Época
Black Blocs afirmam que são financiados por ONGs nacionais e estrangeiras
Em um sítio no interior de São Paulo, pouco mais de 30 pessoas se reuniram, no fim de semana do Dia dos Finados, para organizar uma nova onda de protestos contra tudo e contra todos. O local se tornou um centro de treinamento para uma minoria que adotou o quebra-quebra como forma de manifestação política e ficou conhecida como Black Bloc. O repórter Leonel Rocha testemunhou as reuniões e relata na edição de ÉPOCA desta semana que, ao contrário do que afirmam órgãos de segurança federais e estaduais, eles não são manifestantes que aparecem nos protestos “do nada”, sem organização. Os Black Blocs têm método, objetivos, um programa de atuação e, segundo afirmaram, acesso a financiamento de entidades estrangeiras.
De acordo com Leonardo Morelli, jornalista que coordena a ONG Defensoria Social, braço visível e oficial que apoia os Black Blocs, a ONG Instituto St Quasar, ligada a causas ambientais, já repassou, neste ano, € 100 mil aos cofres da entidade. Morelli recebeu a reportagem de ÉPOCA no sítio em São Paulo. Segundo ele, o próprio veículo (uma Kombi) que levou Leonel Rocha ao local do treinamento, a partir do vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), foi financiado com doação de entidades nacionais e estrangeiras. Morelli diz que um Jeep Willys também foi comprado com esse dinheiro. Ele também cita entre seus doadores organizações como as suíças La Maison des Associations Socio-Politiques, sediada em Genebra, e Les Idées, entidade ligada ao deputado verde Jean Rossiaud. Procurados por ÉPOCA, ambas negaram ter enviado dinheiro. Morelli diz que a Defensoria Social também foi abastecida pelo Fundo Nacional de Solidariedade, da CNBB. A CNBB negou os repasses. Morelli ainda relacionou entre seus contatos os padres católicos Combonianos e a Central Operária Boliviana.
Leia também
Leia outros textos sobre black blocs no Congresso em Foco
Arno Augustin: “Não sei o que é contabilidade criativa”
PublicidadeO secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, de 53 anos, é o artífice da “contabilidade criativa” – a irônica expressão com que vários economistas e operadores de mercado designam os truques contábeis implementados pelo governo nos últimos anos, para afirmar que cumpre as metas fiscais. Augustin aproximou-se da presidente Dilma Rousseff no governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul (1999-2002), quando ele era secretário da Fazenda, e ela secretária de Minas e Energia. Há seis anos à frente do Tesouro, o período mais duradouro no cargo na história, Augustin se tornou um dos assessores mais influentes do Palácio do Planalto.
A situação de refugiados haitianos no Acre mancha a imagem do Brasil no exterior
A democracia não pode conviver com a violência
As mágicas contábeis do governo para tentar esconder o desequilíbrio nas contas públicas
IstoÉ
A dama do achaque abre o jogo
A investigação sobre o escândalo do pagamento de propina a auditores fiscais da Prefeitura de São Paulo, operado por grandes incorporadoras em troca de desconto no recolhimento de tributos, subiu alguns andares na semana passada e chegou à porta do ex-prefeito Gilberto Kassab. Em conversas telefônicas interceptadas pela polícia, com autorização da Justiça, um dos auditores fiscais do esquema afirma que o secretário e o prefeito com quem trabalhou “tinham ciência de tudo”. Para quem investiga o caso, a revelação do diálogo entre os fiscais não foi nenhuma novidade. No dia 6 de setembro passado, a testemunha-chave da investigação da quadrilha, Vanessa Alcântara, ex-companheira de Luís Alexandre Magalhães, um dos quatro fiscais presos, revelou à Corregedoria-Geral do Município (CGM), ao Ministério Público Estadual e à polícia como o grupo do ex-marido operava. Ela entregou também uma pasta recheada com 150 folhas de documentos,que comprovavam a participação do ex-companheiro no esquema de fraude no recolhimento de tributos e gravações que revelaram os bastidores do esquema. A denúncia de Vanessa, movida por um desejo de desforra contra o ex-companheiro, foi fundamental para os investigadores fecharem o cerco sobre os fiscais. “Eu alertei os investigadores sobre quem era quem. O grupo não sabia que estava com os telefones grampeados. Contei que o Luís Alexandre tinha horror à cadeia e que o monitorassem com muita atenção, pois ele sempre disse que iria denunciar todo mundo se um dia o esquema ruísse”, disse Vanessa em entrevista à ISTOÉ.
