Juarez Cruz *
Quando Lula, no seu primeiro mandato, quis fazer a reforma da previdência dos funcionários públicos, que mexia com direitos dos servidores públicos, alguns deputados federais como Babá, Luciana Genro, João Fontes e a senadora Heloisa Helena, se rebelaram e disseram não. Indignado com tamanha rebeldia de seus comandados, Lula resolveu puni-los. Com essa decisão estes deputados e outros militantes resolveram sair do PT e desta debandada foi que surgiu o PSOL.
Vale lembrar que também se rebelaram os deputados federais Lindbergh Farias e Walter Pinheiro, que à época eram do PCdoB-RJ e do PT-BA, respectivamente. Mas que não tiveram a mesma coragem de seus companheiros dissidentes e covardemente deram pra trás.
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Com a formação do novo partido, PSOL adotou o discurso da esquerda que o PT abandonou depois de assumir o poder, e fez bem este papel até certo tempo, porque hoje parece que ainda não conseguiu cortar totalmente o cordão umbilical que seus membros tinham com o PT e, vez por outra, estão pregando as mesmas ideias, defendendo as mesmas posições no congresso como se fosse um apêndice do PT, assim com é o caso do PCdoB.
A maior demonstração disso foi durante o julgamento do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Neste período não se sabe quem mais defendia Dilma, se PT, PCdoB ou PSOL. A defesa contra o impeachment virou uma bandeira do partido que foi levada aos extremos até às eleições de 2016, quando candidatos às prefeituras e às câmaras de vereadores em todo país se uniram num só grito de “Não ao Golpe” e “Fora Temer”. Como se toda essa grita fosse empolgar o eleitorado. Não empolgou. O resultado desse discurso contra os “golpistas” imaginários, sabemos no que deu e o PT e seus apaniguados tomou uma surra nas urnas, inclusive o PSOL.
Não obstante a esse mal sucedido desempenho nas urnas, os parlamentares do PSOL não entenderam o recado e continuam na mesma cantilena, como se não tivessem outro discurso contra os políticos e suas políticas nefastas que assolam o país e, para piorar, esqueceram que os políticos que eles acusam de golpistas, traidores, corruptos e etc., são os mesmos que Lula e Dilma, durante quase 14 anos de governo petista mantiveram em seu ninho, alimentando-os com apoios políticos, distribuições de cargos, corrupção, dinheiro público através de emendas parlamentares, medidas provisórias e todo sorte de favores em troca de apoio no Congresso Nacional só para manter sua base parlamentar.
Para piorar o PSOL endossa todo tipo de acusação que PT faz contra o governo Temer como se Lula e Dilma não tivessem culpa por tê-lo colocado onde ele está e dizem as mesmas bravatas que o PT como se todos nós fossemos imbecis, sem memória, fingindo não ver que os mesmos malfeitores de hoje são os mesmos malfeitores de ontem e que, por incrível que pareça, hoje, Lula já articula alianças com este mesmo grupo de malfeitores para as eleições de 2018 e Dilma diz que o PT não pode ter ressentimento com quem foi contra ela, em meias palavras, contra o PMDB. Então, vamos voltar a fazer coligação com escória da política brasileira: Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Geddel Vieira, famílias Picciani e Cabral, Eduardo Paes e, a depender do andar da carruagem, vale fazer também com Michel Temer, quem sabe? É esperar pra ver.
Durante as reformas trabalhista e previdenciária que foi travada no Congresso ao longo de 2017, o PSOL fez defesas pertinentes, consistentes em alguns pontos das reformas, mas deu ênfase maior na defesa dos benefícios dos funcionários do setor público, aposentados e pensionistas, como se essas categorias de trabalhadores fossem a maioria no contexto dos trabalhadores brasileiro e os menos afortunados. O funcionalismo público representa cerca de 900 mil trabalhadores, contra cerca de 40 milhões do setor privado. Portanto há uma discrepância muito grande entre os do setor público e o privado sem falar na média salarial que há uma diferença absurda entre um e outro. No entanto, na última eleição de 2016, o que se viu nos debates e propaganda eleitoral foi à ênfase dada na defesa da manutenção dos direitos dos servidores como se estes fossem uns pobres coitados que Michel Temer, com a reforma Trabalhista e Previdenciária, quer acabar e levar o país ao século 19, como disse Leonardo Sakamoto, em seu blog do dia 09/11/2017, no portal do UOL.
Sakamoto acha que ser de esquerda e oposicionista é ser contra tudo que o governo Temer quer por em prática, até mexer(não vou entrara no mérito se esta a reforma certa ou errada) com a velha C.L.T(Consolidação das Leis do Trabalho), feita em 1º de maio 1943, portanto uma senhora de 74 anos, que já era para ter passado por uma transformação e adequação ao século 21 sem que precisasse fazer tanto alarde. Vale lembra que até Lula, em 2007, dizia o seguinte: “Não é possível que algumas coisas feitas em 1943 não precisem de mudanças para 2007. O mundo do trabalho mudou, houve evolução e a condição de trabalho é outra”. Lula até editou, em 2007, medida provisória que dispensava a assinatura da carteira de trabalho para contratos com até dois meses de trabalho, por causa desta medida ele não foi acusado de querer trazer de volta a escravidão (viu Sakamoto?). Sofreu apenas alguns tímidos protestos de centrais representantes do trabalhador do campo (menos o MST, omisso durante todo governo petista) e de centrais sindicais, mas que logo foram silenciadas por ele, possivelmente com alguns agrados (cala boca), prática usual em seu governo, para mantê-los calados.
