Os partidos de oposição na Câmara decidiram não marcar presença no plenário para impedir a formação de quórum para a abertura da sessão de votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, marcada para às 9h desta quarta (2). As legendas oposicionistas passaram a terça-feira (1º) tentando fechar questão sobre a melhor estratégia para garantir a autorização para o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que poderá investigar o peemedebista por corrupção passiva. A ideia é postergar a votação para o horário nobre da televisão aberta. A TV Globo transmitirá ao vivo toda a votação da denúncia, mesmo que seja em horário nobre, interrompendo novelas, jogos e séries, a partir do primeiro parlamentar a votar, e manterá a narração ao vivo até o último deputado declarar sua posição no microfone.
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Dada até segunda-feira como dividida e se apresentando como unificada a partir desta tarde, a oposição, nos bastidores, ainda não encontrou caminho único. A ideia de fechar questão apenas para a parte da manhã é apontada por alguns oposicionistas como uma estratégia para manter a imagem combativa em relação a Temer perante a sociedade, abrindo espaço para o discurso de que teria havido uma tentativa de atrasar a votação mas que, a partir de dado momento, não teria sido possível permanecer sem registrar presença. Assim, haveria uma resposta a dar ao eleitorado sobre a opção por votar mais tarde e não seguir obstruindo. O discurso geral, no entanto, é de impedir o quórum.
São necessários 342 deputados para dar início à apreciação do relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Sem registrar presença no painel, a oposição pretende aumentar o poder de barganha sobre os detalhes do rito da votação com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Entre reuniões de bancadas e entre partidos, o dia foi dedicado a articulações. Um grupo de cerca de 15 parlamentares entre integrantes de PT, que estava dividido, PCdoB e PDT, que pretendia formar quórum, PSOL e Rede, que já defendiam a obstrução, se reuniram no fim da manhã. Afirmaram que o governo estaria “desesperado” para barrar a denúncia logo e “perdido”, sem saber quantos votos têm. Outro encontro foi realizado na liderança do PDT, desta vez com integrantes de parlamentares da base governista que pretendem votar pelo andamento da denúncia. O PT esteve reunido a portas fechadas durante toda a tarde e início da noite deliberando a estratégia, com pausa apenas para votação na sessão plenária do dia. Mais uma reunião deve acontecer nesta noite.
Divisão à esquerda
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) se disse otimista em relação à unificação da oposição. “Na parte da manhã, nos reunimos com partidos de oposição ao governo para tentar alinhar uma tática única. À tarde, nos reunimos com partidos da base do governo, que são favoráveis à aceitação da denúncia. E vamos continuar reavaliando a tática para ampliar o número de deputados pela denúncia”, afirmou Molon. Na liderança do PDT, estiveram presentes Daniel Coelho (PSDB-PE), Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) e Expedito Neto (PSD-RO).
Líder do PSOL na Câmara, o deputado Glauber Braga (RJ) afirma que ao menos no que diz respeito ao quórum no início da sessão há consenso. “Fazer essa votação durante o dia é uma tentativa de blindar Temer e esconder os parlamentares que o estão protegendo”, disse. A tática, entretanto, para derrotar o presidente está sendo debatida ao longo do dia internamente em cada partido. “O PSOL já tinha uma posição de não dar quórum sem uma presença alta. Em uma matéria que você precisa de 342 votos, tem que ter 500 deputados na Casa”, define o líder do PSOL.
A posição é acompanhada pelo líder da minoria na Casa, José Guimarães (PT-CE). “Não dá para votar o rito resumido”, disse. Guimarães garantiu que, pela manhã, foi construída uma unidade na oposição. “Mas vamos estar em assembleia permanente para avaliar em que momento vamos ao plenário”, emendou.
O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) esteve na reunião da bancada do PT para pressionar pela posição. “O deputado de oposição que registrar presença está fazendo o jogo do governo”, disse. De acordo com ele, as contas indicam que ao menos 188 parlamentares estão pela continuidade da denúncia. “Mas aqui é como cotação do dólar: de minuto em minuto”, disse ele, que chama de “oposição de araque” aquela que optar por formar quórum.
Depois de reunião realizada no início da tarde desta terça-feira, o vice-líder da minoria, Henrique Fontana (PT-RS) afirmou que a oposição usará todo o tempo necessário para garantir maioria. “Está crescendo o número de deputados dispostos a votar pelo afastamento de Temer. Já temos maioria, mas ainda não temos segurança dos 342 votos que precisamos. Por isso, seguiremos fazendo o mapeamento e avaliação permanente até o momento da sessão marcada para amanhã”. Ele defende que a presença ou não da oposição no plenário deve depender da consolidação dos votos para aprovação da investigação contra Temer.
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