O ministro demissionário do Turismo, Henrique Eduardo Alves, explicou em carta enviada ao presidente interino Michel Temer que deixa o posto para não causar problemas para o governo. Alvo da Operação Lava Jato, com dois pedidos de inquérito contra si pendentes de análise no Supremo Tribunal Federal (STF), Henrique Alves telefonou para Temer na tarde desta quinta-feira (16) para anunciar sua decisão, e só depois disso redigiu o comunicado. Também por meio de carta, Temer agradeceu pelos serviços do correligionário e disse que “seu legado será longo, como poderemos verificar durante os Jogos Olímpicos” (leia abaixo a íntegra das duas mensagens).
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“Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional”, disse Henrique Alves, que estava no posto desde abril do ano passado, com interrupção de um mês no comando da pasta às vésperas da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara, em 17 de abril.
Henrique Alves agora é o terceiro membro da equipe ministerial a cair depois de revelações da Lava Jato. Citado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado como beneficiário do esquema de corrupção na Petrobras, o ex-presidente da Câmara (2013-2015) foi incluído entre os mais de 20 políticos que, segundo Machado, receberam recursos do chamado petrolão.
O agora ex-ministro recebeu R$ 1,55 milhão em propina entre 2008 e 2014, disse Machado em trecho da delação. Só o PMDB, partido responsável pela indicação de Machado na Transpetro, ficou com R$ 100 milhões em recursos ilícitos desviados de contratos com a Petrobras, de acordo com o delator.
Embora deixe o governo na esteira da delação premiada de Sérgio Machado, há quem diga que a decisão de Henrique Alves é uma antecipação a outra colaboração judicial. Segundo o blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, do jornal O Globo, “um ministro palaciano” confidenciou que a queda do peemedebista nada ter a ver com o ex-presidente da Transpetro, mas com relatos “que estão por vir à tona”. Ainda segundo a publicação, Henrique Alves foi advertido de que “denúncias mais pesadas” contra si estão a caminho.
Moreno transcreveu em seu blog a fala do ministro mencionado – e não identificado – sobre o assunto. “A delação de Sérgio Machado tem efeito zero na demissão do Henriquinho (como é chamado o ex-ministro na intimidade). O presidente, citado injusta, mentirosa e irresponsavelmente, não deixaria, por coerência, Henriquinho sair só por isso. Seria paradoxal com a indignação do governo com essas mentiras. Seria referendar essas mentiras. Ele saiu por outros motivos”, registrou a fonte, segundo o jornalista.
O ex-ministro do Turismo, segundo esse relato, é alvo de outras investigações e delações premiadas – como a de Fábio Cleto, nomeado pela presidente Dilma para a Caixa Econômica a pedido do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), primeiro réu da Lava Jato com foro privilegiado. As informações vindouras dão conta de que Henrique Alves, a exemplo de Cunha, possui contas não declaradas no exterior.
“São denúncias cabeludas”, nas palavras de outro ministro, ainda segundo o jornalista.
Leia a carta de Henrique Alves a Temer:
“Excelentíssimo Senhor Presidente Michel Temer,
O momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior. O PMDB, meu partido há 46 anos, foi chamado a tirar o Brasil de uma crise profunda. Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional. Assim, com esta carta entrego o honroso cargo de Ministro do Turismo.
Estou seguro de que todas as ilações envolvendo o meu nome serão esclarecidas. Confio nas nossas instituições e no nosso Estado Democrático de Direito. Por isso, vou me dedicar a enfrentar as denúncias com serenidade e transparência nas instâncias devidas.
Pensei muito antes de tomar esta difícil decisão, porque acredito que o Turismo reúne as melhores condições para ajudar o Brasil a enfrentar o momento difícil que vive. Esta foi a motivação que me levou a voltar ao comando do Ministério depois de tê-lo deixado por uma questão política, de coerência partidária.
Acredito ter honrado os desafios do setor no pouco mais de um ano que estive no Ministério do Turismo. Registramos conquistas importantes como a isenção de vistos para países estratégicos durante a Olimpíada e Paralimpíada, a redução do imposto de renda para o turismo internacional e a execução de obras de infraestrutura turística em todas as regiões, para citar alguns exemplos.
Presidente Michel, agradeço à sua sempre lealdade, amizade e compromisso de uma longa vida política e partidária, sabendo que sempre estaremos juntos nessa trincheira democrática em busca de uma nação melhor. A sua, a minha, a nossa luta continuam. Pelo meu Rio Grande Norte e pelo nosso Brasil.
Respeitosamente,
Henrique Eduardo Alves”
A carta de Temer a Henrique Alves:
“Caro amigo Henrique Eduardo Alves,
Agradeço a dedicação e lealdade que sempre permeou nossa relação pessoal e no campo político. Quero registrar o profícuo trabalho que desenvolveu neste período no Ministério do Turismo, seu afinco e envolvimento para melhorar essa indústria tão importante para trazer divisas para o Brasil. Foi importantíssima sua passagem e seu legado será longo, como poderemos verificar durante os Jogos Olímpicos.
Como companheiro de jornada dentro de nosso partido ao longo de décadas, quero registrar sua dedicação as causas que abraçamos, das quais continuamos acreditando, para levar o Brasil aos rumos que merecem ser trilhados para devolver esperança à população e propiciar o retorno do crescimento econômico, do desenvolvimento e da justiça social.
Muito obrigado por tudo
Michel Temer
Presidente da República em exercício”