Certamente se fosse Temer que editasse tal medida teríamos o MTS (Movimento dos Trabalhadores sem Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), UNE (União Nacional dos Estudantes), sindicatos e centrais sindicais ameaçando parar o país ou botar seu “exército” nas ruas, como fazem alguns de seus líderes: Guilherme Boulos (MTST) e João Pedro Stédile (MTS), que pensam ou querem fazer do Brasil uma Venezuela.
Como disse Lula, e neste ponto estou de acordo com ele, “mudanças são necessárias”, mesmo que isto implique mexer com direitos de quem tem mais, como alguns servidores públicos federal, do legislativo, executivo; dos políticos e das regalias da turma de barnabés do judiciário que tem direitos que não se comparam com os direitos dos trabalhadores da iniciativa privada, e é esta discrepância que o PSOL e os partidos verdadeiramente de esquerda deveriam combater, e não se juntar aos políticos, sindicatos e movimentos sociais oportunistas que teimam em fazer a defesa dos interesses de uns poucos em detrimento dos milhões de trabalhadores que quando se aposentam o que recebem mal dá para sobreviver.
O que o PSOL vai ser quando crescer? Quer ser um partido de todos os brasileiros, um partido que tenha memória (porque que parece que se esqueceu de quem armou toda essa bagunça que transformou o país num antro de corruptos, ladrões e ainda colocou Michel Temer no governo foi o PT, foi Lula), que pense no futuro do país e de seu povo como um todo; que pense, principalmente, em transformar o país pela educação de base, do ensino fundamental, técnico e na qualificação e melhoria salarial de seus professores; que priorize investimentos em ciência e tecnologia e nos coloque no patamar dos países desenvolvidos; que priorize a preservação de nossos biomas e dos povos em seu entorno; que priorize investimentos em infraestrutura de estradas e na modernização do modal de transporte rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo, sem os quais não é possível escoar com rapidez e sem desperdício o que produzimos no país; que priorize investimentos na saúde; que priorize investimentos na segurança pública e na qualificação dos policias militares e civis; que priorize a qualificação técnica do trabalhador, como fez a Coreia do Sul e Singapura a partir de 64, e o Japão após a segunda guerra mundial e por isso se tornaram potencias econômicas no mundo pós-moderno, ou vai querer ser um partido que apoia candidato que rouba, mas faz. Rouba, mas é amigo. Rouba, mas é de esquerda, como bem disse Marina Silva (Rede), e continuar sendo porta-voz de alguns setores de privilegiados pensando apenas nos votos destes, o que é um erro crasso de estratégia política e eleitoral, se for essa a ideia.
O PSOL e quem interessar possa precisa entender que mudanças são necessárias, pertinentes e por melhor que sejam nunca vão agradar a todos, mas é necessário que sejam feitas pensando no bem do povo brasileiro, repito, pensando no bem do povo brasileiro e não apenas no seu bolso ou numa ou outra categoria de privilegiados da sociedade. Devemos repensar sim um país menos estatizante, menos corporativista, menos desigual, menos aparelhado, menos leniente com a corrupção que se instalou em quase todos os setores públicos e privados do país, inclusive nos fundos de pensões do Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica, Belo Monte, Eletrobras e que se especializou na venda de medidas provisórias para beneficiar o setor automotivo, da agroindústria, da mineração, da construção civil e energia, em detrimento do povo que é quem deveria ser o maior beneficiário de tais medidas provisórias.
Devemos pensar um país sem estruturas de castas políticas dentro do Congresso, como os BBB, bancada da Bala, da Bíblia e do Boi, que só trabalham na defesa de interesse dos seus pares e não estão nem ai para os interesses daqueles que eles dizem representar. Estas mudanças tem que ser feitas por quem tenha compromisso com o país e visão de futuro, sem corporativismo, como são feitas nos países de primeiro mundo em que políticos, setores do judiciário e do funcionalismo público não tem os privilégios como os que temos no Brasil e, no entanto, ninguém nestes países vive em regime de escravidão, muito menos no século 19, é por isso que eles são prósperos, desenvolvidos, enquanto nós ficamos para trás, neste atraso desgraçado, com os piores indicadores social, educacional, tecnológico e econômico se comparados a eles e não vai ser Boulos, como pretenso candidato do PSOL, que vai resolver isso, muito menos Lula, que já teve sua oportunidade e foi reprovado no quesito honestidade por causa da farra que fez com o dinheiro público ( Petrobrás, Copa do Mundo, Olimpíadas e apoio aos governos do Rio de Janeiro, só para ficar nestes quatro exemplos) deixando um vácuo para o surgimento de oportunistas de plantão que vem com o discurso de bom gestor, de que não é político, de saudosista do regime militar e até de quem pensa que o Brasil é um auditório de TV.
Como dia dizia Darci Ribeiro e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que vem reiterando esse discurso há anos, “sem educação, não há solução”. Esta é a única forma de mudarmos o panorama político e social do país e garantirmos nossa entrada no clube de países desenvolvidos. Mas os políticos não querem isso porque povo educado é povo consciente, sem cabresto.
* Escritor e colunista.
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