O ministro dos Esportes, Orlando Silva Filho (PCdoB), poderia estar em Guadalajara, no México, acompanhando a delegação brasileira nos Jogos Panamericanos. Mas, em clima totalmente adverso, defende-se neste momento, em reunião conjunta de comissões do Senado, de acusações de corrupção. Segundo reportagem da mais recente edição da revista Veja, tendo como base delação do policial militar João Dias Ferreira, filiado ao PCdoB, Orlando teria capitaneado um esquema de desvio de dinheiro público, por meio de convênios firmados no âmbito do programa Segundo Tempo, que teria servido para abastecer o caixa eleitoral do partido e até da segunda campanha do então presidente Lula, em 2006.
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A exemplo do que fez ontem (quarta, 19) em audiência similar na Câmara, o ministro negou as versões, desafiou os delatores a apresentar provas (acrescentando que é ele quem as tem) e disse que há um movimento para tirá-lo do posto “no grito”.
“Não houve, não há, e não haverá provas que sustentem esse ataque grosseiro, essa acusação vil que me imputaram. Essa acusação é uma farsa, é uma mentira”, disse Orlando, depois de breve explanação sobre os programas sociais do Ministério do Esporte. Nessa introdução, o ministro ressaltou também o trabalho da pasta junto a organismos internacionais, que resultaram na conquista do direito do Brasil em sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Ao final, depois de palavras duras contra o delator e reafirmando sua “honra”, foi aplaudido por alguns senadores.
“Desde sábado eu me questiono: onde estão as provas? Cinco dias se passaram e eu me faço a mesma pergunta. Senhores senadores, essas provas não existem!”, exclamou Orlando, respondendo aos rumores de que provas contra ele serão apresentadas ainda nesta semana, segundo ameaça do próprio João Dias. “Provas quem tem sou eu.”
A cada declaração do ministro, reforçava-se a impressão de que ele está disposto a resistir no cargo.”Identifiquei na apuração que havia desvio por parte de duas entidades. Sabe qual foi minha atitude? Mandei apurar, dei direito de defesa, não julguei preliminarmente. E, ao final, determinei a devolução do dinheiro público desviado. O que fiz foi combater o malfeito, foi combater a corrupção”, argumentou Orlando, referindo-se à Operação Shaolin, da Polícia Federal, que desbaratou o esquema de corrupção no Ministério do Esporte.
Apelando à sensibilidade dos senadores, Orlando mencionou o estado de espírito de sua família diante das denúncias, e lembrou que a revista semanal estampo foto do ministro, com chamada destacada de capa, sem que qualquer prova tenha sido registrada na reportagem. “É muito importante a liberdade de imprensa. E faz parte dessa liberdade a apuração detalhada dos fatos. Mas o que se pretende é tirar o ministro de Estado no grito. Só faltava dizer: lembremos dos tempos de exceção, lembremos dos tempos sombrios, lembremos dos processos sumários”, observou o ministro, queixando-se de estar sob execração pública.
“Vou continuar tendo orgulho de andar com a cabeça erguida. Tenho orgulho da minha trajetória, tenho orgulho do que faço. Não vou descansar enquanto não prender esses delinquentes que me acusam de maneira vil”, acrescentou.
Orlando disse que ainda hoje impetrará queixa-crime contra João Dias com acusação de calúnia. “O fato é que desde 2008 eu luto para que esses recursos voltem para os cofres públicos”, concluiu.
Novas denúncias
Na ocasião em que se queixou da abordagem da revista Veja, Orlando Silva fez referência à reportagem veiculada ontem (terça, 18) pelo portal UOL, segundo a qual o ministro teria comprado, por meio de cheque administrativo, um terreno avaliado em R$ 370 mil. Ainda segundo o veículo on-line, a propriedade está localizada sobre um duto da Petrobras, o que valorizaria o negócio em eventual processo de desapropriação e indenização.
“Devo dizer que se trata do único bem que possuo”, declarou o ministro, em tom grave e pausas entre as frases. “Fotografaram uma casa bem de longe, pra esconder que é uma casa modesta, que tem apenas 110 metros quadrados, e é esse imóvel que é o único que eu vou ter na vida”, emendou, negando a alegada valorização do terreno em razão do duto, e garantindo que o pagamento foi feito por meio de cheque pessoal, que lançou mão de “poupanças feitas por toda uma vida, inclusive com a ajuda da família”. “Está registrado. É um documento.”
Orlando encerrou o discurso reforçando a disposição em desqualificar seu delator, que responde a 11 processos na Justiça comum. “Eu não vou deixar que um delinquente venha macular a história de luta do meu partido”, concluiu. No momento, o ministro responde às intervenções de senadores da base e da oposição, e recebe elogios de ambas as correntes políticas, com eventuais afirmações de que o caso, por sua gravidade, merece aprofundamento e punição aos responsáveis.
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Confira artigo de Sylvio Costa, de março deste ano, sobre as complicações do ministro: