As bancadas do PT no Congresso estão divididas entre apoiar a eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para presidência do Senado e Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara, em troca de cargos nas Mesas Diretoras das duas Casas, ou abrir mão do poder no Legislativo para tentar reconquistar e reanimar seus filiados e os militantes dos movimentos sociais que fazem oposição ao governo. Maior liderança do partido, o ex-presidente Lula recomendou que a legenda abra mão de ocupar cargos no Congresso para tentar preservar a base partidária que ainda resta.
Pelo tamanho das bancadas petistas na Câmara e no Senado, o partido teria direito a pelo menos uma vaga de titular em cada uma das Mesas Diretoras. Mas, para isto, precisa apoiar dois nomes que votaram pelo impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. Para agravar ainda mais o dilema do PT, a alternativa viável eleitoralmente na Câmara é o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), relator que pediu o afastamento da ex-presidente e a abertura do processo de impedimento. No Senado, o PT reza para surgir de última hora uma opção a Eunício e José Medeiros (PSD-MT), este último é um dos maiores adversários do partido.
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Quatro senadores petistas, entre eles Jorge Viana (AC), Humberto Costa (PE), José Pimentel (CE) e Paulo Rocha (PA), defendem a ocupação do cargo que cabe ao PT em razão do tamanho da sua bancada, com 10 parlamentares. O senador Eunício, candidato oficial do PMDB à presidência do Senado, ofereceu a primeira secretaria da Casa aos petistas, uma espécie de prefeitura encarregada da folha de pagamento dos servidores, senadores e toda a infra-estrutura de funcionamento da Casa. A oferta dividiu ainda mais o PT.
Na reunião da bancada de senadores na sede do PT, em Brasília, a discussão foi exaltada. Os senadores Lindbergh Farias (RJ), Gleisi Hoffmann (PR) e Jorge Vianna (AC) tiveram uma acalorada discussão que terminou nas calçadas em frente ao prédio no centro da capital. Lindbergh e Gleisi querem que o partido não apoie qualquer nome pró-impeachment e radicalize nas ações como oposição ao governo do presidente Michel Temer e suas propostas de reformas na Previdência e trabalhista.
Viana, que hoje ocupa a primeira vice-presidência do Senado, quer o partido ocupando o cargo a que tem direito na direção da Casa em razão do tamanho da bancada. Se não topar a aliança com Eunício, a bancada petista perderá cerca de 50 cargos de assessoria no Senado, onde hoje acomoda militantes mais graduados. O PT reza pelo surgimento de uma alternativa, que pode ser o senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Na Câmara, o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), um dos mais experientes deputados, também quer a vaga que cabe aos petistas na Mesa Diretora, mesmo que o novo presidente da Casa seja um parlamentar governista e pró-impeachment. Ele enfrenta a oposição do deputado Patrus Ananias (MG), ex-ministro dos governos Lula e Dilma, que defende abandonar os postos no Legislativo e a retomada de um trabalho de base e alianças com os movimentos sociais.
PublicidadeO ex-líder do governo Dilma José Guimarães (CE) defende que a bancada apoie um nome claramente de oposição, como o de André Figueiredo (PDT-CE), mesmo com o sacrifício de ficar longe dos cargos na Casa. “O PT precisa ouvir e levar em conta o que pensa a sua base”, diz Guimarães. “A retomada de um projeto de esquerda contra hegemônico passa necessariamente por uma profunda reinserção do PT com os movimentos sociais e nas lutas concretas e imediatas do povo brasileiro”, acrescentou o parlamentar.
Um dia antes da eleição interna para as direções do Senado e Câmara, o PT vive o seu desafio particular para decifrar o enigma da Esfinge de Tebas, personagem da Mitologia Grega que era metade leão e metade mulher e devorava quem não respondesse corretamente a pergunta: “Que criatura tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?”. Só Édipo acertou: “o ser humano”, e, com a resposta, escapou da morte. O PT só tem até amanhã para decifrar o próprio enigma.
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