Se o presidente Lula sair vitorioso da disputa pela reeleição, terá logo de cara outro desafio desgastante pela frente: buscar alianças com desafetos políticos e partidos adversários para conseguir maioria no Senado. Caso sejam mantidas nas urnas as tendências apontadas nas pesquisas de opinião realizadas nos estados, a oposição deve dominar a maior parte das 27 cadeiras da Casa que estão em jogo nas eleições do próximo dia 1°.
Com base em sondagens regionais feitas pelos institutos Datafolha, VoxPopuli e Ibope, é possível concluir que os adversários do governo (PFL, PSDB, PPS e parte do PMDB) caminham para a vitória em pelo menos 14 estados e têm chances de eleger candidatos em outros três. Com isso, a bancada de oposição no Senado na próxima legislatura pode chegar a 44 dos 81 senadores, levando-se em conta os eleitos em 2002. Vale lembrar que, na corrida deste ano, apenas uma das três vagas na Casa a que cada unidade da federação tem direito está em disputa.
Dos 17 concorrentes que se encontram com vantagem de pelo menos 14 pontos percentuais, 13 são da oposição e apenas quatro são governistas. O que significa que o Senado, onde a bancada contrária à administração petista já é atualmente bastante forte, deve ficar ainda mais oposicionista.
Esta reportagem é a segunda parte do levantamento realizado pelo Congresso em Foco sobre as tendências de composição do novo Congresso. Na última sexta, mostramos, em trabalho realizado em conjunto por este site e pelo Diap, que dificilmente o índice de renovação da Câmara dos Deputados chegará a 50% (leia mais). E, pior, muitos deputados acusados de práticas criminosas certamente se elegerão para aquela Casa.
No caso do Senado, a situação é diferente. Pelo menos um senador candidato à reeleição, Ney Suassuna (PMDB-PB), está vendo suas chances de reeleição escorrerem pelo ralo em razão do seu envolvimento no escândalo das ambulâncias. Outros cinco candidatos que respondem ou responderam a processos durante a atual legislatura também não retornarão ao Senado.
Outras tendências que captamos são: a possibilidade de os pequenos partidos aumentarem sua representação no Senado; as chances de termos um Senado mais feminino (duas mulheres são francas favoritas em seus estados e outras cinco possuem grandes possibilidades de vitória); e um índice de renovação bastante razoável, sobretudo considerando que apenas um terço das cadeiras está em disputa.
As maiores bancadas
As pesquisas indicam, de forma homogênea, que PSDB, PFL e PMDB deverão ser os partidos de maior bancada no Senado na próxima legislatura.
O PMDB, hoje com a bancada mais numerosa na Casa, perdeu força e é pouquíssimo provável que mantenha seus 20 senadores atuais. O partido tem grandes possibilidades de vitória em três estados, mas segue com chances moderadas em outros seis. São da ala oposicionistas os três candidatos da legenda com vitória praticamente assegurada: Jarbas Vasconcellos (PE), Pedro Simon (RS) e Joaquim Roriz (DF).
O PFL, que agora ocupa 16 vagas no Senado, deve manter o patamar. De acordo com as pesquisas, os pefelistas lideram a disputa com vantagem de no mínimo 14 pontos percentuais em quatro estados (Minas, Santa Catarina, Mato Grosso e Tocantins).
A bancada do PSDB, também com 16 parlamentares, deve oscilar entre 15 e 17. Cinco candidatos do partido lideram com folga a disputa para o Senado (no PR, em GO, no PA, na PB e no MS).
A legenda pode encolher, no entanto, caso Gerson Camata (PMDB-ES), hoje secretário de estado na capital capixaba, decida voltar para o Congresso. Se isso ocorrer, o tucano Marcos Guerra deixará a Casa e os peemedebistas se igualariam ao PFL em número de senadores.
O PT pode perder um senador, e deve ficar com 12 parlamentares no Senado. O partido deverá reeleger com certa facilidade, dois senadores cujo mandato termina este ano: Tião Viana, no Acre, e Eduardo Suplicy, em São Paulo.
O partido tem outros cinco candidatos na disputa, mas com chances pequenas, a não ser em Sergipe, onde José Eduardo Dutra apareceu 12 pontos percentuais atrás de Maria do Carmo Alves (PFL) no último levantamento, e em Santa Catarina. Lá, a vantagem de Raimundo Colombo (PFL) sobre Luci Choinacki (PT) é de 18 pontos percentuais, mas os indecisos somam 22%, índice que pode alterar os rumos da corrida.
