Em apenas dois meses, o tradicional afunilamento provocado pela proximidade do calendário eleitoral reduziu de 114 para 84 o número de deputados que pretendem concorrer nas eleições municipais deste ano. Após três semanas de debates, as convenções partidárias, encerradas ontem (30), resultaram na candidatura a prefeito de três senadores e 80 deputados. Outros quatro parlamentares com assento na Câmara participarão da corrida eleitoral na condição de vice. Os dados fazem parte de levantamento feito pelo Congresso em Foco nos gabinetes dos congressistas e das lideranças partidárias.
Veja a relação dos candidatos por estado
Veja a relação dos candidatos por partido
Com 87 parlamentares na rua, a campanha deste ano envolverá um número ligeiramente inferior ao registrado nas eleições de 2004, quando 91 congressistas entraram na disputa. Desses, apenas 20 – 18 deputados e dois senadores – conseguiram se eleger.
A maioria dos parlamentares candidatos integra a base de apoio do governo Lula. São 67 representantes de partidos governistas e apenas 20 da oposição (DEM, PSDB, PPS e Psol). Embora a eleição tenha conteúdo local, a maioria de deputados e senadores não esconde que pretende tirar proveito dos elevados índices de popularidade do atual presidente.
De acordo com pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem, o governo petista tem avaliação positiva de 58% dos entrevistados. Já a aprovação pessoal do presidente chega a 72%. Foram ouvidas pelo Ibope 2.002 pessoas entre os dias 20 e 23 de junho, em 141 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O PT lidera a lista de parlamentares candidatos, com 15 nomes, seguido do PMDB, com 14 nomes. Na oposição, o DEM é a bancada com o maior número de candidatos: nove congressistas. O PSDB vem em seguida, com seis representantes. No Senado, apenas governistas se arriscarão às urnas: os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ), candidato à prefeitura do Rio, Wellington Salgado (PMDB-MG), que concorrerá em Uberlândia, e Patrícia Saboya Gomes (PDT-CE), na disputa em Fortaleza.
Com exceção do Distrito Federal, onde não há eleições municipais, apenas Mato Grosso do Sul não terá parlamentar candidato em outubro. Os demais estados têm ao menos um nome na corrida eleitoral. As bancadas de São Paulo, com 11, do Rio de Janeiro e da Bahia, com dez, são as que têm mais parlamentares candidatos.
Rio e São Luís, com cinco nomes cada, são as cidades com o maior número de congressistas envolvidos diretamente na disputa. Com quatro candidaturas, Porto Alegre e São Paulo (com dois deputados candidatos a prefeito e outros dois a vice) vêm logo atrás.
Discurso afinado
Embora o índice de candidatos governistas e oposicionistas na Câmara seja, em termos proporcionais, equivalente – 16,7% e 15,26%, respectivamente –, o líder do PT na Casa, Maurício Rands (PE), acredita que a alta popularidade do presidente Lula ajudará os parlamentares da base aliada.
“O bom momento fortalece muito as candidaturas da base aliada, à medida que o governo sendo bem avaliado o candidato governista tem aceitação maior na opinião pública”, avalia. O deputado, no entanto, admite que as coligações municipais fogem, em muito, das alianças feitas no plano nacional.
“As eleições municipais obedecem às especificidades de cada estado. Há uma adequação das alianças. É uma peculiaridade que sempre foi assim”, avalia o líder do PT na Câmara. O principal exemplo dessa particularidade se dará em Belo Horizonte, onde PSDB e PT apoiarão um mesmo candidato: o ex-secretário do governador Aécio Neves (PSDB-MG) Márcio Lacerda.
Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), candidato a prefeito do Rio de Janeiro, o fato de ser oposição não pesará sobre as costas dos parlamentares que se opõem ao governo Lula. O deputado avalia que as realidades locais é que definirão a disputa.
“Essa falácia de dizer que prefeito tem que ser amigo do presidente é anti-republicana. O Marcelo Crivella acabou em tragédia”, alfineta. “E vamos estar atentos para que não transformem o PAC em palanque”, avisa.
Crivella, que irá disputar a prefeitura da capital fluminense, enfrenta problemas em sua candidatura desde que o projeto Cimento Social, proposto por ele, virou palco da tragédia no Morro da Providência. No local onde acontecem as obras do projeto, que seria a bandeira eleitoral de Crivella, três jovens foram entregues, por soldados do Exército, a traficantes de uma favela rival.
As obras foram embargadas semana passada por determinação do Tribunal Regional Eleitoral do Rio. À Justiça eleitoral, o senador negou que tenha idealizado o projeto com a intenção de obter votos.
Processo de desidratação
Os parlamentares que saíram candidatos das convenções partidárias sobreviveram a um processo de afunilamento iniciado há quase um ano. Em agosto do ano passado, quando o Congresso em Foco divulgou o primeiro levantamento sobre as pretensões eleitorais dos parlamentares, 133 deputados manifestavam interesse em disputar as eleições (leia mais).
Nos últimos dois meses, o processo de desidratação se acentuou. Desde a última pesquisa publicada pelo site, em 27 de abril, 32 parlamentares saíram da disputa (leia mais).
Vários foram os motivos para que apenas 84 deputados e três senadores confirmassem suas candidaturas. Dificuldade para financiar a campanha, pouco espaço no horário eleitoral no rádio e na TV, falta de apoio de caciques políticos locais, derrota nas convenções partidárias e consolidação de alianças eleitorais de última hora são algumas das justificativas apontadas por parlamentares que viram suas candidaturas ficarem pelo caminho.
Nos últimos dois meses, os partidos com maior número de desistências foram o PDT e o PCdoB. Dos 11 pré-candidatos, apenas cinco correrão diretamente atrás do voto do eleitor até outubro. O PCdoB, que aparecia com dez nomes, ficou com quatro na disputa.
O afunilamento é considerado normal pelo líder do PT na Câmara, Maurício Rands, que, aliás, aparecia na primeira pesquisa como p
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