Diante das investigações e dos depoimentos de Vanessa, Luís Alexandre resolveu fazer uma delação premiada. Ou seja, topou fornecer informações sobre a máfia da qual fez parte em troca da redução de sua pena. Ele levava uma vida de magnata ao lado de Vanessa. Ela relembra passeios de iate, jantares caríssimos regados pelos melhores vinhos e fins de semana em luxuosos hotéis. A proximidade fez com que a ex-companheira se familiarizasse com a maneira de agir dos integrantes da quadrilha. Vanessa contou que ela e Luís Alexandre sentavam-se no tapete de casa, espalhavam a dinheirama da propina e separavam em pacotinhos iguais para os quatro integrantes do esquema.
O risco político de Haddad
Ao assumir o comando da prefeitura de São Paulo no começo deste ano, Fernando Haddad (PT) apresentou-se como um gestor de primeira linha. Disse que uma de suas prioridades era equilibrar o orçamento municipal, pois herdara uma cidade numa situação de insolvência. Em conversas com aliados, já prenunciava dificuldades nos primeiros meses de gestão. O que nem a população nem o PT, seu próprio partido, esperavam é que, na tentativa de solucionar os problemas, Haddad se envolveria em tanta polêmica e tomaria iniciavas tão impopulares em menos de um ano de mandato. A mais controversa delas é o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Em uma canetada, condenada por 89% da população, Fernando Haddad ampliou em até 20% o valor pago em 2014 pelos contribuintes nos tributos de imóveis residenciais e em 35% para o comércio e a indústria. Pesquisas que chegaram à cúpula do PT, nos últimos dias, mostram um grande abalo na imagem de Haddad. O desgaste é tamanho que nem mesmo o fato de seu governo ter desmantelado um antigo esquema de corrupção operado por funcionários públicos serviu para retirá-lo da agenda negativa. Até na cúpula petista já há quem considere que, diante da atual conjuntura, o prefeito da capital paulista deixou de ser uma arma política e transformou-se num fardo na estratégia do partido de conquistar o governo do Estado de São Paulo em 2014. “Já vimos isso em 2004, quando a (ex-prefeita) Marta (Suplicy) criou vários impostos em São Paulo e ficou conhecida como Martaxa”, lamentou um cardeal petista, para quem Alexandre Padilha, o pré-candidato do PT ao governo, terá de manter uma distância regulamentar de Haddad se quiser obter êxito eleitoral no próximo ano.
Para setores do partido, desde que assumiu o comando da capital paulista, Haddad demonstrou características pouco recomendadas a um político de qualquer época. É fechado ao diálogo e costuma ser intransigente. Foi assim na questão da passagem de ônibus. Mesmo com as manifestações populares de junho ganhando cada vez mais força pelo País, o prefeito mostrou-se irredutível em baixar a tarifa do transporte público em R$ 0,20. Só recuou depois que várias capitais anunciaram a redução. O posicionamento do prefeito de São Paulo foi ainda mais radical no aumento do IPTU.
