William I. Robinson, em seu livro América Latina y el capitalismo global: una perspectiva crítica de la globalización (Ed. Siglo XXI, México, 2005), afirma que, mais que uma crise econômica, enfrentamos uma “crise da humanidade”.
No prefácio à edição em espanhol, de 2015, ele chama a atenção para a realidade atual: estamos vivendo momentos de grande comoção, incluindo a verdadeira possibilidade de um colapso, assim como a ameaça crescente dos sistemas repressivos de controle social para conter as contradições explosivas de um capitalismo global que causa profunda deslocação estrutural, ambiental e cultural (tradução livre).
Segundo Robinson, a crise se caracteriza por seis aspectos. Rapidamente os registro aqui: 1) Ecológico – “O sistema chega rapidamente aos limites ecológicos da sua reprodução; possivelmente chegaremos a um ponto sem retorno”; (2) Desigualdades globais sem precedente; (3) “A magnitude dos meios de violência, o alcance deles, e sua concentração em mãos de pequenos grupos poderosos, sem precedentes na história”; (4) “Estamos chegando ao limite da expansão extensiva e intensiva do sistema capitalista […] Já não há mais territórios para conquistar, o capital alcança em profundidade jamais vista e toda a vida social se mercantiliza”; (5) Aumentam as filas dos marginalizados: os que não têm acesso ao trabalho são condenados a serem “supérfluos”, sujeitos a “sofisticados sistemas de controle e repressão – até o genocídio – enfrentando um ciclo de perdas-exploração-exclusão”; e (6) O colapso econômico de 2008 mostrou o desajuste entre a globalização econômica e a autoridade baseada em um Estado-Nação.
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Desses seis aspectos, comento o segundo: as desigualdades.
A Oxfam publicou relatório no início deste ano em que informa que os oito (bilionários) homens mais ricos do mundo controlam a mesma riqueza que a metade mais pobre da população do mundo (Larry Elliott, The Guardian, http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/As-oito-pessoas-mais-ricas-do-mundo-tem-a-mesma-riqueza-que-os-50-mais-pobres-/7/37577).
São eles (homens e brancos): Bill Gates, da Microsoft; Amâncio Ortega, da cadeia de moda espanhola Inditex; Warren Buffet, investidor e chefe executivo do Berkshire Hathaway; Carlos Slim Helú, telecomunicações e dono do conglomerado Carso; Jeff Bezos, da Amazon; Mark Zuckerberg, do Facebook; Larry Ellison, da Oracle; e Michael Bloomberg, da Bloomberg, agências de notícias e serviços de informação financeira.
Esses homens têm em comum o domínio da informação, da tecnologia e da especulação financeira. O mesmo têm os bilionários brasileiros, os irmãos Marinho, donos da Rede Globo.Esta desigualdade ameaça a paz e a estabilidade social no mundo. No Brasil, os três maiores bancos, Itaú, Bradesco, e Santander, lucraram em 2016 mais de 45,5 bilhões de reais. Enquanto isso, cerca de 15 milhões de pessoas (homens e mulheres) estão desempregados, e a grande maioria dos empregados recebem o equivalente a um salário mínimo.
Importante dizer que os acionistas destes bancos não pagam imposto de renda. Os lucros de bancos são distribuídos como dividendos e os dividendos foram excluídos, no governo FHC (PSDB), do pagamento de imposto de renda.
Alguns podem estar perguntando ou cobrando, por que o PT no seu período de governo não passou a cobrar. Simplesmente porque não conseguiu maioria para aprovar isso no Congresso Nacional.
O Relatório Mensal sobre a Política Fiscal do Banco Central do Brasil registra que, ao longo do mês de fevereiro, o total de juros pagos pelo governo brasileiro atingiu o montante de R$ 30,7 bilhões. No acumulado dos últimos 12 meses, a União transferiu ao setor financeiro R$ 388 bilhões (Kliass, P., A ditadura do superávit primário, disponível em http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-ditadura-do-superavit-primario/7/37916).
O capital financeiro deseja a destruição dos Estados-Nação. Para o capital, é importante o não-Estado, onde não haja regras (Constituição e Leis). Assim, pode atuar com liberdade total, impondo suas regras, entre elas a da superexploração do trabalho, por isso a destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários.
Por tudo isso devemos dizer não às ‘reformas” trabalhista e previdenciária.
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