criando o Regime de Previdência Complementar do Servidor Público da União. A lei autoriza a criação de três Fundos de Previdência Complementar (Funpresp), um para cada poder (Executivo, Legislativo e Judiciário). O servidor terá garantida uma aposentadoria com o mesmo teto da do INSS, hoje de R$ 3,9 mil. Para ganhar benefício acima disso, terá que contribuir para um fundo de previdência, como o trabalhador da iniciativa privada.
O novo modelo afetará apenas os servidores civis da União, que são responsáveis por cerca de R$ 38 bilhões dos R$ 60 bilhões do déficit da Previdência Pública. Não se aplica aos militares.
Taques entrega parecer contra Demóstenes
Dois dias após ser nomeado relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o senador Pedro Taques (PDT-MT) entregou ontem seu parecer sobre o processo por quebra de decoro contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Ele não adiantou o teor do documento alegando que a defesa do senador goiano pode tentar invalidar o processo, mas já declarou que o pedido de cassação estaria de acordo com a Constituição e com o regimento do Senado.
Na CPI do Cachoeira, Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), negou que tenha atuado a favor do grupo do contraventor, autorizou a quebra de seus sigilos e saiu aplaudido. Monteiro foi o único a depor. Marcelo de Oliveira Lopes, ex-assessor da Casa Militar, e João Carlos Feitosa, ex-subsecretário de Esportes do DF, permaneceram calados.
Ideólogo do PT deixa Mercosul na crise paraguaia
O brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães surpreendeu ontem a diplomacia regional ao anunciar de forma abrupta, logo no início da cúpula do Mercosul em Mendoza, sua renúncia como alto representante-geral do bloco. Ele negou as versões que apontavam como motivo divergências sobre a situação do Paraguai, questão que centra os debates na cidade argentina, e atribuiu sua saída à falta de “apoio e condições políticas para exercer o cargo”. – Cheguei a Mendoza com a decisão já tomada. E ela nada tem a ver com a crise em relação ao Paraguai – disse o diplomata ao GLOBO.
Ex-ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência e ex-secretário-geral do Itamaraty, Pinheiro Guimarães ocupava desde janeiro de 2011 o cargo, criado um mês antes para estabelecer uma espécie de porta-voz e representante máximo do Mercosul. Ele cumpria funções de articulação política, formulação de propostas e representação das posições comuns dos Estados-membros.
O anúncio da renúncia foi feito durante a reunião de chanceleres do bloco. Após um pequeno discurso, em que alegou falta de apoio às iniciativas que defende, Pinheiro Guimarães limitou-se a entregar um relatório aos colegas sobre o que considera serem as prioridades do Mercosul. Ele negou divergências dentro do Itamaraty, como também especulava-se, e com o chanceler Antonio Patriota, que contribuiu para alimentar os rumores ao se recusar a falar sobre o caso em entrevista coletiva.
O ESTADO DE S. PAULO
CPI do Cachoeira prepara convocação de Cavendish na próxima semana
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira deve aprovar, na semana que vem, requerimento de convocação do empresário Fernando Cavendish, principal acionista da Delta Construções. Com a convocação, a cúpula da CPI espera responder às críticas de que a comissão não investiga as relações da empresa com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Declarada inidônea pela Controladoria-Geral da União, a Delta é a principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. A ideia é que o depoimento de Cavendish ocorra antes do início do recesso parlamentar, que começa no dia 18 de julho. Se aprovada a convocação na sessão administrativa da próxima quinta-feira, dia 5, a ida do empresário deverá ocorrer na semana seguinte, provavelmente entre os dias 10 e 12 de julho. “Estou tratando desse tema (convocação Cavendish) e vamos enfrentá-lo na próxima reunião administrativa”, afirmou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
Os partidos aliados do governo na CPI não devem, no entanto, permitir a aprovação da convocação do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot. Os governistas alegam que Pagot não tem ligação com o esquema de Cachoeira e, por isso, não há motivos para sua ida à CPI. Há duas semanas, os governistas impediram a convocação tanto de Cavendish quanto de Pagot. Na ocasião, o adiamento da convocação de Cavendish foi aprovado por margem apertada de votos: 16 a 13. A de Pagot foi por 17 a 13.
