A influência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre os 12 governadores que acompanharam na Suíça, na última terça-feira (30), o anúncio do Brasil como sede da Copa de 2014 não se limitou às comemorações em Zurique. Dois dias após a festa na Europa, 75 deputados e quatro senadores pediram ontem (1º) a retirada de seus nomes do requerimento de criação da CPI do Corinthians e praticamente enterraram as chances de criação da comissão parlamentar de inquérito.
Os responsáveis pela coleta das assinaturas acusam governadores dos estados que disputam o direito de sediar os jogos da Copa de abortarem as investigações sobre denúncias de crimes de lavagem de dinheiro e de sonegação fiscal, envolvendo o segundo clube mais popular do país e o fundo de investimentos MSI, em troca de contrapartidas da CBF.
Entre os que mais pressionaram os parlamentares, segundo eles, estão os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Alguns congressistas “arrependidos” admitiram aos autores do requerimento ter recebido telefonemas de seus estados com apelos para que retirassem seus nomes da lista.
O argumento é o mesmo propagado pela CBF: as investigações no Congresso poderiam levar a Fifa a voltar atrás em sua decisão e tirar do país a condição de sede da Copa de 2014. A vinculação entre as duas coisas, no entanto, foi descartada pelo próprio presidente da entidade máxima do futebol, o suíço Joseph Blatter.
"Não tratamos ainda do assunto totalmente. Mas ele não tem influência sobre o processo da candidatura do Brasil", disse Blatter a um grupo de jornalistas, após reunião com o comitê executivo da entidade no início da semana.
Barganha política
Mas, nos bastidores, parlamentares admitiram que, em troca da retirada da assinatura dos parlamentares, dirigentes esportivos e governadores negociaram apoio político para a escolha das cidades que irão sediar os jogos daqui a sete anos. A confederação tem até 31 de outubro de 2008 para selecionar, entre as 18 capitais que estão na disputa, no máximo 12 cidades.
“É um absurdo. Os governadores estão pagando a conta antecipadamente”, disse ao Congresso em Foco Silvio Torres (PSDB-SP), autor na Câmara do requerimento de criação da CPI, ao lado do deputado Dr. Rosinha (PT-PR).
Em 2001, Silvio foi relator da CPI da Nike. No relatório final, o deputado atribuiu 13 crimes ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pediu o indiciamento do cartola e de outras 32 pessoas.
Ontem pela manhã, antes mesmo da confirmação da retirada das assinaturas, Dr. Rosinha já previa a debandada. “É um movimento suprapartidário. Em todos os partidos tem gente pedindo a retirada de assinaturas. Dizem para o deputado: ou você tira a assinatura, ou sua cidade não será sede de jogo”, afirmou o petista.
Apesar de reconhecer o desgaste das comissões parlamentares de inquérito nos últimos anos, o paranaense defende o início da apuração, pelo Congresso, das denúncias que associam o futebol a crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O deputado também nega que as investigações possam atrapalhar a realização do Mundial. “Quem pode prejudicar a Copa não é a CPI, mas os dirigentes corruptos”, rebateu. As estimativas iniciais dão conta de que a Copa deve demandar investimentos da ordem de US$ 10 bilhões no país.
CPI inviabilizada
Caso os pedidos de desistência sejam confirmados até a próxima quarta-feira (7), quando o ato de criação da CPI deverá ser lido em sessão conjunta do Congresso Nacional, o requerimento irá para o arquivo. Isso porque o regimento comum das duas Casas exige o apoio conjunto de, pelo menos, 171 deputados e 27 senadores para abrir uma comissão parlamentar de inquérito mista (leia mais).
No Senado, onde Teixeira esteve na semana passada para conversar sobre o assunto com os senadores, retiraram seus nomes Adelmir Santana (DEM-DF), Cícero Lucena (PSDB-PB), Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Garibaldi Alves (PMDB-RN). Antes desses quatro, já haviam retirado o apoio os tucanos Tasso Jereissati (CE) e Eduardo Azeredo (MG). A relação dos deputados que voltaram atrás não foi divulgada pela Secretaria-Geral da Mesa.
Com as baixas, o número de assinaturas na Câmara deve cair de 209 para 134, anulando o apoio mantido por 34 parlamentares no Senado. “Do mesmo jeito que retiraram, vou atrás deles pra conseguir essas assinaturas de volta. Não vou desistir. Vou tentar até o último momento”, promete Silvio.
Responsável pelo requerimento no Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR) é menos otimista que o colega e já admite apresentar um novo pedido de CPI – composta apenas por senadores – para investigar uma série de denúncias de irregularidade no futebol brasileiro.
Entre 2000 e 2001, o senador presidiu a CPI do Futebol, que apontou a existência de indícios de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e apropriação indébita em transações de dirigentes esportivos e da própria CBF.
Interferência indevida
Em discurso duro na tribuna do Senado, o tucano reagiu à intervenção dos cartolas e dos governadores para impedir a criação da CPI do Corinthians. “Essa interferência indevida afronta o Congresso Nacional. É compatível com a dignidade do mandato parlamentar sucumbir diante de uma intervenção dessa natureza?”, questionou.
“Por que temem tanto a instalação de uma CPI. Se dizem que termina sempre em pizza, por que temem? Ou querem que a corrupção seja privilégio dos políticos? No futebol não há corrupção? São todos santos?”, ironizou.
Em entrevistas, Teixeira disse que a investigação sobre a parceria milionária entre o Corinthians e a multinacional MSI, proposta no Congresso, seria apenas uma “fachada”. Por trás disso, segundo ele, a real intenção dos parlamentares era “atingir” a Copa de 2014.
Alvaro Dias afirma que, em princípio, a CBF não será o alvo das investigações. "Vamos investigar a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas envolvendo clubes, diretores e jogadores. A intenção, pelo menos inicialmente, não é investigar a CBF", declarou à reportagem.
O senador, no entanto, defende que o governo federal tome a dianteira da organização do mundial de futebol. “Q
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