“Eu saí do Bolsa Família”
Mais importante programa social do Estado brasileiro, o Bolsa Família completa dez anos de existência como uma iniciativa louvada não só pelo governo, como também pela oposição. Considerado imprescindível por todos os candidatos a ocupar a Presidência da República no próximo ano, o programa tem se revelado uma política pública de sucesso político, econômico e também cultural. Ajudou brasileiros a se reconciliarem com uma dívida social acumulada ao longo de séculos de uma história de exclusão, permitiu a ampliação do mercado interno e, principalmente, conseguiu sepultar de uma vez por todas a alegação de seus principais críticos de que o programa de transferência de renda estimularia os beneficiados a não procurar emprego e melhores condições de vida. Nos últimos anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, milhares de famílias procuraram repartições municipais para entregar seu cartão verde-amarelo, símbolo do programa, e assinar uma declaração de próprio punho na qual afirmam que não têm “mais necessidade de receber o beneficio”. Em uma década, 1,7 milhão de chefes de família – em sua maioria mulheres – abriram mão de um benefício mensal médio da ordem de R$ 250 para caminhar com suas próprias pernas, sem ajuda do Estado.
ISTOÉ conversou com quatro antigos beneficiários do programa que puderam se emancipar do auxílio do Estado. Ouviu relatos de famílias que conquistaram aumento de renda e qualidade de vida. As histórias de vida de bolsistas do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste mostram que a porta de saída do programa não é um milagre, mas uma arquitetura realista quando famílias que enfrentam a pobreza em seus múltiplos aspectos – econômico, educacional, médico, social – recebem amparo e orientação para transformar vocações profissionais em fonte de renda. “Há quatro anos, fiz um curso oferecido pelo Sebrae e pelo governo do Estado e abri um ateliê em casa para artesanato. O negócio cresceu e hoje temos uma loja de joias, na avenida principal da cidade. Nós fomos os primeiros a entregar o cartão, aqui na região. O gestor ficou admirado”, conta Osmarina Uchoa, ex-beneficiária do Bolsa Família, moradora de Pedro II, município a 200 quilômetros de Teresina, no Piauí.
Justiça chega aos homens do propinoduto
O esquema de superfaturamento de licitações no Metrô paulista e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) durante os sucessivos governos tucanos à frente do Estado de São Paulo tornou-se oficialmente um caso de Justiça. Em decisão proferida na quinta-feira 7, o juiz criminal Marcelo Costenaro Cavali atendeu a um pedido do Ministério Público Federal e da Polícia Federal e decretou o bloqueio de aproximadamente R$ 60 milhões em bens e contas bancárias de cinco pessoas e três empresas relacionadas com o cartel da área de transportes sobre trilhos. A tramoia causou prejuízo de ao menos R$ 425 milhões aos cofres públicos paulistas. Além da filha de um dos envolvidos, entre os alvos constam o lobista Arthur Teixeira e três ex-executivos da CPTM: Ademir Venâncio de Araújo, João Roberto Zaniboni e Oliver Hossepian Salles de Lima. Para o Judiciário, há elementos contundentes que revelam que, em troca de suborno, eles usaram de suas atribuições para beneficiar empresas interessadas em contratos públicos. O esquema foi denunciado com exclusividade por ISTOÉ em julho passado. Desde então, 19 reportagens esmiuçaram o funcionamento do propinoduto tucano, que se perpetuou pelas gestões dos governadores Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra. Em uma das reportagens de capa, sob o título “Todos os homens do propinoduto tucano”, ISTOÉ revelou em primeira mão o envolvimento de Ademir Venâncio – que agora está com os bens bloequeados – no esquema.
As escapadas de Dilma
O poder embriaga. O poder é afrodisíaco. O poder isola. O poder cobra seu preço. Que o diga a presidenta Dilma Rousseff. Às vésperas de entrar em campanha na disputa por mais quatro anos no Palácio do Planalto, ela confidenciou na semana passada que a incomodam muito as amarras impostas pelo mais alto cargo da República. Com seus movimentos limitados (e sempre vigiados), ela admitiu pela primeira vez estar recorrendo a fugas (assim mesmo, no plural) para viver alguns momentos triviais e experimentar sensações que estão ao alcance de qualquer cidadão comum. “Brasília tem um inconveniente, porque não tem esquina, como nas outras cidades. Não tem como eu caminhar até ali e comer uma coisa. Mas eu ando fugindo bastante, sabe?”, diss em entrevista a rádios do grupo gaúcho RBS. “Uma pessoa que foge não fica contando que foge, mas é fácil fugir”, completou.
