Edson Sardinha
Embora tenha reeleito o presidente Lula com uma votação recorde, a maioria dos brasileiros escolheu políticos da oposição para governar os seus respectivos estados. Os 11 estados que serão comandados por adversários de Lula representam 52,6% do eleitorado nacional. O petista caminha para o segundo mandato com o apoio de 15 governadores, cujos eleitores respondem por 44,3% do eleitorado nacional.
A única incógnita está no Maranhão (com 3,1% dos eleitores do país), onde o pedetista Jackson Lago desbancou o favoritismo de Roseana Sarney (PFL), candidata de Lula. Com o apoio do PT maranhense, Lago se manteve neutro no segundo turno da campanha presidencial, repetindo a postura do PDT nacional, que faz oposição a Lula.
Os números, combinados com as primeiras declarações de lideranças oposicionistas após a reeleição, revelam que o presidente terá dificuldades para conduzir o seu segundo governo. "Quando se elege um governo novo, nós damos um prazo para ver como ele se comporta. Mas este é um governo de continuidade, não há porque dar tempo. O julgamento político deve ocorrer", disse o líder da oposição no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR).
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PPS-PE), disse que a oposição não dará trégua a Lula e seguiu pela mesma linha: "A urna não absolve e não autoriza a impunidade".
Mesmo tendo superado o recorde de votos recebidos na eleição passada, Lula teve um desempenho inferior em 13 estados e no Distrito Federal em comparação com o segundo turno de 2002. Por outro lado, o presidente se valeu do crescimento de sua candidatura no Nordeste, onde foi mais votado do que quatro anos atrás.
Aliados estratégicos
Apesar de ter visto seus adversários triunfarem nos dois maiores colégios eleitorais do país (São Paulo e Minas Gerais), Lula terá, a partir de janeiro de 2007, aliados em estados importantes como Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Pará e Pernambuco, até então dominados pela oposição. Hoje Lula tem o apoio de 12 governadores que representam apenas 24,7 milhões (19,63%) eleitores.
O petista também terá apoio de cinco dos sete governadores eleitos pelo PMDB: Eduardo Braga (AM), Paulo Hartung (ES), Roberto Requião (PR), Sérgio Cabral (RJ) e Marcelo Miranda (TO). Cabral assumirá o lugar da correligionária Rosinha Mateus, mulher do ex-governador Anthony Garotinho, expoentes da ala oposicionista do partido. Entre os peemedebistas, apenas Luiz Henrique (SC) e André Puccinelli (MS) marcharam com Geraldo Alckmin durante a campanha eleitoral.
PSDB bem, PFL mal
Os tucanos fizeram seis governadores, mesmo número que em 2002, e vão administrar – além de São Paulo e Minas – Alagoas, Paraíba, Roraima e Rio Grande do Sul, onde a deputada Yeda Crusius pôs fim ao rodízio entre o PT e o PMDB no estado (veja os resultados das eleições nos estados).
O PFL, que em 2002 elegeu quatro governadores, sai como o grande derrotado das eleições estaduais. Os pefelistas viram cair por terra sua hegemonia na Bahia, onde o governador Paulo Souto foi surpreendido ainda no primeiro turno pelo petista Jacques Wagner, e terão de se contentar com a gestão do Distrito Federal, sob o comando de José Roberto Arruda. O partido fará companhia ao PP, que reelegeu Alcides Rodrigues em Goiás, na condição de legenda que fez apenas um governador.
O PPS, que já havia vencido no primeiro turno com Blairo Maggi (MT) e Ivo Cassol (RO), também comandará apenas um estado a partir do ano que vem, já que decidiu desfiliar o mato-grossense por ter declarado apoio a Lula.
Quinteto petista
O PT obteve o melhor desempenho de sua história nos estados ao eleger cinco governadores. Ontem a senadora Ana Júlia desbancou o ex-governador tucano Almir Gabriel e se juntou ao grupo formado por Jaques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE), Wellington Dias (PI) e Binho Marques (AC), eleitos ainda no primeiro turno. Em 2002, além de Wellington, o partido comemorou apenas a reeleição de Tião Viana (AC) e Zeca do PT (MS).
Aliado de primeira hora de Lula, o PSB fez três governadores, um a menos do que na eleição anterior. Além de reeleger a governadora Wilma Faria no Rio Grande do Norte, o partido conquistou outros dois importantes estados nordestinos: Ceará, ainda no primeiro turno, com Cid Gomes, e Pernambuco, com Eduardo Campos.
Tradicional parceiro do PT em eleições passadas, o PDT, agora na oposição, sai das urnas com dois governadores eleitos: Jackson Lago (MA) e Waldez Góes (AP). Enquanto a posição do primeiro em relação ao governo Lula ainda é uma incógnita, o segundo fez campanha para Lula no segundo turno.
Reeleição recorde
Dos 19 governadores que se elegeram em 2002 ou herdaram o cargo de lá pra cá, 14 se reelegeram, igualando o recorde de 1998. Desses cinco se reelegeram ontem: Luiz Henrique (SC), Roberto Requião (PR), Alcides Rodrigues (GO), Wilma Faria (RN) e Cássio Cunha Lima (PB). Outros nove já havia tido sucesso no primeiro turno e quatro sequer chegaram à segunda rodada.
A reeleição passou a ser permitida depois que uma emenda constitucional foi aprovada e promulgada em 1997. Na eleição de 1998, 21 governadores tentaram mais um mandato, mas somente 14 tiveram sucesso. Em 2002, como mais da metade dos governadores já não podia disputar a reeleição – já que a recondução ao cargo é permitida apenas uma vez – o número de sucessores de si mesmos foi menor. Dos 14 que tentaram, só nove conseguiram mais quatro anos de mandato.
Deixe um comentário