A exemplo do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), para quem a cultura da impunidade no Brasil gerou um país de “ricos delinquentes”, o juiz Sérgio Moro e o ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo discursaram ontem (sábado, 13) em evento de debates realizado em Londres, na universidade London School of Economics. E, a medir pela temperatura da plateia, reproduziram na Inglaterra um microcosmo da crise brasileira multifacetada que tem dividido o país nos últimos anos.
Como aconteceu com Barroso na hora em que relatou a “normalidade institucional” no Brasil, Moro foi vaiado – mas, ao contrário do ministro, também foi ovacionado ao subir ao púlpito para sua intervenção, segundo relato do jornal Folha de S.Paulo. Mais em evidência do que nunca depois do interrogatório ao ex-presidente Lula, na última quarta-feira (10), no âmbito da Operação Lava Jato, Moro dividiu a plateia que lotou o auditório reservado para o evento.
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Em mais um retrato manifesto do que se passa no Brasil, quando se ouvia vaias a Moro, aplausos eram direcionados a Cardozo, e vice-versa. Explica-se: ambos debateram entre si diante do auditório lotado, com pessoas sentadas no chão ou de pé, uma vez que os assentos foram todos preenchidos. Defensor da ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment, Cardozo era aplaudido por quem considera o afastamento um golpe parlamentar, enquanto Moro era exaltado por simpatizantes de sua conduta em julgamentos de casos de corrupção.
“Não defendo nada além da aplicação ortodoxa da lei penal, que permite essa medida em casos excepcionais”, disse Moro, que concentrou sua fala no tema da aplicação da lei penal.
Já Cardozo relatou sua experiência no processo de impeachment. “O impeachment tem sido usado como maneira de substituir governos impopulares na América Latina, alguns sem fundamento”, disse, reafirmando a tese de golpe e da fragilidade democrática no país. “Os poderes estão em conflito aberto.”
Fla x Flu político
O juiz e o advogado falaram por volta das 17h de Londres (13h no horário de Brasília), no encerramento do Brazil Forum 2017, rodada de debates concebida para estudantes brasileiros – 350 pessoas foram inscritas, com esgotamento de ingressos. Mas, apesar do clima de Fla x Flu político, o confronto de ideias foi em tom cordial.
“Não sei se alguém esperava um confronto. Não dei nenhuma cotovelada nele. É uma tolice, como se não pudéssemos dividir um espaço e conversar”, declarou Moro, no relato do jornal paulista.
“Moro concentrou sua fala em questões de aplicação da lei, em grande parte abstratas. Ele justificou, por exemplo, a necessidade de prisões preventivas. ‘Não defendo nada além da aplicação ortodoxa da lei penal, que permite essa medida em casos excepcionais’, disse. Cardozo, por sua vez, afirmou que ‘o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe’ baseado em ‘acusações pífias’, pelo que foi recebido por ruidosas palmas. ‘O impeachment tem sido usado como maneira de substituir governos impopulares na América Latina, alguns sem fundamento’”, diz trecho da reportagem.
“A tensão entre participantes e plateia foi palpável durante todo o dia. O ministro do Supremo Luís Roberto Barroso foi chamado de ‘golpista’, enquanto o ex-ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi interrompido por um grito de ‘demagogo’”, acrescenta o texto assinado por Diogo Bercito, enviado especial a Londres, e Leão Serva, colunista do jornal.
Diversas personalidade brasileiras foram convidadas para o evento, organizado a muitas mãos por escritórios de advocacia, embaixada brasileira em Londres, empresas como Uber e Latam e a Fundação Lemann, fundada em 2002 pelo empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann. Entre os convidados estavam o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes. Neste domingo (14), o debate terá continuidade na Universidade de Oxford, uma das mais renomadas instituições de ensino do Reino Unido.
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