Os protestos, mesmo que nos próximos meses aconteçam em menor escala e de forma localizada, tendem a ganhar intensidade em 2014, especialmente por ocasião da Copa do Mundo e das eleições presidenciais. A resposta das instituições (governo, Parlamento e partidos) dificilmente terá o condão de atender a todas as aspirações, anseios e reivindicações dos manifestantes.
É que mesmo não tendo havido piora nos indicadores econômicos, sociais e éticos na amplitude alardeada pela mídia do Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), os cidadãos que foram às ruas se sentiram ameaçados/indignados em suas quatro dimensões.
Na dimensão de eleitor, por não estarem satisfeitos e, consequentemente, por não se sentirem representados pelas instituições – leia-se governo, Parlamento, partidos etc.
Na dimensão de contribuinte, por desconfiarem de má aplicação dos recursos públicos, como eventos da Copa das Confederações, denúncia de desvios, incentivos e renúncias para as empresas “X” da vida, além do uso inadequado de bens públicos por autoridades dos três poderes.
Na dimensão de usuários de serviços públicos, pela insuficiência e/ou má qualidade desses serviços, especialmente de transporte coletivo, de saúde, de educação e de segurança.
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Na dimensão de consumidor, por temerem o retorno da inflação e dos juros altos, da desvalorização do real frente ao dólar, e de aumento dos preços dos produtos e serviços administrados pelo governo, como transportes coletivos, planos de saúde, telefonia, conta de água e luz, entre outros.
PublicidadeEmbora ninguém esteja pedindo a destituição do governo nem a substituição da política macroeconômica, a insatisfação também está presente no mercado, que questiona o controle do governo sobre as margens de lucros das empresas concessionárias de serviços públicos ou daquelas que concorrem com estatais, e no Parlamento, onde o clima não está bom, inclusive dentro da base, e existe a ameaça de adoção do orçamento impositivo.
Quem melhor sintetizou a crise foi o governador Eduardo Campos, que na reunião dos governadores e prefeitos com a presidente disse que há três crises em curso: uma de representatividade, outra de valores e uma terceira de má qualidade dos serviços públicos.
A presidente Dilma – ninguém nega isto – tem feito um esforço sincero para controlar a inflação, eliminar a miséria e combater a corrupção, além de tentar melhorar os serviços públicos.
Por isso, apesar da queda de popularidade, ainda goza de credibilidade política e pessoal para reverter esse quadro, mas não o fará sem mudar seu estilo centralizador, sem reforma ministerial e sem diálogo com a sociedade, com o Parlamento e com o mercado. Resta saber se está disposta a esse “sacrifício”.
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