Servidores ameaçam greve geral se Dilma mantiver resistência a reajuste
A insatisfação dos servidores públicos com a intransigência da presidente Dilma Rousseff em conceder reajustes salariais, diante do cenário de crise econômica internacional, aumentou o risco de o governo enfrentar uma greve geral do funcionalismo. O último movimento grevista importante no Brasil ocorreu ainda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião encerrada nesta quinta-feira, 28, à noite, servidores das dez agências reguladoras declararam-se em estado de greve a partir de segunda-feira. A maioria das categorias já paradas ou com indicativo de greve quer correção dos salários em 2013.
Personagem das mobilizações, o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa, avalia que cerca de 300 mil servidores já cruzaram os braços. A greve, segundo ele, pode alcançar 500 mil servidores. “A construção é a greve geral”, adiantou. A Condsef é filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT) – braço sindical do PT, que apoia a greve geral do funcionalismo.
“O governo não consegue apresentar uma contraproposta, só faz protelar a discussão”, criticou o diretor da CUT Pedro Arnengol. As categorias têm reivindicações diferentes, mas a maioria quer reajuste de 22% dos salários. Os servidores têm ouvido que o governo terá uma resposta até 31 de agosto, prazo final para o envio ao Congresso da proposta de lei orçamentária de 2013.
Nesta quinta, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) insistiu que não haverá aumentos de salário para o funcionalismo neste ano. “Se as greves forem mantidas, vão gerar um impasse sem eficiência e sem eficácia. Não há possibilidade, principalmente em um momento de crise, de executar novas despesas não previstas”, afirmou a ministra. A colega do Planejamento, Miriam Belchior, encarregada de negociar com os servidores, optou por não se manifestar. Sua assessoria informou que o processo de negociação está em curso e não há data para a apresentação de uma contraproposta.
Justiça livra José Guimarães de investigação dos dólares na cueca
Sete anos depois – e às vésperas do julgamento do mensalão – o Superior Tribunal de Justiça (STJ) livrou o vice-líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), da acusação de envolvimento no episódio em que um assessor dele, José Adalberto Vieira, foi preso no Aeroporto de Congonhas em São Paulo com US$ 100 mil escondidos na cueca, e mais R$ 209 mil numa maleta de mão, quando embarcava para Fortaleza. O fato ocorreu no dia 8 de julho de 2005, em meio aos desdobramentos do mensalão, e precipitou o afastamento do então deputado José Genoíno da presidência do PT.
Irmão de Guimarães, Genoíno era alvo de investigação da CPI dos Correios e cogitava deixar o comando do PT. Ele acabou renunciando ao cargo dois dias depois da prisão do assessor parlamentar de seu irmão, que na época era deputado estadual e presidente do PT no Ceará. Hoje Genoíno é um dos 38 réus do mensalão, que será julgado a partir de agosto. Já Guimarães, em plena ascensão no PT, é coordenador da bancada do Nordeste e cotado para assumir a liderança da bancada federal em 2013.
A Primeira Turma do STJ – da qual faz parte o novo Corregedor Nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão – acolheu, por unanimidade, no último dia 21 de junho, recurso para determinar que José Guimarães não figure mais como réu na ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal, em tramitação na 10a Vara Federal em Fortaleza, embora ainda não haja até hoje, sentença final de mérito e o processo ainda se encontre na fase das alegações finais.
