No dia em que o Psol requereu, no Conselho de Ética do Senado, processo por quebra de decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), uma nova denúncia envolvendo o agora ex-líder de bancada foi veiculada pelo telejornal de maior audiência do país. Em reportagem que foi ar na edição desta quarta-feira (28), o Jornal Nacional (TV Globo) mostra o conteúdo de relatórios a que teve acesso, sob os cuidados da Polícia Federal, com registros de escutas telefônicas envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira e dois de seus “sócios”. Eles discutem como fazer uma partilha de dinheiro ilegal em que, segundo o JN, Demóstenes é um dos receptores. O nome de Demóstenes, de fato, é mencionado várias vezes nos diálogos.
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Preso desde fevereiro no âmbito da Operação Monte Carlo, sob a acusação de ser o chefe de um esquema de exploração ilegal de jogos de azar em Goiás e periferia de Brasília, Cachoeira é amigo de Demóstenes. O grau de relação foi admitido pelo próprio senador, no Plenário do Senado, no único discurso de defesa por ele feito até agora. Nas conversas reveladas hoje pelo JN, o parlamentar goiano é citado com um dos beneficiários de um montante que chega a R$ 5 milhões.
Os diálogos foram gravados pela PF há um ano, ainda no início da Monte Carlo. Neles, Cachoeira conversa com o contador Giovani Pereira da silva, foragido da Justiça, e Cláudio Abreu, apontado pelas investigações como sócio de Cachoeira “em vários negócios suspeitos”. A conversa seria sobre a contabilidade da organização criminosa. Em cinco minutos, o nome de Demóstenes é pronunciado seis vezes, diz a reportagem do JN.
“Segundo os investigadores, Cláudio Abreu e Giovani querem usar R$ 1 milhão para pagar contas da organização. Mas nas gravações não fica claro exatamente o contexto das conversas, e nem para quê se destinava o dinheiro mencionado. Cachoeira pergunta ao sócio Cláudio Abreu o que ele, Cachoeira, reteve. Ouve como resposta: ‘Um milhão do Demóstenes’”, diz trecho do relatório da PF. “Cachoeira, referindo-se sempre a Demóstenes, cita várias cifras, cumulativamente: um milhão e quinhentos, mais seiscentos, que dariam dois e cem. E mais um milhão que Cachoeira diz ao sócio que pediu para segurar. Faz a conta e diz que o total dá três e cem.”
A reportagem continua com a transcrição do diálogo, que registra ainda a divergência dos interlocutores sobre os valores da partilha. É quando Cláudio faz referência a um montante, transcrito como “este do Demóstenes”, que já teria sido mostrado a Cachoeira, e por este retido “desde a época em que o senador ganhou a eleição”. Ainda segundo a matéria, a gravação faz parte de um conjunto de cerca de 300 outras escutas legalmente autorizadas.
Silêncio
Hoje (quarta, 28), o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), ao ajuizar o pedido de processo por quebra de decoro, disse ao Congresso em Foco que considera gravíssima a situação do senador goiano – antes tido como um dos principais nomes do DEM no Congresso e potencial candidato ao governo de Goiás nas eleições municipais de outubro. “Ninguém gostaria de estar na condição do senador Demóstenes. É lamentável, triste isso. Espero que, o quanto antes, o senador venha e proceda a sua defesa – seja no plenário, seja no Conselho de Ética, que é a instância cabível para tanto”, ponderou Randolfe.
Ontem (terça, 27), o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ao Supremo Tribunal Federal pedido de abertura de inquérito para investigar o senador goiano e outros dois deputados federais citados na Operação Monte Carlo – Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). O pedido de inquérito foi distribuído ao ministro Ricardo Lewandowski, que relatará o caso e decidirá pela abertura ou não de inquérito. Em carta endereçada ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Demóstenes queixou-se de “ataques à honra” e disse que ficaria afastado das discussões legislativas para poder observar adequadamente a repercussão dos fatos.
Demóstenes tem evitado dar declarações sobre o assunto, a não ser pelo Twitter. Na manhã de hoje (quarta, 28), o senador até foi ao gabinete, mas não falou com a imprensa nem participou de debate em comissões ou plenário. Já seu advogado, Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, disse que, de fato, a repercussão das seguidas reportagens sobre o assunto é muito “negativa” para a imagem do senador.
Mas, acostumado a defender autoridades da República, Kakay resumiu em uma frase a confiança de Demóstenes nos trabalhos de investigação no STF. “No tocante à questão jurídica, estamos muito tranquilos”, concluiu.
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