A permanência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em seu posto já não é certeza nem entre os próprios correligionários. Com Cunha a cada dia mais cercado por denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro, o tema da sucessão foi publicamente discutido, nesta quarta-feira (21), na comissão especial instalada para discutir a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que transfere ao Congresso competência de demarcar territórios indígenas.
Os rumores sobre a troca de comando da Câmara, que já ecoavam nos bastidores, foram confirmadas em alto e bom som no colegiado. O deputado Celso Maldaner (PMDB-RJ) expressou, em pronunciamento na Mesa da comissão, que seu colega Osmar Serraglio (PMDB-PR) é cotado pelo partido para assumir a Presidência da Casa.
Leia também
Celso estava com a palavra durante a sessão quando deixou claro que os próprios peemedebistas já não vêem outra saída para Cunha, que não seja o afastamento do cargo. “[Osmar Serraglio] É uma pessoa muito equilibrada, tanto que está sendo comentado hoje para ser o nosso presidente da Câmara. É o homem mais comentado, hoje, por merecimento”, disse o deputado, ao tecer elogios a Serraglio.
“Acho que merece, hoje, ser o presidente da Câmara Federal pelo o que o senhor representa em termos de seriedade, honestidade e tudo”, completou Maldaner.
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) questionou diretamente o peemedebista sobre possíveis discussões partidárias a respeito da sucessão à Presidência da Câmara. Em rodeios, Maldaner disse que seu partido não compactua com parlamentares que cometem erros. “Nosso PMDB não encobre nada. Se alguém cometer algum erro, vai pagar. Não se preocupe que nós temos muito claro isso daí”, respondeu.
As prospecções sobre o futuro da Presidência da Câmara dominam os bastidores da Casa desde que Cunha foi denunciado, em agosto, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é acusado de estar envolvido no esquema de corrupção que fraudou contratos na Petrobras. Na época, os investigadores colheram depoimentos de dois delatores da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o lobista Júlio Camargo. Eles apontaram Cunha como um dos beneficiários de propina paga para facilitar contratos para construção de navios-sonda na estatal. Os doleiros acusam o peemedebista de ter recebido US$ 5 milhões nesse processo.
Com os desdobramentos da Lava Jato, Cunha se tornou alvo de inquérito do Ministério Público da Suíça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O órgão europeu enviou à Procuradoria-Geral da República documentos comprovando que o presidente da Câmara e seus familiares são beneficiários de contas no banco suíço Julius Baer. O saldo, de aproximadamente US$ 2,4 milhões, está bloqueado. Além disso, outros dois delatores, os lobistas João Augusto Henriques e Fernando Baiano, trouxeram o nome de Cunha à tona em seus depoimento de delação premiada. Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema, contou ter provas de que repassou entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo peemedebista fluminense.
Confira íntegra do diálogo entre os deputados Celso Maldaner e Glauber Braga:
Celso Maldaner: Eu gostaria de expressar aqui orgulho do nosso relator Osmar serra até pela sua vida, seu antepassado, os anos que eke já atuou aqui em outras comissões, já foi secretário da mesa, pela sua idoneidade, pelo trabalho que ele fez. Trabalho, assim, como se diz, juridicamente, com muito equilíbrio. O nosso relator tem um alto grau de racionalidade. É uma pessoa muito equilibrada, tanto que está sendo comentado hoje para ser o nosso presidente da Câmara, é o homem mais comentado hoje por merecimento. Acho que merece hoje ser o presidente da Câmara Federal pelo o que o senhor representa em termos de seriedade, honestidade e tudo. É um orgulho tê-lo como conterrâneo, sou de Santa Catarina, lá do Paraná…
Glauber Braga: O PMDB já começou a fazer a discussão da sucessão?
Celso Maldaner: Eu sempre coloca a instituição acima de qualquer coisa. Eu tenho falado, inclusive na reunião do nosso partido, com os nossos parlamentares, que eu acho que a instituição, Câmara Federal, e a instituição partidária está acima de qualquer um de nós. Claro que cada cidadão tem o direito de… – temos que ouvir os dois lados da moeda – tem o direito de se defender. Mas nosso PMDB não encobre nada, se alguém cometer algum erro, vai pagar. Não se preocupe que nós temos muito claro isso daí.