Segundo o coordenador nacional do MBL, Alexandre Santos, a ação do MTST é uma tentativa de desmantelar o acampamento do movimento anti-Dilma. Com cerca de 30 barracas e 50 manifestantes, o grupo foi autorizado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a fixar estruturas no local – embora um ato conjunto da Câmara e do Senado proíbam atividades do tipo na área, tombada como patrimônio histórico da Humanidade. Com faixas pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, eles dizem que ficarão no gramado até o peemedebista decidir pelo acolhimento do pedido de afastamento.
Leia também
“Ontem , o líder do governo ameaçou a gente em plenário. Aí hoje chega esse movimento, que é aparelhado pelo governo. Eles [os manifestantes do MTST] estão querendo desestabilizar o nosso movimento, estão querendo impedir o nosso movimento”, disse Alexandre Santos. Nesta quarta-feira (27), o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), chamou, na tribuna, os manifestantes do MBL de “vagabundos”.
Ao chegar por volta das 15h30, os sem-teto começaram a montar suas barracas do lado esquerdo do gramado, voltados ao Senado. Pouco tempo depois, mobilizaram-se em direção às barracas do MBL. A alteração causou furor entre os integrantes dos movimentos, que, em roda, discutiam sobre as fronteiras de cada ocupação. Apesar da resistência de Alexandre, o MTST acabou se instalando atrás das barracas do MBL. “Não pode misturar, se não vai dar confusão”, disse a liderança do MBL.
Contrariando as ressalvas de Alexandre, a coordenadora do MTST, Ulianne Costa, disse que a presença dos manifestantes no gramado não está relacionada a apoio à presidente Dilma. Segundo ela, eles estão ali para pressionar os senadores durante votação do Projeto de Lei da Câmara 101/2015, que tipifica o crime de terrorismo. Previsto para entrar em votação nesta quarta-feira (28), o texto afeta diretamente as causas populares, pois, segundo ela, poderá enquadrar como criminosas as ações dos movimentos sociais.
“Não tem nada a ver com o impeachment da Dilma. Estamos aqui pela lei do terrorismo. A gente vai ficar aqui, acampado, até esse projeto ser votado”, disse ela.
Publicidade Quanto à ocupação, Ulianne nega que a mudança de “setor” do acampamento tenha sido provação ao MBL. Segundo ela, a Polícia Legislativa recomendou a mudança, fato que foi confirmado pela reportagem com os policiais que estavam no local. De acordo com os policiais, os dois grupos não poderiam ocupar o gramado, mas, como já há ocupação, eles recomendaram que os manifestantes ficassem concentrados em um só local. A Polícia Legislativa não soube dizer se os grupos serão retirados de lá.
Norma violada
Instalações no gramado em frente ao Congresso são proibidas desde 2001, quando os presidentes da Câmara, o então deputado Aécio Neves (PSDB-MG), e do Senado, Edison Lobão (PMDB-MA), assinaram um ato conjunto vedando “edificação de construções móveis, colocação de tapumes, arquibancadas, palanques, tendas ou similares na área compreendida entre o gramado e o meio fio anterior da via de ligação das pistas Sul e Norte do Eixo Monumental”.
No entanto, Cunha autorizou a estada dos manifestantes do MBL. Para a liderança do MTST, o presidente da Câmara abriu precedente e terá que conceder a mesma autorização ao sem-tetos. “Com autorização, pode. Então, também queremos uma. Se eles podem, a gente também pode”, disse a coordenadora do movimento.
Com a chegada dos sem-teto, a Polícia Militar também se fez presente e cercou as redondezas do Congresso. Enquanto o acampamento era montado, os militantes soltavam fogos e cantavam “ocupar, resistir e morar aqui”.