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Durante sessão de votações no Senado, na última quarta-feira (17), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), também já anunciou medidas para que Serra vá ao Senado explicar as denúncias. Humberto citou da tribuna do plenário reportagem do jornal uruguaio El Pais “em que foram registradas notas taquigráficas de uma reunião que teve a participação de dez parlamentares uruguaios, juntamente com o chanceler daquele país, Rodolfo Nin Novoa, em que o chanceler dizia a essa comissão de deputados que o ministro das Relações Exteriores do Brasil havia tentado comprar o voto do Uruguai para impedir que a Venezuela assuma a Presidência do Mercado Comum”.
“Parece-me uma coisa gravíssima uma denúncia feita por nada menos que o ministro das Relações Exteriores do Uruguai. E que, se verdadeira, depõe muito mal contra o nosso país”, declarou Humberto Costa, que protocolou o pedido de convocação na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado.
Com o assunto em evidência no Senado, o Itamaraty emitiu nota (leia íntegra abaixo) em que trata o assunto como “impasse” e diz que o governo busca uma solução de “maneira construtiva”. A despeito das ações de seus colegas de Parlamento, Serra se mantém contra a posse da Venezuela – país que, segundo ele, entrou para o Mercosul por meio de “golpe” – no comando pro tempore (temporário, em que as nações se revezam no posto) do Mercosul. Para o ministro interino, o país vizinho não é uma democracia plena e está nas mãos de uma “ditadura bolivariana” conduzida pelo presidente Nicolás Maduro, discípulo e sucessor de Hugo Chávez (1954-1953).
“A Venezuela não cumpriu os pré-requisitos do Mercosul. O governo venezuelano entrou no Mercosul a partir de um golpe – porque, para entrar, é preciso que os outros membros concordem unanimemente, e o Paraguai não concordava. Então, naquele momento, os governos do Brasil e da Argentina lideraram um processo para suspender o Paraguai”, disse Serra na última quarta-feira (17), em entrevista no Palácio do Itamaraty, onde se reuniu com políticos venezuelanos de oposição a Maduro.
Por meio de sua conta no Twitter, Serra chegou a comentar o episódio referente ao ministro uruguaio Rodolfo Nin Novoa. “O chanceler uruguaio me ligou há pouco e disse que os fatos divulgados ontem [terça, 17] não passaram de um mal entendido. Tudo volta ao normal”, escreveu.Publicidade
Instantes depois, na mesma rede social, o ministro registrou: “Continuamos preocupados com a Venezuela, que vive sob um regime autoritário – um governo que mantem presos políticos não é uma democracia. Assim que esse período triste na história da Venezuela passar, eles poderão contar com o nosso apoio para a tarefa de reconstrução nacional”.
Mas o telefonema com o chanceler uruguaio, a que Serra fez referência no Twitter, foi contestado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) em plenário, naquela quarta-feira. “Acabo de fazer uma ligação para o Arlindo Chinaglia [deputado do PT de São Paulo], no Uruguai, que é o nosso representante no Parlasul, e a informação que eu tenho é de que o Serra conversou com o Novoa e pediu desculpas pela impropriedade e grosseria que fez. Ficam as duas versões no plenário”, fustigou o peemedebista.
A Venezuela é alvo da antiga oposição a Lula e Dilma, com PSDB e DEM à frente, desde quando o presidente do país era Hugo Chávez – apontado como ditador, dadas a seguidas medidas de alteração na constituição do país para se manter no poder, mas eleito no voto. A indisposição de parlamentares brasileiros com os governantes venezuelano chegou ao ápice quando, em 18 de junho de 2015, com o propósito de visitar presos políticos, oito senadores foram hostilizados por simpatizantes de Maduro em solo venezuelano. O episódio chegou a gerar desconforto diplomático, mas a então presidente Dilma Rousseff, com o pretexto do respeito à soberania nacional, não saiu em defesa da missão brasileira, majoritariamente formada por seus oposicionistas.
Leia a íntegra da nota do Itamaraty:
“O Governo brasileiro tem buscado, de maneira construtiva, uma solução para o impasse em torno da Presidência Pro Tempore do MERCOSUL. A visita do Ministro José Serra ao Uruguai, no último dia 5 de julho, realizou-se com esse propósito. Ao Brasil interessa um MERCOSUL fortalecido e atuante, com uma Presidência Pro Tempore que tenha cumprido os requisitos jurídicos mínimos para o seu exercício e que seja capaz de liderar o processo de aprofundamento e modernização da integração.
Durante a visita ao Uruguai, o Ministro José Serra também tratou com o Presidente Tabaré Vázquez e com o Chanceler Nin Novoa do potencial de aprofundamento das relações entre o Brasil e o Uruguai e de oportunidades que os dois países podem e devem explorar conjuntamente em terceiros mercados. O Brasil considera o Uruguai um parceiro estratégico.
Nesse contexto, o Governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do Chanceler Nin Novoa sobre a visita do Ministro José Serra ao Uruguai, que teriam sido feitas durante audiência da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados uruguaia, no último dia 10 de agosto. O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai.
O Secretário-Geral das Relações Exteriores convocou hoje o Embaixador do Uruguai em Brasília para uma reunião em que expressou o profundo descontentamento do Brasil com as declarações e solicitou esclarecimentos.”