Quantas terão sido as escapadas? Com quem? Quais eram o destino e o objetivo? Já se conhecia – fruto de uma inconfidência do ministro Edison Lobão, que ouviu o relato da própria Dilma – o passeio de moto na garupa do ex-ministro da Previdência Carlos Gabas, em agosto passado. Ou uma caminhada anônima pelas ruas de Nova York, há três anos. Na entrevista, a presidenta relatou outro episódio, em que ensaiou uma volta, a pé, pela Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, um cenário da sua infância. “Mas não durou muito, não”, lamentou. “Vinha assim uma barreira, uma coluna de câmeras, aí não pude andar.” Descontraída, Dilma queixou-se de não dirigir mais seu próprio carro e disse que gostaria de tirar habilitação para pilotar motos. “Agora entendo por que tem tanto motoqueiro. É uma grande sensação de liberdade.”
Mais ou menos inocentes, discretas ou deliberadamente “vazadas”, as escapulidas em busca de sensações (nem sempre tão prosaicas) são uma espécie de tradição nas altas esferas públicas. O marechal Costa e Silva, segundo presidente do regime militar, deixava o Alvorada às escondidas para deleitar-se nas mesas de carteado. João Goulart, Juscelino Kubitscheck e até mesmo Getúlio Vargas são famosos por usarem seu tempo livre em expedições secretas ao idílio. Contavam com a cumplicidade de assessores e seguranças para ocultar seus compromissos extra-agenda e extraconjugais. Fugas presidenciais poderiam ocorrer até mesmo sem deixar a imensidão dos palácios.
Veja
Rosemary de Noronha quebra o silêncio: ‘não fiz nada de errado’
Rosemary Noronha sabia desfrutar o poder quando era chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Amiga íntima do ex-presidente Lula, ela empregava parentes na administração, intermediava negócios milionários para amigos e familiares, hospedava-se em aposentos de luxo mundo afora e tinha um talento especial para ganhar cortesias — de diárias em resorts de luxo a ingressos para shows de artistas consagrados. Rose era cortejada por servidores graduados e empresários por um motivo bem simples: ela abria as portas dos gabinetes mais poderosos, inclusive o mais importante deles, no 3º andar do Palácio do Planalto. Desconhecida do grande público, Rose levava uma vida de rainha. Foi assim até novembro do ano passado, quando a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que defendia interesses privados no governo em troca de propina. Seis pessoas foram presas. Outras doze, indiciadas. Apontada como protagonista da teia criminosa que mercadejava pareceres de órgãos técnicos, Rose perdeu o emprego, a influência e o prumo. Caiu do pedestal e sumiu do mapa.
Na semana passada, um ano depois da ação da PF, Rose quebrou o silêncio a que tinha se submetido por orientação de advogados e petistas graúdos. Em conversa com VEJA, a poderosa de outrora, conhecida pela arrogância no trato com subordinados, se disse inocente e injustiçada. Apresentou-se ainda como vítima de trapaças de excompanheiros e de insinuações maliciosas da imprensa. “Não fiz nada de errado. E tenho certeza disso. Sou inocente.” Magra e com aparência bem cuidada, Rose conversou por quase uma hora com a reportagem, num shopping paulistano, sempre mantendo o olhar fixo no interlocutor. Firme na forma e frágil no conteúdo, rebateu as acusações de modo genérico. Mostrou-se também bastante magoada. Um dos motivos é a ligação com o ex-presidente Lula. Segundo Rose, os dois jamais tiveram uma relação de intimidade. “Minha relação com ele é de amizade, fidelidade, e totalmente profissional. As nossas famílias se conhecem desde que as crianças eram pequenas.”
O secretário Jilmar Tatto e os escândalos dos fscais
Um ex-analista da Abin diz que o governo Lula espionou a imprensa
Um depoimento-bomba expõe a maior facção criminosa do Rio de Janeiro
A piora dos indicadores econômicos no Brasil
Carta Capital
A guerra das tevês
Os bastidores da união de quatro emissoras contra a Globo
Deixe um comentário