“O aparelhamento não pode ter dono. Nós temos que acabar com o aparelho. Não precisamos apenas mudar de dono. O PMDB não pode transformar a coordenação política, sua participação no governo, em uma articulação de RH [Recursos Humanos] para distribuir cargos e boquinhas”, fustigou Renan. “Eu não quero é participar do Executivo. Eu não vou indicar cargo no Executivo porque esse papel hoje é incompatível com o Senado independente. E eu prefiro manter a coerência do Senado independente.”
A resposta de Michel Temer, presidente nacional do PMDB, foi imediata. Ele diz que, “se outros querem” sair da “trilha” dos objetivos nacionais, ele não sairá. “Não usarei meu cargo para agredir autoridades de outros Poderes. […] Não estimularei um debate que só pode desarmonizar as instituições e os setores sociais. […] Se outros querem sair desta trilha, aviso que dela não sairei”, disse o ex-presidente.
A relação de Renan com o Planalto já não era das melhores – e piorou – quando a presidenta Dilma Rousseff revolveu indicar o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo, tirando do posto um aliado do senador, Vinicius Lages. No dia seguinte, a indicação de Renan naquela pasta já estava empregada como chefe de seu gabinete no Senado.
Henrique Alves, que na posse se ofereceu para ajudar Temer na articulação política, compõe o grupo do PMDB do qual faz parte o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – que por sua vez, tem se estranhado com Renan em relação à pauta legislativa. Hoje (quinta, 30), depois das críticas de Renan ao fato de Dilma decidir não falar em rede nacional por ocasião do Dia do Trabalho (amanhã, 1º de maio), Cunha saiu em defesa da petista – Renan classificou a desistência como “ridícula” e disse que Dilma “não tem o que falar” aos trabalhadores em um momento de crise.
“Acho que ela tem a faculdade de decidir se deve ou não falar. Não tenho que me meter nisso. É decisão e direito dela. A independência de poderes pressupõe respeitar aquilo que é da competência de outro poder”, rebateu Cunha.
Confira a íntegra da nota de Temer:
“Não usarei meu cargo para agredir autoridades de outros Poderes. Respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura.
Não estimularei um debate que só pode desarmonizar as instituições e os setores sociais. O País precisa, neste momento histórico, de políticos à altura dos desafios que hão de ser enfrentados.
Trabalho hoje com o objetivo de construir a estabilidade política e a harmonia ensejadoras da retomada do crescimento econômico em benefício do povo brasileiro. Se outros querem sair desta trilha, aviso que dela não sairei.”