Juliana Monteiro *
Tudo começou quando eu cheguei a Roma, há quase dois anos. Não que antes não acontecessem coisas estranhas, mas desandou.
De repente, todo azar de canalhas, machistas, racistas e homofóbicos saiu do armário de uma vez, foi pra internet, para as ruas. Alguns passaram a defender golpe militar à luz do dia e em faixas! Gente que parecia inofensiva passou a ofender. A conversa caiu em desuso.
Caiu o avião de um dos candidatos à Presidência da República, às vésperas da eleição. Acabou a água em São Paulo. A seleção perdeu a semifinal da Copa do Brasil por 7 x 1. O Brasil entrou num espiral de crise futebolística, política, econômica, social, moral, intelectual – tudo ao mesmo tempo e muito, até para nós, escolados no fantástico do nosso realismo.
O Rio Doce morreu, numa cena de cinema catástrofe.
Emergiu (das sombras e para as sombras) o Cunha, o Curinga brasileiro. O mosquito da dengue agora não espera nem o sujeito nascer, aterrorizando com o fato de que vírus podem evoluir quase que tecnologicamente. Alguns dos empresários mais ricos do país foram presos e resolveram contar que fazem mesmo, e como fazem mesmo, o que sempre se soube que se faz.
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Só nesta semana jogaram maços de dinheiro de um prédio durante uma operação da Polícia Federal (!) e Katia Abreu jogou o drink na cara do Serra durante uma comemoração de fim de ano (!!!).
Acompanhar as notícias do Brasil de longe é como assistir à última temporada de uma série em que tudo só piora. Emocionante, se fosse ficção. Assustador em se tratando de um país que eu amo e para o qual pretendo voltar.
Alguém me diz: está tudo muito (mais) louco ou a saudade dramatiza a coisa?
* Jornalista, mora em Roma (Itália) e, mesmo diante de nosso atual estados de coisas, pretende voltar a morar no Brasil.
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