Lucas Ferraz
Neste mês de junho, vários jornais, revistas, sites, emissoras de rádio e TV destacaram os 40 anos de lançamento do Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, oitavo disco de carreira dos Beatles, que, segundo um crítico britânico, “foi um divisor de águas da história da cultura ocidental”. Pode parecer um pouco de exagero, mas, coincidência ou não, foi depois do lançamento do álbum que o mundo conheceu, entre outras coisas, a minissaia, o LSD, as manifestações de maio de 1968 em Paris, além de um festival chamado Woodstock, em 1969, numa fazenda próxima de Nova York – sem falar nas influências psicodélicas, seja na música ou no modo de se viver.
Para não passar em branco, e também para celebrar o quadragésimo aniversário, o Congresso em Foco conta algumas histórias do álbum que se tornou um dos maiores ícones da música pop.
O marco zero do Sgt Pepper’s, no entanto, não começa em 1967, mas dois anos antes, quando o quarteto de Liverpool lança Rubber Soul, disco que marca uma guinada na carreira do grupo, distanciando-o dos primeiros anos de 1960 e do típico iê-iê-iê do início de carreira. São do Rubber Soul músicas como Norwegian Wood e Nowhere Man, marcadas por experimentalismos e alguma influência da cultura oriental.
No ano seguinte, em 1966, vem Revolver, no qual a evolução musical da banda é ainda mais surpreendente e novamente marcada por novos elementos – introduzidos, principalmente, por George Harrison. As clássicas For no One e Eleanor Rigby são sinais do que viria um ano depois.
Quando os Beatles gravaram o Sgt Peppers, no lendário estúdio da Abbey Road, nome de uma rua em Londres, o grupo já não se apresentava mais ao vivo e a convivência entre os integrantes já não era a mesma: John Lennon começava o seu distanciamento, cada vez mais encantado por uma japonesa chamada Yoko Ono, que conhecera há pouco; Paul McCartney queria controlar os Beatles à sua maneira; George Harrison estava com a cabeça cada vez mais no Oriente, envolvido com o hinduísmo; e, para Ringo Star, nada daquilo tudo parecia importar.
Em pouco mais de quatro meses o quarteto gravou o álbum, contando com a ajuda de sempre do produtor – e uma espécie de pai musical – George Martin. Lenda ou não, dizia-se na época que o Sgt Pepper’s era para ser ouvido direto, do começo ao fim. Ele começa com a música-título (escute) e termina com outra pérola, um das mais belas músicas dos Beatles: A day in the life (ouça aqui).
Daqueles 129 dias de convivência, saiu o álbum mais vendido de todos os tempos na Inglaterra, que ganhou também o primeiro prêmio Grammy da história como melhor disco de rock. Aumenta ainda mais a simbologia do disco o fato de ele ter sido gravado numa sala ao lado de onde, no mesmo estúdio na Abbey Road, o Pink Floyd gravava o seu álbum de estréia, Piper of the gates of dawn, com o primeiro cantor e guitarrista do grupo, Syd Barret. Ambos os discos influenciaram praticamente todas as bandas de rock da época, inauguraram o chamado rock psicodélico.
Lenda
O Sgt Pepper’s é uma obra recheada de lendas, como o fato de o quarteto ter produzido no álbum, através de experimentalismos sonoros, um som audível apenas por cachorros. Mas nada causou (ou ainda causa) tanto frenesi quanto sua capa, desenhada pelo artista britânico Peter Blake.
Foi construído um mural, em tamanho real, para que os Beatles fossem fotografados em frente. Na capa, há personalidades como Karl Marx (Lennon tinha grande simpatia pelo pensador alemão), além do ator Marlon Brando, da atriz Marilyn Monroe, de Bob Dylan (que teria sido o primeiro a apresentar um cigarro de maconha aos Beatles), entre outras.
A idéia original contava ainda com as imagens de Jesus Cristo e Adolf Hitler, que acabaram sendo retiradas da capa oficial. Cristo teria sido vetado por John Lennon, por causa da polêmica envolvendo ele e a Igreja Católica, anos antes, quando o músico declarou que os Beatles eram mais “famosos que Jesus Cristo”. Blake explicou recentemente para um jornal londrino que a imagem de Hitler foi escondida atrás do baterista Ringo Star.
Paul McCartney compôs When I’m sixty-four (Quando eu tiver 64 anos), um dos clássicos de Sgt Pepper’s, quando tinha 24 anos, em 1966. A música foi em homenagem a seu pai, que tinha essa idade na época.
Dos Beatles, Paul e Ringo Star (o mais velho integrante da banda) foram os únicos a atingir a marca. John Lennon foi assassinado por um fã, na porta do prédio onde morava, em 1980, quando tinha 40 anos. Já George Harrison, morto em 2001 em decorrência de um câncer, tinha 58. Nesta segunda-feira (18), Paul McCartney fica mais velho: completará 65 anos.
Matéria publicada em 16/06/2007. Última atualização em 20/06/2007.
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