“Tenho que tais circunstâncias, de relação de amizade e companheirismo político e partidário, não são o bastante para sustentar a instauração de uma ação de improbidade em relação ao recorrente”, diz o relator, Benedito Gonçalves, em seu voto. A decisão surpreendeu o Ministério Público Federal, que havia opinado pela rejeição do recurso. “É uma decisão forte, eu não esperava que o tribunal chegasse a esse ponto”, disse o subprocurador da República Antônio Carlos Fonseca ao Estado.
Eliana Calmon defende divulgação de salários do Judiciário
A corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, defendeu nesta quinta-feira, 28, que o Poder Judiciário siga o exemplo do Executivo e publique imediatamente os salários dos seus servidores, inclusive dos altos dirigentes, magistrados e ministros. Líder de uma campanha nacional pela transparência e moralização da Justiça, ela disse que a divulgação deverá ocorrer em todas as instâncias e alcançando não apenas o salário principal dos magistrados, mas também “os muitos penduricalhos”.
“A Justiça deve fazer o mesmo (que o Executivo) de forma imediata”, afirmou a ministra. Ela disse que recebeu ordem expressa do presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Brito, para operacionalizar o quanto antes a medida. “Ele está absolutamente seguro e não abre exceção”. Ela explicou que não vale disponibilizar apenas a remuneração básica. “Nós temos muitas gratificações, adicionais e outros (acréscimos) que eu chamo penduricalhos. Nós pretendemos colocar para divulgação todos os itens de remuneração dos magistrados”, enfatizou.
Eliana disse ter recebido apelos de diversos magistrados e servidores contrários à divulgação e que, por isso, “quase como advogada do diabo”, levou as ponderações a Ayres Britto, que foi muito claro. “O ministro está absolutamente convicto de que tem de ser assim”, garantiu. Alguns magistrados, segundo ela, alegaram razão de segurança, mas ela disse que a resposta do presidente foi taxativa: “Essa não é uma questão de segurança, a divulgação é um dever e uma prioridade do Judiciário”.
Decisão do STF mantém Carlinhos Cachoeira preso
Acusado de comandar uma rede de corrupção e exploração de jogos ilegais, desmantelada em 29 de fevereiro pela operação Monte Carlo, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, continuará preso à disposição da Justiça. Em despacho proferido nesta quinta-feira, 28, à noite, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou o habeas corpus movido pela defesa, rejeitando em consequência o pedido de liminar para libertação do contraventor.
Na petição, a defesa alegou que Cachoeira é alvo de constrangimento ilegal e mantido preso por tempo exagerado. Ele está detido há 120 dias, embora não tenha sido julgado. Os advogados pediram a restituição do habeas corpus, concedido há duas semanas pelo desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), cassada pelo ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tourinho havia dado ao contraventor isonomia com outros réus, como José Olímpio Queiroga, presos na mesma operação e já libertados.
Barbosa considerou, porém, que as situações dos réus são distintas pois, conforme os autos do processo criminal, que corre na 11ª Vara Federal de Goiás, Cachoeira tinha “peculiaríssimas atribuições” na organização criminosa. No decreto da prisão preventiva, ele é apontado pelos demais membros da quadrilha como “o homem”, ou “o chefe” por ser o cérebro da organização criminosa. Segundo o ministro, “circunstâncias fáticas e condições pessoais” diferenciam Cachoeira dos demais réus.
FHC diz que não se envolverá na campanha de SP
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou nesta quinta-feira, 28, seu sucessor Luiz Inácio Lula da Silva afirmando que morder canelas não é “apropriado” a seres humanos. Ao declarar seu engajamento na campanha do ex-ministro Fernando Haddad pela prefeitura de São Paulo, Lula declarou que vai “morder a canela dos adversários” para que o petista seja eleito. “Eu não sei morder canela. Não acho apropriado para um ser humano”, disparou FHC, sorrindo, após palestra em Belo Horizonte para empresários do setor de construção.