Pequenos partidos
A redução das principais bancadas deve-se ao crescimento dos pequenos partidos. O PPS, que não tem nenhum assento no Senado, pode assegurar duas vagas (em Rondônia e Roraima). O PDT, hoje com quatro, tem chances de aumentar esse número. Disputa com boas chances na Bahia, no Espírito Santo e em Alagoas.
O PSB também tem chances de ampliar sua representação na Casa. Todos os seus três senadores tem mais quatro anos de mandato e o partido disputa a liderança no Espírito Santo e no Amapá. No primeiro caso, os seis pontos percentuais que dão vantagem a Renato Casagrande (PSB) sobre Max Mauro (PDT) estão no limite da margem de erro da pesquisa Ibope. A situação, portanto, é de empate técnico. No Amapá, Cristina Almeida, apoiada no prestígio popular do ex-governador e candidato à reeleição João Capiberibe (PSB), ameaça a eleição de José Sarney (PMDB).
O PL, segundo as pesquisas, deve manter suas três vagas no Congresso, beneficiando-se da provável eleição do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento no Amazonas.
O PTB vai sofrer três baixas, de senadores cujos mandatos terminam agora, mas está em vantagem confortável no Piauí, e briga pela vitória no Maranhão e no Rio Grande do Norte. A bancada pode, portanto, manter seu atual número de integrantes (quatro).
Nestas eleições, o PCdoB pode eleger um senador pela primeira vez em sua história. É o favorito para vencer no Rio de Janeiro, com Jandira Feghali, e trava briga dura pela eleição no Ceará. O partido tem hoje um senador, Leomar Quintanilha (TO), mas ele mudou para a legenda após eleito.
O Psol não tem nenhum candidato no páreo, em razão do acordo feito com o PSTU e com o PCB para fechar a coligação com essas legendas, e vai perder Heloísa Helena, que encerra o mandato nesta legislatura. Ou seja, ficará sem representantes no Senado.
Os campeões de votos
O ex-governador goiano Marconi Perillo pode sair das eleições como o candidato a senador com maior votação proporcional do país. Ele tem 76% das intenções de voto, contra 7% do segundo colocado, Ney Moura (PMDB), segundo o Ibope.
Em termos de número de votos, o campeão deverá ser o petista Eduardo Suplicy. Conforme apontam as pesquisas, mais de 8 milhões de eleitores do maior colégio eleitoral brasileiro deverão votar pela recondução de Suplicy ao Senado.
Quem também deverá se eleger com tranqüilidade é o ex-governador pernambucano Jarbas Vasconcelos, em Pernambuco. Ele aparece com 61% das intenções de voto, contra 7% do segundo colocado (Luciano Siqueira, PCdoB). O índice de Tião Viana (PT-AC) é ainda maior, 66%.
No Distrito Federal, o ex-governador Roriz, do PMDB, está 31 pontos percentuais à frente do deputado federal Agnelo Queiroz (PCdoB) e hoje parece mais interessado em socorrer dois candidatos que estão em desvantagem nas eleições: os tucanos Geraldo Alckmin, para o Planalto, e Maria Abadia, para o governo local.
Confortável, igualmente, é a vitória prevista para Pedro Simon (PMDB), no Rio Grande do Sul. O senador, candidato à reeleição, tem 27 pontos percentuais de vantagem sobre Miguel Rosseto (PT).
As surpresas da eleição
Dos 17 estados onde é nítido o favoritismo de determinados candidatos, um dos casos mais interessantes é o de Minas Gerais. O pefelista Eliseu Resende começou a briga com 10% dos votos, contra 22% de Newton Cardoso (PMDB), mas conseguiu virar a disputa e agora aparece com 35% das intenções, contra 21%, segundo o Datafolha.
Ministro da Fazenda durante o governo Itamar Franco, Eliseu Resende foi afastado do cargo após ter sido acusado de pressionar técnicos do governo a aprovarem um empréstimo em favor do grupo Norberto Odebrecht, do qual ele havia sido diretor. Depois, elegeu-se para a Câmara dos Deputados, onde sempre teve atuação discreta. Agora, tem chance de conquistar a maior vitória de sua carreira política, chegando ao Senado.
Em termos de surpresas, porém, nada se compara às dificuldades enfrentadas no momento pelo ex-presidente José Sarney no Amapá. Único candidato do bloco governista do PMDB com chances de vitória nesta eleição, Sarney tem a majestade ameaçada por uma novata na política, Cristina Almeida.
No início da campanha, a vantagem de Sarney era tal que todos o davam como virtualmente eleito. Agora, está apenas sete pontos percentuais à frente de sua adversária do PSB, cujo desempenho forçou o atual senador (candidato à reeleição) a trocar de marqueteiro na semana passada.
