O Ministério Público Federal em São Paulo pediu à Polícia Civil que investigue as ameaças, inclusive de morte, feitas recentemente contra o jornalista Leonardo Sakamoto. Conselheiro da ONU para a área de trabalho escravo, Sakamoto virou alvo de tentativas de intimidação desde que um jornal mineiro divulgou uma entrevista falsa atribuída a ele, no começo deste ano. Após o jornalista desmentir ser o autor das declarações – como a de que os aposentados são “inúteis à sociedade” –, o jornal Edição do Brasil reconheceu que houve fraude na entrevista, alegando que foi enganado por uma pessoa que se passou por assessora de Sakamoto.
Mas o material já havia sido compartilhado nas redes sociais, gerando manifestações de indignação e ódio. Segundo o jornalista, que é doutor em Ciência Política, os constrangimentos não se limitam ao ambiente virtual. Sakamoto relata sofrer abordagens ameaçadoras em locais públicos, como estabelecimentos comerciais e nas ruas, onde pessoas o agridem verbal e fisicamente.
Ele conta que os ataques começaram ainda no final de 2014, em razão de sua militância na defesa dos direitos de minorias e no combate ao trabalho escravo. “Essas difamações ficam meses e anos na internet, sobrevivendo de incautos. É conteúdo que, difundido por pessoas e grupos que promovem o ódio e a intolerância, municia pessoas sem discernimento. Que, no limite, fazem justiça com as próprias mãos”, afirma o jornalista.
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Responsável pelo pedido de investigação, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Pedro Antonio de Oliveira Machado, avalia que o Brasil ainda é um país hostil quando se trata de segurança aos profissionais de imprensa. Relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras de 2016 aponta o Brasil como o 104º colocado no ranking mundial da liberdade de imprensa, índice formado a partir de critérios como pluralidade e independência da mídia, transparência governamental, marco legal e abusos contra jornalistas.
“A situação denunciada merece atenção e investigação, em razão do drama e da situação grave vivenciada pelo jornalista, e também porque a liberdade de imprensa, de expressão e de opinião são conquistas civilizatórias e atributos inerentes a uma verdadeira democracia”, afirma o procurador.
As ameaças na internet vinham acompanhadas de comentários de pessoas que diziam ter a intenção de matar o jornalista, que mantém um blog no UOL. O Facebook excluiu algumas páginas que promoveram o ódio contra ele, mas outras continuam online.
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