Além de não “morder canelas”, Fernando Henrique disse que não vai se envolver diretamente na campanha do PSDB pela prefeitura paulistana, mas ressaltou que o partido deve fazer uma avaliação cuidadosa da viabilidade de uma chapa puro sangue, encabeçada pelo ex-governador José Serra com o ex-secretário de Cultura Andrea Matarazzo como vice. FHC salientou que a questão da campanha “não é só ganhar” porque há o “problema político” de conseguir apoio na Câmara municipal para conseguir aprovar projetos de interesse do Executivo. “Acho o Andrea uma excelente pessoa. Foi excelente secretário e tem todas as virtudes. Mas o problema é político. Dá para governar depois?”, indagou.
Ele lembrou que, graças ao Plano Real, poderia ter entrado na disputa presidencial sem uma grande aliança e “eventualmente ganhar sozinho”. “Eu não quis isso. Ganho e não governo. Na democracia, você não governa sem apoio”, avaliou. Ele ressaltou, porém, que política é feita “no ferro quente” e, por não estar diretamente envolvido na campanha de Serra, não teria condições de avaliar a melhor possibilidade para a chapa tucana em São Paulo. “Não conheço a situação concreta da Câmara e o cálculo que o (José) Serra e o Geraldo (Alckmin) estão fazendo para ver se dá para ir sozinho ou não. Não é simplesmente porque quer ou não quer (chapa puro sangue)”, observou o ex-presidente.
CORREIO BRAZILIENSE
Acesso a salários leva CUT a Justiça
A Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF) vai ingressar com ação na Justiça, na próxima semana, contra a decisão do Executivo local de divulgar na internet os salários de parte dos seus 190 mil servidores, identificando-os pelos nomes. A consulta pública está disponível desde quarta-feira por força de portaria das secretarias de Administração Pública (Seap) e Transparência e Controle (STC). Os funcionários públicos reclamam que a medida afeta a privacidade e a segurança deles. Enquanto o GDF se adiantou e se adequou à lei federal de acesso à informação, que entrou em vigor no mês passado, outros órgãos e poderes no DF ainda permanecem reticentes em relação à disponibilização dos contracheques de seus trabalhadores. O DF foi a primeira unidade da Federação a fazer a divulgação, pouco antes do que a própria União.
A CUT já havia tomado a decisão, na semana passada, de entrar na Justiça contra o GDF. No entanto, com a possibilidade de abertura de um canal de discussões com o governador Agnelo Queiroz (PT), a entidade resolveu suspender a procura das vias judiciais. Ontem, após ouvir reclamações vindas de vários servidores que se sentiram expostos, a direção da central decidiu dar andamento à preparação de uma ação. “Estamos acertando os últimos detalhes. Não dará tempo de ingressar com a ação no fim de semana, mas na próxima semana o faremos”, explica o secretário-geral da CUT-DF, Cícero Batista Araújo Rola. Ele explicou que era preciso aguardar a divulgação para saber quais as informações o GDF estaria tornando públicas (veja quadro abaixo).
Paralelamente à movimentação na Justiça, que ainda será feita, ainda ontem, o Sindicato dos Servidores e Empregados da Administração Direta, Fundacional, das Autarquias, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista do DF (Sindser) encaminhou um requerimento ao governador. No documento, a entidade pede que o GDF suspenda preventivamente a divulgação, até que o tema seja regulamentado por lei específica. O Sindser cobra que o assunto seja melhor detalhado pelo Executivo por meio de uma comissão a ser criada e que inclua a participação dos servidores na discussão. “A intimidade dos funcionários está ameaçada”, resume Cícero Rola, que é representante do sindicato na CUT-DF.
Curiosidade em alta na Esplanada
A Esplanada dos Ministérios amanheceu ontem mais curiosa do que nunca. Nos gabinetes e nas repartições públicas, servidores vasculhavam os contracheques alheios no Portal da Transparência em busca de possíveis surpresas. A comparação com os salários dos colegas se tornou inevitável. Segundo funcionários ouvidos pelo Correio, de uma forma geral, a reação foi mais descontraída e encarada com naturalidade do que se esperava. Mas há quem se preocupe com o reflexo negativo que a ação pode provocar.
