Leia também
Ex-ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Padilha assumiu com desconfiança a secretaria de Aviação Civil, no governo Dilma. Deixou o governo da petista em 5 de dezembro de 2015 para articular o impeachment da ex-chefe. Pela capacidade de articulação política e pela velha amizade com Temer, virou nome natural para a Casa Civil logo após o afastamento de Dilma.
Na semana passada, o advogado José Yunes, um dos melhores amigos de Temer, contou que recebeu, a pedido de Padilha, um “pacote” em seu escritório, entregue pelo doleiro Lucio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A informação foi prestada por Yunes em depoimento espontâneo à Procuradoria-Geral da República, e repetida exaustivamente por ele em entrevistas a diversos veículos de comunicação.
Em sua delação premiada, o ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho disse que enviou dinheiro vivo ao escritório do advogado a pedido de Padilha. O ministro ainda não se pronunciou sobre as declarações de Yunes. Em entrevistas, Yunes disse que pode ter sido um mero “mula” e que nunca teve nada a ver com a origem nem com o destino de recursos para campanhas eleitorais.
De acordo com ele, o presidente não falou com Padilha sobre o assunto e reagiu com “serenidade” ao tomar conhecimento do fato, ainda em 2014. “Eu decidi contar tudo a ele [Temer] porque, em 2014, quando aconteceu o episódio, eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o currículo dele”, justificou o advogado.
Pressão sobre Temer
As declarações do ex-assessor especial da Presidência pressionam Padilha e o presidente Michel Temer. Em sua delação, Claudio Melo disse que Temer lhe pediu, durante um jantar no Palácio do Jaburu, apoio financeiro para o PMDB na campanha eleitoral de 2014. Segundo ele, também estavam presentes ao encontro Eliseu Padilha e Marcelo Odebrecht. O presidente admite o pedido, diz que o dinheiro foi declarado e que não sabe de qualquer irregularidade.
Claudio Melo afirmou que acertou o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB. Desse total, R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. O ex-diretor da empreiteira contou que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.
Conforme o amigo de Temer, o hoje chefe da Casa Civil lhe pediu, por telefone, que recebesse alguns “documentos”, a serem retirados em seguida por um emissário. Segundo ele, quem entregou o documento foi Lucio Funaro, que chegou levando um “pacote”.
José Yunes disse que não sabe o conteúdo do pacote e que não se preocupou em esclarecer o que havia dentro dele. O advogado deixou a assessoria do presidente no final do ano passado após a divulgação da delação de Cláudio Melo. Em carta divulgada quando deixou o governo, Yunes afirmou que tinham jogado seu nome no “lamaçal de uma abjeta delação” premiada e criticou a “fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie”.
Essa não é a única suspeita que recai sobre o atual chefe da Casa Civil. Uma planilha apreendida pela Polícia Federal na casa de Maria Lúcia Tavares, ex-funcionária da Odebrecht, aponta o pagamento de R$ 1 milhão a “Angorá”, no dia 18 de agosto de 2018. O documento é do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, também conhecido como departamento da propina da empreiteira. Em delação premiada, Cláudio Melo Filho afirma que o “Angorá”, nesse caso, é Eliseu Padilha. As informações são do jornal O Globo. Angorá também é um velho apelido do secretário de Parcerias de Investimentos Públicos, Moreira Franco, dado ainda pelo ex-governador Leonel Brizola, um de seus desafetos políticos. Moreira também está na lista dos suspeitos de receber repasses da Odebrecht.
Deixe um comentário