O procurador Athayde Ribeiro Costa declarou nesta sexta-feira (9) que o ex-ministro Antonio Palocci atuou como “porta-voz” em esquema de propina envolvendo obras da Usina Belo Monte, no Pará. Segundo Athayde, um dos beneficiários do dinheiro desviado era o também ex-ministro Antonio Delfim Netto, que chefiou a Agricultura e o Planejamento durante a ditadura militar (governo João Figueiredo). O procurador integra a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que, em conjunto com a Polícia Federal, deflagrou hoje a Operação Buona Fortuna – referência ao nome de uma das empresas de Delfim –, 49ª fase da Operação Lava Jato.
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Segundo o procurador, o esquema de corrupção consistia na partilha de propina para autoridades e partidos como PT e PMDB. De acordo com o relato, Delfim e o empresário Luiz Appolonio Neto, seu sobrinho, são suspeitos de integrar o esquema. As informações foram veiculadas há pouco no blog do jornalista Fausto Macedo.
<< Lava Jato acusa Delfim Netto de receber R$ 15 milhões em propina do consórcio de Belo Monte
“Antonio Palocci foi o porta-voz do governo federal, então deputado federal, para direcionar os pedidos de propina, parte ao PT para ao MDB. Em um segundo momento, Palocci pediu que 10% do valor de 1% do contrato fosse direcionado a Antonio Delfim Netto, que corresponderia a quantia aproximada de R$ 15 milhões. As investigações até o momento apuraram o recebimento de R$ 4 milhões”, relatou o procurador Athayde, para quem os pagamentos de propina “foram efetuados parte em espécie, parte mediante depósitos em empresas de seu sobrinho Luiz Appolonio Neto e dele próprio em contratos fictícios”.
Nesta sexta-feira (9), a Operação Buona Fortuna cumpriu a ordem de execução dez mandados de busca e apreensão. A investigação rastreou pagamentos que atingiram R$ 4,5 milhões, em um montante total estimado em R$ 15 milhões, pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli. Os repasses favoreceram pessoas jurídicas relacionadas a Delfim Netto, informam os investigadores, e eram feitos por meio de contratos fictícios de consultoria. Todas essas corporações fazem parte do Consórcio Construtor de Belo Monte.
Professor
No caso da Odebrecht, informa o blog de Fausto Macedo, os pagamentos eram registrados em um sistema de controle de propinas (“Drousys”) que ficou famoso na Lava Jato, e adotou o codinome “Professor”. Poderoso ministro da área econômica durante a ditadura e considerado um intelectual de cenários macroeconômicos, Delfim pode ter inspirado o apelido do sistema informatizado, como alusão ao seu conhecimento técnico. Nos anos 1970, o ex-ministro ficou famoso por ter promovido o “milagre econômico”.
“Em agosto de 2016, em depoimento ao delegado da Polícia Federal Rodrigo Luís Sanfurgo de Carvalho, da Lava Jato, Delfim Netto, de 89 anos, afirmou que recebeu R$ 240 mil em espécie da Odebrecht em outubro de 2014 por ‘motivos pessoais, por pura conveniência’, devido a um serviço de consultoria que ele teria prestado à empreiteira”, acrescenta o blog.
“Antonio Palocci disse a Flávio Barra e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, que 10% da propina destinada ao PT e ao MDB deveria ser direcionada a Antonio Delfim Netto em virtude da sua ajuda na estruturação do consórcio. […] Importante lembrar que isso revela efeitos nefastos da corrupção. Além de assolar os cofres públicos, nós percebemos os problemas ambientais e socioambientais da Usina de Belo Monte. Populações ribeirinhas, indígenas foram desamparadas, as condicionantes socioambientais não foram cumpridas e hoje a gente vê o dinheiro engordando os cofres e os bolsos dos políticos”, acrescentou o procurador.
Leia a resposta dos investigados
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