Quando o governo anunciou que iria divulgar quanto cada servidor ganha, o incômodo imediato foi com a segurança. “No meu setor, nos preocupamos com a ideia de que todo mundo pode saber nosso salário, não sei o que pode acontecer”, ressaltou a funcionária da Embratur Marcela Araújo. A cautela também é destacada pelo presidente do Fórum Nacional de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Pedro Delarue. “Todo mundo tem direito à privacidade, é uma violência divulgar quanto as pessoas ganham”, defendeu.
O receio, porém, não se manifesta no servidor temporário do Ministério da Saúde Arnaldo Ballarini. Ele diz não ter visto problema na ação de transparência. “Quem não deve não teme e minha vida não é privada mesmo. Como nosso salário é pago pelo povo, ele tem o direito de saber quanto ganhamos”, argumentou. “Não tenho nada a esconder mesmo, por mim pode divulgar à vontade”, completou o servidor do Ministério do Planejamento Wellington Terra.
Servidores de categorias que estão em greve ou rumo à paralisação comemoraram a divulgação dos salários. “A sociedade vai ficar sabendo dos salários precários que a maioria dos funcionários do Executivo recebe”, destacou a servidora Ana Daniela Neves, do Ministério da Saúde. Já Adriano Dias, servidor do Ministério do Trabalho, pondera que a população precisa saber avaliar os dados divulgados. “Estão dando muito destaque para os altos salários, aí parece que todos ganham a mesma coisa e as pessoas ficam contra os servidores”, disse. “Essa divulgação não vale nada se o governo não perceber que há uma distorção entre as carreiras que deve ser corrigida.”
Supremo divulga dados na quinta
Com a divulgação dos salários da presidente da República, ministros e servidores do Executivo na internet, Legislativo e Judiciário correm para cumprir a Lei de Acesso à Informação. Câmara e Senado prometem publicar os vencimentos dos seus funcionários até o fim de julho. O Supremo Tribunal Federal (STF) garante que vai divulgar nominalmente as remunerações de ministros e servidores a partir da próxima quinta-feira. Os demais tribunais caminham para uma solução conjunta.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse ontem que o formato da publicação dos servidores da Casa ainda está em estudo. “Durante o mês de julho devemos divulgar isso”, afirmou. Sob pressão do sindicato que representa os funcionários, a Câmara estuda uma forma de preservar a identidade dos servidores na divulgação dos dados. Apenas os cargos e o valor líquido dos salários seriam conhecidos. O nome do funcionário só seria informado mediante pedido por escrito.
No Senado, a ideia é publicar os vencimentos dos 6.220 servidores no Portal da Transparência da Casa a partir de 31 de julho. De acordo com o ato da Mesa Diretora, os rendimentos serão publicados na internet de forma individual, com o nome de cada funcionário e o respectivo valor do salário ao lado.
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Já o STF pretende publicar todos os detalhes referentes à folha salarial, incluindo os penduricalhos. Ontem, a corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon, afirmou que as remunerações de todos os agentes do Poder Judiciário serão colocadas à disposição da sociedade, inclusive com as gratificações incorporadas aos vencimentos.
Segurança do palácio em xeque
Uma falha de segurança registrada ontem no Palácio do Planalto colocou a presidente Dilma Rousseff numa saia justa diante de ministros e convidados no salão nobre do edifício. Enquanto a chefe do Executivo brasileiro discursava sobre o lançamento do Plano Safra 2012/2013, cerca de 10 servidores em greve do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra hastearam uma faixa informando sobre o movimento. Inicialmente, eles estavam sentados sem chamar a atenção, com roupas adequadas para a solenidade, nas últimas cadeiras do salão. Só se levantaram, já com coletes da greve e mostrando a faixa, assim que a presidente começou o discurso, no fim da manhã. Dilma ignorou os manifestantes, que não fizeram qualquer barulho, e seguiu com a palavra até o fim.