Outro ex-presidente, Fernando Collor (PRTB), disputa com o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) a vaga de Alagoas. Segundo o Ibope, ele tem 35% dos votos, enquanto seu adversário Lessa possui 26%. O instituto Gape chegou a colocar Collor, dez dias após ele formalizar sua candidatura, com 36% dos votos, contra 32% de Lessa. O detalhe é que o Gape pertence ao jornal Gazeta de Alagoas, comandado pela família de Collor.
O líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra (PTB-RN), trava uma disputa ainda mais apertada. O VoxPopuli aponta empate técnico entre ele e a pefelista Rosalba Ciarlini. O senador tem 29% das intenções de voto, contra 27% de Rosalba. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou para menos, é impossível atestar a vantagem do petebista. Que, embora ainda não seja oficialmente alvo de investigações da CPI dos Sanguessugas, apresenta claros sinais de envolvimento em irregularidades relacionadas com a compra de ambulâncias (leia mais)
Três outras mulheres se destacam nas eleições para o Senado: Marisa Serrano (PSDB-MS), franca favorita em seu estado; Kátia Abreu (PFL-TO), que começou a campanha muito atrás de Eduardo Siqueira Campos (PSDB) e apareceu na última pesquisa Ibope 15 pontos na frente dele; e Teresa Jucá (PPS-RR), que tem 11 pontos de vantagem sobre o atual senador Mozarildo Cavalcanti (PTB).
Embora filiada a um partido oposicionista, Jucá deve ser juntar à bancada do governo no Senado caso seja eleita. Seu destino mais provável é o PMDB, mesma legenda do marido, o senador Romero Jucá.
Senado renovado
Dos 27 senadores que deixam a Casa neste mandato, apenas quatro estão com a reeleição praticamente assegurada: Alvaro Dias (PSDB-PR), Pedro Simon (PMDB-RS), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Tião Vianna (PT-AC).
Luiz Otávio (PMDB-PA), até o início de setembro, estava bem colocado no páreo, com seis pontos percentuais atrás de Mário Couto (PSDB). Mas, segundo levantamento do Ibope divulgado no último dia 17, a disputa pendeu para o lado do tucano, que agora aparece com 47% dos votos, contra 19% do atual senador, que perdeu dois pontos. A queda colocou Luiz Otávio mais próximo do terceiro colocado, o petista Mário Cardoso, que aparece com 13% na sondagem.
O parlamentar peemedebista é um dos 23 senadores, atualmente no exercício do mandato, que respondem ou responderam a processos judiciais ou a acusações criminais durante a atual legislatura (veja a lista completa dos parlamentares processados).
Na Paraíba, o escândalo dos sanguessugas parece ter abalado a candidatura à reeleição de Ney Suassuna (PMDB), que está 17 pontos atrás do tucano Cícero Lucena e não deve voltar ao Senado no próximo mandato. Suassuna também integra a relação dos processados na presente legislatura (2003/2007).
Heloísa Helena, do Alagoas, está na disputa presidencial e não voltará ao Senado. Gilberto Mestrinho segue em desvantagem na disputa amazonense – mesma situação de Rodolpho Tourinho, terceiro colocado na Bahia e que também responde a processo (é réu em ação penal).
O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, Valmir Amaral (PMDB-DF, outro que aparece na lista dos processados) e João Batista Motta (PSDB-ES) estão em fim de mandato e não são candidatos a nenhum cargo.
Os peemedebistas Maguito Vilela (GO) e João Alberto (MA) encerram o mandato este ano e, como estão na briga pelos governos estaduais (o primeiro como candidato a governador, o segundo como vice de Roseana Sarney), não voltam ao Senado.
Aelton de Freitas (PL-MG, também processado durante a atual legislatura) e Alberto Silva (PMDB-PI) disputam uma vaga na Câmara dos Deputados e também não retornam ao Senado. No Mato Grosso, o tucano Antero Paes de Barros disputa o governo estadual e também não retorna ao Congresso. Antero, além de responder a inquéritos no Supremo Tribunal Federal, foi recentemente acusado pela família Vedoin de envolvimento com a máfia dos sanguessugas.
Luiz Pontes (PSDB) encerra o mandato pelo Ceará e, assim como Juvêncio Fonseca (PSDB-MS), disputa uma cadeira de deputado estadual.
José Jorge (PFL-PE) entrou como vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência e também não volta em 2007.
Também se despedem Roberto Saturnino (PT-RJ), que aparece apenas na terceira colocação nas pesquisas e não deve se reeleger; e o relator da CPI dos Sanguessugas, senador Amir Lando (PMDB), que concorre ao governo com remotas chances de êxito.
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