Foi o segundo incidente ocorrido esta semana. Na última quarta-feira, integrantes do Educafro ocuparam um corredor do anexo I e se amarraram para protestar. Pessoas da área de inteligência dizem que um trabalho de triagem poderia ser feito na lista com os nomes das pessoas aptas a participar das solenidades no Planalto. Isso poderia evitar, por exemplo, que líderes grevistas de órgãos envolvidos em determinada cerimônia no Planalto entrassem no prédio.
No caso da faixa e das camisas expostas durante o discurso da Dilma, a revista feita na entrada do palácio não percebeu que os manifestantes, que não tinham seus nomes na lista, estavam com os coletes e a faixa enrolados nos bolsos. Procurado, o Gabinete de Segurança Institucional nega ter havido falhas na segurança.
Sem crise com o PSB
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não cedeu às pressões do PT e selou ontem as pazes com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Em encontro no Instituto Cidadania, Lula assegurou que não vai interferir na disputa pela prefeitura do Recife. Eduardo Campos lançou o ex-secretário Geraldo Júlio como candidato e o PT, o senador Humberto Costa. “Esse encontro foi para mostrar que Lula é mais próximo de Eduardo do que de alguns setores do PT”, provocou um aliado do governador.
A ironia é dirigida a alguns petistas que, nas últimas semanas, defenderam que Lula “enquadrasse” Eduardo Campos após a série de desavenças entre PT e PSB. Os casos mais emblemáticos ocorreram no Recife e em São Paulo. Na capital pernambucana, Eduardo Campos lançou o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico para disputar a prefeitura, alegando que o PT “não tinha condições de liderar o processo de alianças no Recife porque não conseguiu a unidade entre os próprios pares”.
A crise também desembarcou em São Paulo. Depois de um longo namoro, que durou aproximadamente cinco meses, o casamento finalmente foi selado com a indicação da deputada Luiza Erundina como vice na chapa do petista Fernando Haddad. A união durou três dias. O divórcio chegou com a foto de Lula e Haddad apertando a mão do deputado Paulo Maluf (PP).
Crise mundial: PIB desaba e já abala otimismo para 2013
O discurso otimista sobre a economia propagandeado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não convenceu o Banco Central, instituição mais respeitada do governo de Dilma Rousseff. A autoridade monetária admitiu ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano crescerá menos do que os 2,7% de 2011 e há riscos de haver nova frustração em 2013, tamanha a gravidade da crise enfrentada pela Europa e pelos Estados Unidos, que está empurrando a China ladeira abaixo — o país é o maior parceiro comercial do Brasil. Pelas contas do BC, o avanço do PIB será de apenas 2,5% (e não mais de 3,5%), um número ainda otimista ante as previsões do mercado financeiro, a maioria delas convergindo para uma taxa inferior a 2%. Seja como for, será o pior resultado desde 2009, quando a atividade encolheu ao ser engolfada pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana.
Todos os indicadores analisados pelo BC para chegar a seu prognóstico mostraram a debilidade da economia brasileira, que não está reagindo, como esperado pelo governo, aos estímulos dados ao consumo. Os investimentos produtivos, que dão a dinâmica do PIB, vão aumentar apenas 1% neste ano, ante os 5% previstos anteriormente pela autoridade monetária. Já a produção industrial saltará 1,9% contra os 3,7% estimados em março. Na agricultura, em vez de crescimento de 2,5%, a perspectiva, agora, é de decréscimo de 1,5%. Esse quadro nada animador causou desconforto na presidente Dilma, segundo relato de seus assessores ao Correio, e uma reação de contrariedade de Mantega, que vinha detratando os bancos que passaram a projetar incremento inferior a 2% neste ano. Essas instituições acreditam, por sinal, que o BC voltará a diminuir a sua estimativa para o PIB de 2012.